O Tribunal Constitucional do Congo planeja emitir seu parecer sobre as eleições na sexta-feira (18) após Martin Fayulu pedir recontagem alegando fraude. Ele ficou em segundo lugar no pleito.
Manter o resultado pode desencadear a violência em um país que espera pela primeira transferência pacífica e democrática de poder desde a independência, em 1960.
O comunicado do bloco africano disse que chefes de Estado e governo concordaram em enviar "urgentemente" uma delegação de alto nível ao Congo para encontrar "uma saída para a crise pós-eleitoral" no vasto país centro-africano rico em minerais para smartphones e carros elétricos.
"Isso é realmente incrível", escreveu no Twitter Jason Stearns, diretor do Grupo de Pesquisa do Congo na Universidade de Nova York. "Normalmente, a União Africana delega para a sub-região… neste caso, eles mudaram dramaticamente."
O Congo enfrenta a extraordinária situação de uma eleição supostamente fraudada em favor da oposição. Não houve comentários imediatos do governo.
Dois conjuntos de dados vazados mostram que Fayulu ganhou a eleição por uma ampla margem, de acordo com uma investigação publicada esta semana pela Radio France International e outros meios de comunicação trabalhando com o Congo Research Group.
Fayulu, um parlamentar e empresário que fala abertamente sobre a limpeza da crescente corrupção do Congo, representa uma ameaça maior a Kabila, seus aliados e a vasta riqueza que acumularam. Tshisekedi, filho do carismático líder da oposição Etienne, que morreu em 2017, é relativamente inexperiente e disse pouco desde a eleição de 30 de dezembro.
A declaração da União Africana foi emitida depois que o ministro das Relações Exteriores e o vice-primeiro-ministro do Congo informaram "vários chefes de Estado e de governo" de todo o continente sobre a crise.
A pressão das nações africanas tem mais impacto sobre o governo do Congo, que ficou incomodado com a pressão do Ocidente após adiar as eleições presidenciais por dois anos.
A declaração da UA reflete uma séria preocupação dos Estados africanos com a possibilidade de instabilidade no país — e a possibilidade da situação se alastrar pela região.
Mas os países hesitaram em como lidar com a crise. A declaração da UA veio horas depois de as 16 nações da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral terem recuado de sua exigência anterior de uma recontagem eleitoral, em vez disso instando a comunidade internacional a respeitar a soberania do Congo.
A eleição no Congo deveria ter acontecido no final de 2016, e muitos congoleses temiam que Kabila, no poder desde 2001, buscasse uma maneira de permanecer no cargo. Impedido de cumprir três mandatos consecutivos, Kabila já deu a entender que poderia voltar a concorrer em 2023.
Os observadores eleitorais relataram vários problemas, incluindo o bloqueio de última hora de cerca de 1 milhão de eleitores no leste. A Comissão Eleitoral disse que a medida foi tomada por conta de um surto de Ebola.
Todos os resultados eleitorais, não apenas os presidenciais, foram amplamente questionados depois que a coalizão governista de Kabila conquistou a maioria em votos legislativos e provinciais, enquanto seu candidato à presidência terminou em um distante terceiro lugar.