Como recusa de Londres de devolver ouro venezuelano afeta interesses da Rússia

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Em meio às sanções americanas, o governo venezuelano pretende repatriar 14 toneladas de barras de ouro no valor equivalente a US$ 550 milhões do Banco da Inglaterra. Mas Londres não tem pressa em atender o pedido do país latino-americano. Analista indica como a recusa do Reino Unido de devolver o ouro venezuelano ameaça os interesses russos.

Enfrentando uma situação econômica difícil, Caracas tem vendido suas reservas de ouro, que diminuíram nos últimos anos em mais de 200 toneladas e continuam a se reduzir.

Parte do ouro venezuelano permanece guardado no Reino Unido. O pedido de repatriar o metal precioso foi transmitido ainda pelo ex-presidente Hugo Chávez, e o Reino Unido devolveu a maior parte das barras de ouro, mas nos últimos meses começaram os problemas, sublinha Anton Krylov, colunista do jornal russo Vzglyad.

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, toca barras de ouro enquanto fala durante reunião com ministros responsáveis pelo setor econômico no Palácio de Miraflores, em Caracas, Venezuela, 22 de março de 2018 - Sputnik Brasil
Venezuela quer repatriar US$ 550 milhões em reservas de ouro do Reino Unido, relata mídia
O governo de Nicolás Maduro tentou recuperar o ouro antes de serem introduzidas novas sanções americanas, mas não deu certo. Em 1º de novembro, Donald Trump anunciou uma nova rodada de sanções contra a Venezuela, proibindo pessoas físicas e jurídicas americanas de comprarem ouro do país latino-americano. Agora o Banco da Inglaterra exige que o país explique como irá usar o metal precioso.

"As chances de a Venezuela receber de volta suas 14 toneladas de ouro […] parecem uma miragem. O Reino Unido bem poderá se referir aos objetivos [para uso do ouro] pouco claros como pretexto e se recusar a devolver o ouro até uma mudança do poder", comenta Krylov.

Mesmo que à primeira vista não haja correlação, a recusa de Londres afeta diretamente a economia russa, opina o autor do artigo.

Primeiro, a Rússia é um dos principais compradores de ouro no mundo, inclusive de ouro venezuelano. No terceiro trimestre deste ano o Banco Central da Rússia adquiriu um recorde de 92,2 toneladas de ouro, tendo suas reservas ultrapassado pela primeira vez as 2.000 toneladas, lembra o analista.

Ouro (imagem referencial) - Sputnik Brasil
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Ultimamente, o ouro tem sido procurado pelos países mais diversos do ponto de vista econômico e geográfico como, por exemplo, a Turquia, Cazaquistão, Índia, Polônia e Hungria, que também adquiriram ultimamente grandes quantidades deste metal precioso.

A segunda razão pela qual as sanções contra Venezuela e a recusa de Londres de devolver seu ouro afetam a Rússia é a estreita cooperação econômica entre Moscou e Caracas, indica Krylov.

Assim, desde 2014, a estatal de petróleos venezuelana PDVSA recebeu pagamentos adiantados da empresa petrolífera russa Rosneft pelo fornecimento de petróleo e produtos petrolíferos no valor de 6,5 bilhões de dólares (R$ 24,48 bilhões).

No terceiro trimestre de 2018, a dívida da Venezuela perante a Rússia diminuiu para 3,1 bilhões de dólares e o país está interessado em que Caracas se mantenha apta a pagar. Por isso, enfatiza o autor, quaisquer ações dirigidas contra a economia venezuelana ameaçam os interesses russos.

Barras de ouro - Sputnik Brasil
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Por fim, o próprio fato de o Reino Unido pedir à Venezuela para justificar a necessidade de recuperar o ouro pode dificultar a cooperação econômica internacional, acrescenta Krylov.

"Daí, da próxima vez a Inglaterra, por exemplo, poderá se recusar a pagar pelo gás russo até que a [gigante do gás russa] Gazprom preste explicações sobre como irá gastar o dinheiro pago", ironiza o colunista.

Recusando devolver 14 toneladas de ouro venezuelano, Londres rejeita os princípios do comércio internacional que se formaram há muito tempo, conclui a matéria, podendo criar dificuldades para a própria economia britânica.

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