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Bolsonaro é mais perigoso para Brasil que Trump para EUA, assegura especialista

© REUTERS / Ricardo MoraesJair Bolsonaro, candidato à Presidência do Brasil, coloca seu voto, em 7 de outubro de 2018
Jair Bolsonaro, candidato à Presidência do Brasil, coloca seu voto, em 7 de outubro de 2018 - Sputnik Brasil
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Na sequência da apuração dos votos no 1º turno das presidenciais brasileiras, que indicou a luta final entre os dois antagonistas – Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), a Sputnik falou com um cientista político russo sobre os paralelos que o pleito traça com as eleições de 2016 nos EUA e os prognósticos para o futuro.

O resultado de mais de 46% para Bolsonaro, com 99% das urnas apuradas, surpreendeu bastante — especialmente tomando em conta que nas vésperas da votação a previsão nas pesquisas variava entre 39% e 41% para o candidato. Aliás, o crescente apoio à figura de Ciro Gomes (PDT) nas redes sociais, por ele representar uma espécie de "terceira via" para os eleitores, também foi algo que se esperava "tiraria" votos ao atual líder da corrida.

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De acordo com o cientista político especializado em assuntos latino-americanos da Universidade Estatal de São Petersburgo, Viktor Jeifets, há efetivamente vários fatores que decidiram esse contraste entre as pesquisas e a realidade, em que Bolsonaro quase vencia sem segundo turno na 1ª apuração, com 49% dos votos.

"Primeiro, alguns eleitores indecisos acabaram votando nele. Segundo, provavelmente uma parte daqueles que pretendiam colocar seu voto nele dizia mentira para sociólogos, pois sentiam vergonha de declarar seu voto por esse candidato", opina.

Em opinião do especialista, a popularidade do capitão não é de fato sua própria popularidade, mas a rejeição dos outros.

"Tem que perceber que o voto em Bolsonaro, bem como em Haddad, a propósito, é um voto contra. Ou seja, aqueles que votaram em Haddad, acima de tudo não queriam que Bolsonaro ganhasse, enquanto o eleitorado de Bolsonaro rechaçou categoricamente uma vitória petista", diz Jeifets.

Em uma situação em que o eleitor se depara com dois projetos antagonistas em confronto, cada um dos quais trará evidentemente certa perturbação social ao país, o especialista acredita que a vitória do capitão de qualquer maneira seria pior para o Brasil.

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"A meu ver, é absolutamente evidente que Bolsonaro seria uma versão menos favorável, até porque é um candidato que despreza completamente uma parte significante do seu país. Eu não avaliaria a possível eficácia das suas propostas econômicas, porque elas, propriamente ditas, podem ser bastante boas. Mas um candidato que de fato se manifesta abertamente como um divisionista não pode ser bom […] Aliás, teria uma política externa absolutamente imprevisível", acredita o politólogo.

Ao responder à pergunta se a retórica do Bolsonaro é apenas uma estratégia para chamar atenção à sua figura, como aconteceu no caso de Donald Trump nas eleições de 2016 nos EUA, Jeifets sublinha que este "não é o primeiro dia na política" para o capitão, que inclusive tem feito declarações da mesma espécie durante seus sete mandatos como deputado.

'Trumpismo' no Brasil?

Jair Bolsonaro é um político que muitas vezes é comparado a outra figura esdrúxula, Donald Trump, que inesperadamente para todo o mundo derrotou a democrata Hillary Clinton nas presidenciais de 8 de novembro em 2016. As respectivas observações aparecem especialmente na imprensa internacional.

O especialista observa, na conversa com a Sputnik Brasil, que obviamente há semelhanças entre os dois políticos, embora haja diferenças decisivas também.

"Aqui se pode traçar paralelos em que [Bolsonaro] é, com certeza, um candidato antissistema [fora do sistema político]", diz, citando como exemplo as declarações tendenciosas do candidato em relação às mulheres, à população negra, como foi no caso dos quilombolas, às minorias sexuais e o "saudosismo" pela época da ditadura militar.

"Em meio à crise e ao desenfreio maciço da criminalidade, isso, a propósito, funciona, muitos estão dispostos [em votar nessa candidatura]. Além disso, ele se manifesta a favor da economia liberal de mercado, o que significa que grande parte dos investidores o veem como ameaça menor que um potencial governo de Haddad. É por isso também que grande parte dos veículos de comunicação brasileiros ficaram do lado de Bolsonaro", explica.

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Entretanto, sublinha o interlocutor da Sputnik, existe uma distinção crítica entre os casos estadunidense e brasileiro — o chamado sistema interno de "pesos e contrapesos".

"Há uma distinção muito séria de Trump — consiste em que as instituições políticas norte-americanas são muito mais sólidas que as brasileiras, e nesse sentido a vitória de Trump foi um terremoto político, sim, mas a meu ver ela não colocou em risco o sistema democrático dos EUA. Enquanto no caso de uma possível vitória de Bolsonaro, não se pode fazer este prognóstico com toda a certeza, pois as instituições democráticas brasileiras são muito menos sólidas", opina Jeifets.

Derrota do centro

Outro resultado sintomático do primeiro turno, que nem todos prognosticavam nessas proporções, foi o colapso de fato dos candidatos do centro.

"É uma derrota absoluta de todos os partidos do centro, seus candidatos de fato não obtiveram nada. Se trata do descrédito das atuais elites políticas que não conseguiram lidar com a crise econômica, que não conseguiram tratar dos problemas de corrupção e se atolaram neles. Nesse contexto, Bolsonaro, sendo um candidato antissistema, conseguiu aglutinar da melhor forma esses sentimentos", afirma.

Já Haddad, acredita o especialista, não conseguiu "se isolar da sombra de Lula" e mostrar que é um candidato independente, o que lhe custou alguns votos. Para reverter a situação, diz Jeifets, o petista precisa demonstrar nestas três semanas antes da eleição que é "independente", o que, porém, não seria uma tarefa fácil, pois ele não pode "se mover muito ao centro" e "perder os votos do Nordeste".

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"Seu objetivo é convencer aqueles que não votaram, ou aqueles que votaram contra ambos, ou votaram branco. Essa é a reserva dele", manifesta.

Ao explicar porque os antipetistas decidiram votar no número 17, e não em qualquer outro candidato dos demais onze, Jeifets afirma:

"Pois ele [Bolsonaro] demonstrou da melhor forma que está fora do sistema. Nenhum dos outros candidatos podia dizer que é contra o sistema, porque eles todos fazem parte dele. E nesse sentido é muito sintomática a derrota de Alckmin, que anteriormente já foi candidato e perdeu para Lula […] Ele deveria ter ganho até 10%, mas obteve 4% [4,8% com 99% dos votos apurados], porque muitos foram votar de acordo com o princípio de ‘voto útil' sem esperar pelo segundo turno."

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