Oficialmente, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, ainda não deu claros indicativos sobre o que pensa a respeito dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Mas, por meio de Temer durante a cúpula do G20, o presidente eleito teria informado aos demais parceiros do bloco que terá "enorme prazer" de recebê-los em 2019, quando o Brasil sedia a 10ª cúpula do grupo.
"É preciso considerar em dois níveis. No primeiro nível, existe no Itamaraty uma certa relação entre políticas de Estado e políticas de governo. Ou seja, por mais que haja mudança no executivo, o Itamaraty é um corpo de funcionários estatais que tende a manter uma certa continuidade, embora seja natural que todo governo imprima suas características e suas prioridades", declarou.
Por outro lado, de acordo com ele, "num segundo nível é preciso compreender como o governo Bolsonaro, o chanceler escolhido e alguns outros assessores e próximos do Bolsonaro, como o seu próprio filho, vão influenciar a tomada de decisão e as escolhas no âmbito internacional".
"Se nós tomarmos como indicativo as falas do presidente, as falas do ministro das Relações Exteriores, e do Eduardo Bolsonaro, a tendência é de um realinhamento frente aos EUA, um distanciamento do BRICS e do eixo sul-sul, deixando de ser prioritário na política brasileira, e também sem grande importância no âmbito da África e da América do Sul. É o que me parece", opinou o especialista.
Pautasso acredita que tal mudança de posicionamento pode afetar as relações bilaterais do Brasil dentro do bloco, em particular a China, que é hoje o maior parceiro comercial do Brasil.
Já o diretor-presidente da empresa de consultoria econômica Troia Intelligence, Ricardo Gennari, disse à Sputnik Brasil que as indicações de mudança na política externa do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro podem abrir novas perspectivas favoráveis de parceiros, citando Israel como exemplo.
"A gente tem que incluir [entre os novos parceiros do Brasil] Israel. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, já confirmou a vinda ao Brasil, onde vai ficar 5 dias, e claro que vai abrir algumas situações mais favoráveis. Um dos maiores parceiros nossos continuam sendo os EUA, é um parceiro superimportante, porém acho que na geopolítica, do meu ponto de vista, a gente vai ter algumas alterações", argumentou.
"Primeiro, porque nós estamos com R$ 150 bilhões de déficit. Então o próprio ministro Paulo Guedes [da Economia, no próximo governo] já vem falando que provavelmente a gente usará as reservas de dólar que nós temos para amenizar o problema econômico do Brasil", observou.
Ricardo Gennari, por outro lado, não deixou de destacar que o grupo BRICS é uma plataforma muito importante no âmbito dos negócios, inovação e investimentos.