De acordo com o professor de cibersegurança na Universidade de Ulster, Kevin Curran, o fato de os franceses tentarem descartar o Google não é algo de inesperado.
O especialista relembrou que a empresa "guarda dados sobre a localização de uma pessoa, sua história de busca, bem como a lista de aplicativos usados", e nenhuma outra companhia de fato tem acesso a tantas informações confidenciais.
"Nenhuma outra empresa guarda tantas informações confidenciais. Mesmo que a Google conseguisse provar a impossibilidade de serem acessadas, o fato de o Google armazenar informações sobre militares e agentes de serviços secretos mina evidentemente as iniciativas de defesa de qualquer país. Eu acredito que outros países também seguirão o exemplo francês", resumiu.
Vale ressaltar que o motor de busca francês Qwant, que a Assembleia Nacional e o Ministério da Defesa da França anunciaram como substituto do Google para os seus serviços digitais, foi criado em 2013 e não coleciona os dados sobre as buscas dos seus usuários.
Entretanto, alguns especialistas não partilham a elevada preocupação dos franceses quanto à cibersegurança. Assim, o assessor na área de estratégia digital alemão Lars Hilse acredita que é preciso sempre pagar pelas ferramentas de busca sofisticadas. O entrevistado da Sputnik chamou a atenção ao fato dos serviços da Google serem absolutamente grátis, apesar de seus acúmulos de dados pessoais sobre os usuários.
"Para prestar tais serviços, é preciso um volume significativo de infraestruturas e mão de obra. Tudo isso deve ser pago, o que neste caso é feito através da colocação de publicidade contextual que aparece nos resultados de busca do Google. Se a Google não estivesse usando os dados confidenciais para colocar publicidade contextual, os usuários não abririam os links, o que levaria à redução no número de empresas clientes e colocaria em risco todo o modelo de negócio", argumentou.
Segundo opina Hilse, hoje em dia a sociedade europeia tem uma tendência de prestar demasiada atenção às questões de confidencialidade sem "tomar em consideração as consequências".
O entrevistado também advertiu que, caso os governos europeus comecem a demonizar os EUA e a China visando proteger suas informações, então vão receber uma resposta espelhada.
O diretor associado e consultor da empresa LGMS, Fow Chee Kang, também duvidou que o novo sistema europeu ajude a resolver o dilema de cibersegurança francês.
"Do ponto de vista da cibersegurança, é apenas um sistema diferente do Google que vai ter acesso a seus dados", afirmou. "O uso deste sistema pode ajudar na defesa da soberania digital, mas se ele não passou por testes de segurança adequados a informação dos usuários pode acabar em acesso livre. Já nos deparamos com uma situação semelhante no caso de algumas grandes corporações tecnológicas", acrescentou o especialista.
Por outro lado, o analista acredita que se a França conseguir avanços na defesa da sua soberania digital, outros países europeus podem logo seguir este exemplo e se ocupar de seus próprios sistemas ou usar o francês mesmo.
Assim, resume ele, a soberania digital da França depende, em grande parte, da sua capacidade de substituir os equipamentos chineses e norte-americanos por seus próprios dispositivos.