Os analistas não excluem que a crise cambial na Turquia se alastrará aos mercados emergentes e, finalmente, causará um colapso financeiro global.
Grande onda
Como resultado, somente nos últimos dias a taxa cambial da lira desmoronou em mais de 25%. O Banco Central turco anunciou medidas de emergência, prometendo fornecer liquidez ao setor financeiro. Para isso o regulador planeja gastar cerca de US$ 10,5 bilhões (cerca de R$ 40 bilhões) em reservas.
"A queda da taxa cambial da lira é, sem dúvida, um ataque claro e planejado conduzido pelo maior participante do sistema financeiro", disse o ministro das Finanças turco, Berat Albayrak.
Enquanto as autoridades preparavam um plano de resgate, a moeda nacional continuou a cair, e somente no dia 14 de agosto recuperou parcialmente sua posição — a taxa subiu 6% depois de uma queda de 14% nos dois dias anteriores — após a declaração do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sobre o boicote da Turquia aos produtos eletrônicos dos Estados Unidos. No entanto, a lira continua a ser negociada contra o dólar perto dos valores recordes mais baixos, e o colapso nesse meio tempo se espalhou para vários mercados emergentes.
Por quem começará a crise?
O efeito dominó já pode ser sentido. Segundo os economistas, a situação atual nos mercados está bem dentro de um dos cenários mais prováveis para o surgimento de uma nova crise global, podendo ela ser provocada por divergências geopolíticas exacerbadas até o limite. A situação atual é muito semelhante ao que aconteceu há duas décadas e precedeu o colapso de 1998.
Tudo começou na Ásia, quando o mercado acionário da Tailândia entrou em colapso, espalhando a crise para a Indonésia, Filipinas, Malásia e Coreia do Sul. Os investidores saíram maciçamente das dívidas arriscadas das economias emergentes.
No entanto, nem todos os especialistas concordam que a situação na Turquia seja tão crítica para a economia mundial. O estrategista-chefe de câmbios do Saxo Bank, John Hardy, disse à Sputnik que o país turco tem apenas "algum impacto sobre outras economias emergentes vulneráveis, como a África do Sul", e que é improvável que cresça para algo maior — a menos, é claro, que por alguma razão cause um pânico em larga escala entre os investidores. O analista não vê tais razões porque nos últimos meses a lira atingiu repetidamente baixas históricas em relação ao dólar e ao euro.
Menos sujeitos a default
Embora os mercados emergentes sejam geralmente sempre os primeiros a sofrer com os processos globais negativos, os especialistas também apontam para outro fator que permitirá evitar o efeito dominó. Como foi demonstrado pela recente pesquisa de Harvard, as economias em desenvolvimento não são assim tão indefesas.
O nível de default em 2011 foi relativamente baixo para um período de contração dos fluxos de capital, de acordo com os economistas Carmen Reinhart e Vincent Reinhart, da empresa de gestão de investimentos Standish Mellon, e Christoph Trebesha, do Instituto de Economia Mundial de Kiel, na Alemanha.
Além disso, os países em desenvolvimento com maior risco se tornaram resistentes a apertos da política monetária reduzindo os déficits comerciais e orçamentários.
Os analistas concluem: a crise em uma economia isolada não causará mais uma reação em cadeia. Os defaults soberanos se tornarão menos amplos, mais isolados e não causarão as consequências sistêmicas anteriores.
Quanto ao rublo, a moeda russa estabilizou e os investidores fizeram uma pausa, mas apenas até o final de agosto. Em setembro, o rublo está aguardando outro teste — devido a novas restrições de Washington.
O projeto de lei sobre as próximas sanções implica a proibição de operações com bancos estatais e investimentos em títulos de dívida do governo da Rússia.