Por que EUA buscam monitorar represas da China no rio Mekong?

© AP Photo / Eugene HoshikoRepresa chinesa no rio Mekong
Represa chinesa no rio Mekong - Sputnik Brasil
Nos siga no
Nos últimos anos, o rio Mekong se converteu em um foco da rivalidade entre Pequim e Washington devido a um projeto de controle de água no Sudeste Asiático.

Se trata do chamado Mekong Dam Monitor, que é fruto da cooperação entre o programa para o Sudoeste Asiático do Centro Stimson, com sede em Washington, e a Eyes On Earth, empresa norte-americana especializada em pesquisa e consultoria sobre a água. Em parte, esta iniciativa foi financiada pelo Departamento de Estado com o objetivo de monitorar os níveis de água nas represas da China e outros países.

O projeto, que utiliza dados obtidos por satélites, deverá revelar que partes da região atravessadas pelo rio estão mais úmidas ou secas que o normal. Além disso, mostrará até que ponto as represas da China estão afetando o nível de água na via fluvial.

Graças a este projeto, toda a informação vai estar disponível para todo o mundo quase em tempo real.

Recentemente, uma pesquisa realizada pelos EUA alegou que a infraestrutura fluvial construída pela China retinha a água do Mekong em detrimento de outros países atravessados pelo rio (Mianmar, Laos, Tailândia, Camboja e Vietnã), regiões onde 60 milhões de pessoas dependem desta via fluvial para a pesca e agricultura.

"O projeto mostra que as 11 principais represas da China são dirigidas e operadas de forma sofisticada a fim de maximizar a produção de energia hidrelétrica para venda às províncias orientais da China, sem considerar os impactos a jusante", salientou Brian Eyler, do Centro Stimson.

Qual a posição da China?

A China criticou as pesquisas anteriores, incluindo um estudo da Eyes on Earth em que se afirma que Pequim reteve água em 2019, enquanto outros países sofriam fortes secas. Segundo o país asiático, durante a temporada de chuvas, as precipitações foram escassas, o que causou a diminuição do nível de água no fio, informa o jornal South China Morning Post.

O lançamento do Mekong Dam Monitor ocorreu semanas depois que Pequim começou a implementar uma iniciativa semelhante. Seu projeto tem como objetivo "abordar a mudança climática e os desastres naturais" para mostrar "a boa vontade e sinceridade da China como vizinho responsável do curso superior do rio", salientaram informes citados pelo jornal.

Além disso, no começo deste ano, a China acordou compartilhar os dados sobre a água com a Comissão do Rio Mekong, órgão consultivo da Tailândia, Laos, Camboja e Vietnã que busca há muito tempo coletar dados estatísticos para implementar um melhor planejamento dos recursos hídricos.

© AFP 2023Trabalhadores observam água sendo liberada pela represa Três Dragões (Three Gorges), na China
Por que EUA buscam monitorar represas da China no rio Mekong? - Sputnik Brasil
Trabalhadores observam água sendo liberada pela represa Três Dragões (Three Gorges), na China

De fato, anteriormente Pequim somente havia publicado informação sobre a temporada de inundações, porém, se comprometeu a compartilhar também dados hidrológicos durante todo o ano.

China ou EUA?

O rio Mekong, que possui em torno de 4.350 quilômetros de extensão, nasce no planalto tibetano e deságua no mar do Sul da China. Atualmente, a China e os EUA têm organismos rivais que trabalham com os países da região: a Cooperação Lancang-Mekong, com sede em Pequim, e a Associação Mekong nos EUA.

Há três décadas, quando a China começou sua trajetória de desenvolvimento, o Japão mantinha uma grande influência nos países próximos do rio, que exercia através do Banco Asiático de Desenvolvimento.

Porém, com o passar do tempo, Pequim conseguiu tomar o lugar de Tóquio após erigir 11 represas (com várias outras em construção) no Mekong, recorda o professor Thitinan Pongsudhirak da Universidade de Chulalongkorn (Tailândia), em seu artigo no jornal Bangkok Post.

Para esta região de rápido crescimento, que hoje em dia representa um mercado sólido e gera um Produto Interno Bruto de quase US$ 1 trilhão (R$ 5,06 trilhões), enfrentar a diplomacia da China é "uma proposta" muito "difícil", salienta o especialista.

No futuro, é provável que o Vietnã seja o país que mais se incline para os Estados Unidos a fim de solucionar o problema do Mekong, enquanto o Camboja e o Laos deverão cooperar com Pequim. Por sua parte, Mianmar e a Tailândia vão manter tanto proximidade quanto distância em relação à China.

Esta diferença nas preferências é a razão pela qual os países a jusante do rio acolhem com agrado outros importantes parceiros externos, pois estes podem ajudar a enfrentar a influência da China, conclui o professor.

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала