Quais são os interesses em jogo no fórum entre China e África?

© AP Photo / How Hwee YoungFileira da frente, da esquerda para a direita: o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa; o presidente da China, Xi Xinping; o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi. Fileira intermediária, da esquerda para a direita: o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta ; o presidente do Togo, Faure Gnassingbé; o presidente do Malawi, Arthur Peter Mutharika; o presidente de Guiné-Bissau (José Mario Vaz). Fileira do fundo, da esquerda para a direita: o presidente de Serra-Leoa, Julius Maada Bio; o presidente da Libéria, George Weah; e outros líderes africanos durante Fórum Sino-Africano de Cooperação (FOCAC), em Pequim, 2018.
Fileira da frente, da esquerda para a direita: o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa; o presidente da China, Xi Xinping; o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi. Fileira intermediária, da esquerda para a direita: o presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta ; o presidente do Togo, Faure Gnassingbé; o presidente do Malawi, Arthur Peter Mutharika; o presidente de Guiné-Bissau (José Mario Vaz). Fileira do fundo, da esquerda para a direita: o presidente de Serra-Leoa, Julius Maada Bio; o presidente da Libéria, George Weah; e outros líderes africanos durante Fórum Sino-Africano de Cooperação (FOCAC), em Pequim, 2018. - Sputnik Brasil
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Começou na segunda-feira (3) o Fórum sino-africano de Cooperação, em Pequim, que reúne 54 países africanos para negociar acordos com a China. A Sputnik Brasil conversou com Jonuel Gonçalves, especialista em países africanos e professor da UFF.

Recentemente a China tem aumentado sua presença no continente africano em diversas áreas da vida econômica. Com pesados investimentos em infraestrutura nos países do continente, a China é um importante parceiro comercial de boa parte das nações africanas. 

Angola, por exemplo, vende boa parte de seu petróleo para os chineses e a União Africana, organização continental que reúne os países da África, teve sua sede construída pela China. Entre indústrias e ferrovias, os interesses chineses, no entanto, têm levantado suspeitas.

África (imagem referencial) - Sputnik Brasil
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É o que o explica o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), Jonuel Gonçalves.

"Muita gente acha que não é proteção. Acha que é política de grande potência que com muita inteligência olhou para a África e entendeu que a África poderia ser mercado para produtos chineses, que são produtos de baixo custo", enfatiza o pesquisador.

Ele explica que o tipo de produtos dos chineses é de interesse das populações dos países africanos, nações cuja maioria segue subdesenvolvida ou em desenvolvimento.

"E por outro lado a África pode oferecer à China aquilo que ela não tem, que são matérias primas fundamentais. A China tem uma grande vulnerabilidade no setor energético, por exemplo, daí ter relações muito estreitas sobretudo com países produtores de petróleo", continua.

Essa política, explica, cria divergências entre os pesquisadores e observadores internacionais, pois a África tem sido alvo de países em busca de matéria-prima há séculos. Uma política, diz Jonuel Gonçalves, que inclusive o Brasil já praticou quando, durante o governo Lula, empreiteiras e mineradoras brasileiras avançaram com negócios sobre a África.

Negociação também traz benefícios aos africanos

Para o professor, no entanto, a situação econômica de diversos países africanos é grave, o que os coloca em uma posição de êxito diante das negociações que atendam também às suas necessidades.

"[A África] tem mesmo que negociar com a China porque a China tem excedente de capital e a África tem déficit de capital. Por outro lado, a China faz empréstimos a juros muito mais baixos que o mercado internacional e até mesmo que o Fundo Monetário Internacional (FMI)", lembra o professor.

O Fórum sino-africano despertou grande interesse das nações africanas. Entre os 55 países do continente, apenas um não está presente no encontro, a antiga Suazilândia que agora se chama eSwatini. O motivo é que o país mantém relações bilaterais com Taiwan, o que fere a política externa chinesa.

Presidente da Comissão da União Africana Moussa Faki Mahamat, à esquerda, posa ao lado do ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Wi, à direita. Encontro aconteceu em Pequim, no dia 8 de fevereiro de 2018. - Sputnik Brasil
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O pesquisador explica que apesar do esforço chinês, a China não é o país que mais investe no continente, tendo suas relações voltadas às questões comerciais. Entre os que mais investem, estariam a França e até recentemente a Malásia. Os dois têm, principalmente os franceses, um grande número de empresas no continente.

Porém, o presidente chinês, Xi Jinping, prometeu durante o Fórum um acréscimo de US$ 60 bilhões em investimentos no continente. Mesmo este movimento, informa Jonuel, também pode ser visto de duas formas. Por um lado, os países africanos precisam melhorar e recuperar sua infraestrutura e, por outro, atende aos interesses chineses em relação ao escoamento de matéria-prima.

O pesquisador também explica que a China realiza as negociações neste Fórum orientada por três programas: as metas do milênio da Organização das Nações Unidas (ONU); o programa da União Africana, a Agenda 2063; e o programa chinês da Nova Rota da Seda.

Historicamente espoliada pelas potências europeias, a África negocia com o que pode diante de uma nova super-potência e espera assim livrar-se da miséria e acertar-se com o futuro, conforme desenhado em sua agenda continental.

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