Ao mesmo tempo, ele observou que a Rússia não irá ignorar o surgimento de novos mísseis dos EUA em caso de sua saída do Tratado INF e poderá fortalecer seu potencial de defesa.
"Temos que advertir: não podemos e não vamos ignorar o surgimento de novos mísseis norte-americanos que representem ameaça para nós e nossos aliados. Não deve haver nenhuma dúvida de que temos o necessário para garantir a própria segurança, além de sermos capazes de fortalecer nosso potencial de defesa", disse Lavrov à Sputnik.
O abandono do Tratado pelos EUA poderá seriamente prejudicar a segurança internacional e a estabilidade estratégica, acrescentou.
"No entanto, a Rússia, como qualquer país racional, não tem interesse na corrida armamentista e em novas 'crises de mísseis'", ressaltou o ministro das Relações Exteriores da Rússia.
"Apelamos a abandonar as tentativas de chantagem e a repetição de acusações infundadas, a favor de um trabalho conjunto, concreto e verdadeiramente construtivo, sobre as preocupações mútuas existentes. Propusemos oficialmente iniciar esse trabalho na recente carta de Sergei Shoigu ao chefe do Pentágono; propusemos repetidamente começar um diálogo profissional sobre o Tratado INF e nos contatos do Ministério das Relações Exteriores com o Departamento do Estado. Por enquanto, não há resposta", disse.
Segundo ele, na cúpula de Helsinque, em 16 de julho, a Rússia fez propostas concretas em relação à estabilidade estratégica e controle de armas.
"Infelizmente, por parte dos EUA, não vemos vontade de negociar conosco. Eles fogem do diálogo, não oferecem nenhumas garantias […] Estamos prontos para trabalhar em vários formatos com a participação de todos os países que reconhecem a sua responsabilidade pela paz e segurança", frisou o ministro.
"Temos que constatar que Washington e seus aliados, insistindo nas suas próprias ambições geopolíticas, não estão prontos para se adaptarem às realidades globais, que não estão mudando a seu favor. Daí surge o desejo de restringir esses processos de todas as maneiras e uma maior agressividade nos assuntos externos do que antes. Aumenta a confrontação, os canais de diálogo são congelados", disse o ministro, observando que os passos para destruir os grandes acordos internacionais da estabilidade estratégica são particularmente preocupantes.
O chanceler russo destacou que essa linha de confronto baseada na força inevitavelmente levará a um maior desequilíbrio da arquitetura de segurança global e contribui para a corrida armamentista.
Uma guerra entre a Rússia e os EUA poderia ser catastrófica para a humanidade, enfatizou Lavrov.
"Acho que todos no mundo compreendem bem: um conflito armado com a participação das duas principais potências nucleares – a Rússia e os EUA – terá consequências catastróficas para a humanidade. Não há nenhuma dúvida de que não existirá vencedores em uma guerra nuclear e que ela nunca deve ser desencadeada", disse.
Lavrov acrescentou que apesar de diferentes posições, a Rússia e os países ocidentais têm uma enorme parte da responsabilidade pelo futuro da humanidade e apelou aos líderes ocidentais para que ajam de forma previsível e cumpram estritamente o direito internacional.
Comentando à Sputnik a questão das eleições presidenciais, o ministro observou que à medida que se aproxima o pleito eleitoral de 2020 nos EUA, alguns políticos em Washington tentarão tirar da manga a "carta russa" de forma ainda mais insistente.
O principal problema das relações russo-americanas, segundo o chanceler russo, é que, para o establishment norte-americano, estas não têm valor em si, a Rússia é vista como um objeto, que é demonizado para disciplinar a Europa e manter o vínculo euro-atlântico.
"Sabemos quais são os países que os EUA conseguiram obrigar a cumprir esse papel. Evidentemente que isso não vai funcionar conosco", enfatizou Lavrov.
"Da nossa parte, damos valor às relações que estabelecemos com qualquer país. E estamos dispostos a agir do mesmo jeito com os EUA. O potencial de interação bilateral construtivo é imenso. Penso que nossos povos merecem algo melhor do que temos agora", disse o ministro.
Quanto aos contatos de alto nível, o presidente russo Vladimir Putin anunciou na cúpula do G20 em Buenos Aires que está aberto a se reunir com o presidente dos EUA, assim que a parte norte-americana estiver pronta. Ainda é difícil dizer onde e quando esse encontro poderá acontecer, concluiu.