Enfrentando uma situação econômica difícil, Caracas tem vendido suas reservas de ouro, que diminuíram nos últimos anos em mais de 200 toneladas e continuam a se reduzir.
Parte do ouro venezuelano permanece guardado no Reino Unido. O pedido de repatriar o metal precioso foi transmitido ainda pelo ex-presidente Hugo Chávez, e o Reino Unido devolveu a maior parte das barras de ouro, mas nos últimos meses começaram os problemas, sublinha Anton Krylov, colunista do jornal russo Vzglyad.
"As chances de a Venezuela receber de volta suas 14 toneladas de ouro […] parecem uma miragem. O Reino Unido bem poderá se referir aos objetivos [para uso do ouro] pouco claros como pretexto e se recusar a devolver o ouro até uma mudança do poder", comenta Krylov.
Mesmo que à primeira vista não haja correlação, a recusa de Londres afeta diretamente a economia russa, opina o autor do artigo.
Primeiro, a Rússia é um dos principais compradores de ouro no mundo, inclusive de ouro venezuelano. No terceiro trimestre deste ano o Banco Central da Rússia adquiriu um recorde de 92,2 toneladas de ouro, tendo suas reservas ultrapassado pela primeira vez as 2.000 toneladas, lembra o analista.
A segunda razão pela qual as sanções contra Venezuela e a recusa de Londres de devolver seu ouro afetam a Rússia é a estreita cooperação econômica entre Moscou e Caracas, indica Krylov.
Assim, desde 2014, a estatal de petróleos venezuelana PDVSA recebeu pagamentos adiantados da empresa petrolífera russa Rosneft pelo fornecimento de petróleo e produtos petrolíferos no valor de 6,5 bilhões de dólares (R$ 24,48 bilhões).
No terceiro trimestre de 2018, a dívida da Venezuela perante a Rússia diminuiu para 3,1 bilhões de dólares e o país está interessado em que Caracas se mantenha apta a pagar. Por isso, enfatiza o autor, quaisquer ações dirigidas contra a economia venezuelana ameaçam os interesses russos.
"Daí, da próxima vez a Inglaterra, por exemplo, poderá se recusar a pagar pelo gás russo até que a [gigante do gás russa] Gazprom preste explicações sobre como irá gastar o dinheiro pago", ironiza o colunista.
Recusando devolver 14 toneladas de ouro venezuelano, Londres rejeita os princípios do comércio internacional que se formaram há muito tempo, conclui a matéria, podendo criar dificuldades para a própria economia britânica.