Na noite de quinta-feira (21), por decisão de Maduro, a fronteira venezuelana com o Brasil foi completamente fechada, e na sexta-feira (22), a vice-presidente venezuelana, Delsy Rodríguez, anunciou o fechamento temporário de três pontes que ligam a Venezuela à Colômbia.
A Sputnik discutiu os recentes acontecimentos na Venezuela com Alan McPherson, professor de história e diretor do Centro de Pesquisa da Força e Diplomacia da Universidade Temple (EUA). De acordo com Alan McPherson, a atual política dos EUA em relação à Venezuela tem novas particularidades e, ao mesmo tempo, algo que já foi repetido pelos Estados Unidos muitas vezes durante intervenções nos assuntos da América Latina.
"Os Estados Unidos lideraram mudanças de regimes na América Latina durante séculos, e muitas de suas ações foram bem-sucedidas […] A meta verdadeira deles, aparentemente, seria o atingimento de fornecimento estável de petróleo ao mercado norte-americano, mas eles usam a fachada da democracia e dos direitos humanos", afirmou McPherson.
"Os EUA enviavam fuzileiros navais em barcos de artilharia. Desde os anos 1990, os EUA quase sempre agiram multilateralmente com outros países da América Latina, com tropas de todo o mundo, com organizações multilaterais como a OEA ou a ONU. E parece que agora eles estão fazendo algo semelhante, embora estejam claramente em posição de liderança."
Além disso, o historiador observou que, frequentemente, as consequências da intervenção dos EUA nos assuntos de países latino-americanos não foram tão graves como poderiam ser. Para relembrar, na guerra entre México e EUA na década de 1840, os norte-americanos anexaram quase todo o norte mexicano.
McPherson opinou como seria possível evitar intervenção americana nos assuntos da Venezuela, destacando que a forma mais imediata de evitar seria através dos esforços dos países da região. Ele destacou que um grande número de países latino-americanos não quer intervenção aberta, e importantes países da região, como o México, estão tentando intermediar.
"Agora, infelizmente, o governo Maduro não está interessado em negociar, mas não interferir é a pedra angular da diplomacia interamericana e, portanto, geralmente, se houver uma oportunidade de encontrar um outro caminho para alcançar um compromisso pacífico, os países latino-americanos impedem qualquer intervenção militar", opinou.
"Isso não significa que qualquer país queira uma intervenção militar americana ou multilateral, eles apenas reconheceram a presidência de Guaidó, o que não significa a necessidade de mudança de regime e, claro, de intervenção. Mas, sim, o fato de tantos países terem escolhido uma presidência alternativa é uma coisa sem precedentes. Eu acho que isso mostra uma crise de vários anos vivida na Venezuela", acrescentou.
Segundo McPherson, a crise humanitária venezuelana existe há muito tempo, portanto a presença de assistência na fronteira e os problemas que ela causa são mais políticos do que humanitários, porque chegou a hora de pressionar Maduro, levando em conta o autoproclamado presidente Guaidó.
McPherson concluiu que nesse caso, pode acontecer que os Estados Unidos e alguns países da Europa venham a tentar derrubar alguns líderes militares, o que aumentará significativamente a probabilidade de mudança de regime, e não apenas a violência na fronteira.