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Como o conflito na Ucrânia pode afetar a já cambaleante indústria automobilística brasileira?
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No apagar das luzes de 2019, o mercado de produção de carros no Brasil sofreu um duro golpe: a empresa norte-americana Ford anunciava o fechamento da histórica... 07.04.2022, Sputnik Brasil
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Com o retorno das atividades econômicas à medida que a vacinação contra a COVID-19 avança, o setor esperava retomar o fôlego pré-pandêmico até o segundo semestre de 2022.A operação militar especial da Rússia na Ucrânia, entretanto, freou os planos de recuperação desse segmento.Agora a indústria automobilística brasileira acompanha atentamente o desenrolar do conflito.Isso porque a Rússia é um dos maiores fornecedores do mundo de metais utilizados em todo tipo de produto, inclusive o paládio — empregado, por exemplo, nos conversores catalíticos de automóveis para reduzir a emissão de gases —, elemento do qual a indústria russa detém 38% da produção mundial.O setor acompanha com certa apreensão o desenrolar do conflito, segundo Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais e de Economia do Ibmec São Paulo.Além do mais, de acordo com o professor, alguns metais fundamentais para a produção de componentes eletrônicos dependem de energia — e isso acaba sendo afetado com a forte oscilação dos preços. "Inevitavelmente a guerra na Ucrânia pode ter, sim, um impacto; não necessariamente na produção atual, mas nos contratos que vão sendo firmados dessas montadoras com seus fornecedores a partir de agora", refletiu.Há impacto a curto prazo?Por enquanto, as férias coletivas nos parques de produção nacional, que têm ocorrido frequentemente, estão sendo concedidas por causa da pandemia, que gerou uma procura maior do setor de eletrodomésticos por semicondutores, diminuindo a oferta ao segmento automobilístico.A demanda do setor eletroeletrônico fez com que os principais contratos de fornecimento passassem para esse tipo de fabricante. Isso fez com que a cadeia produtiva dos automóveis, quando se reaqueceu, viesse e venha enfrentando dificuldades de atingir níveis de produção similares aos de antes da pandemia.A expectativa, informou o professor, é que esse setor de semicondutores se normalize somente em 2023 — e isso é agravado pela tensão entre Rússia e Ucrânia.Ele acrescentou que a Ucrânia é um dos principais fornecedores de neônio, que conhecemos como gás néon, importante no processo de fabricação, e duas grandes fábricas que fornecem mais de 70% da produção mundial ficam em cidades que são eixos do conflito: Odessa e Mariupol.Qual é o grande problema?Na percepção do professor, as maiores complicações de fornecimento, sobretudo de materiais oriundos da Ucrânia e da Rússia, virão a médio e longo prazos.O fato de o Brasil ser um dos membros do BRICS — que agrega também Rússia, Índia, China e África do Sul — pouco terá influência nessa defasagem.
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Como o conflito na Ucrânia pode afetar a já cambaleante indústria automobilística brasileira?
16:42 07.04.2022 (atualizado: 16:55 07.04.2022) Especiais
No apagar das luzes de 2019, o mercado de produção de carros no Brasil sofreu um duro golpe: a empresa norte-americana Ford anunciava o fechamento da histórica fábrica de São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. Ali começava certo declínio da indústria automobilística do país — que também se viu afetada pela pandemia.
Com o retorno das atividades econômicas à medida que a vacinação contra a COVID-19 avança, o setor esperava retomar o fôlego pré-pandêmico até o segundo semestre de 2022.
A
operação militar especial da Rússia na Ucrânia, entretanto,
freou os planos de recuperação desse segmento.
Agora a
indústria automobilística brasileira acompanha atentamente o desenrolar do conflito.
Isso porque a Rússia é um dos maiores fornecedores do mundo de metais utilizados em todo tipo de produto, inclusive o paládio — empregado, por exemplo, nos conversores catalíticos de automóveis para reduzir a emissão de gases —, elemento do qual a indústria russa detém 38% da produção mundial.
O setor acompanha com certa apreensão o desenrolar do conflito, segundo Alexandre Pires, professor de Relações Internacionais e de Economia do Ibmec São Paulo.
"Tanto a Anfavea [Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores] quanto a Fenabrave [Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores], que são as principais associações do setor automotivo, têm acompanhado desde o início o desenrolar do conflito com uma preocupação: as declarações têm sido em torno das dificuldades pelas quais o setor poderia passar, mas que teria que ser vislumbrado como isso aconteceria na cadeia de fornecimento dentro do Brasil. Desconheço qualquer declaração do setor que tenha dito que não há impacto, mas se alguma associação mencionou isso, é um equívoco, porque as cadeias produtivas são conectadas. O setor depende muito de alguns componentes que são, sim, produzidos em grande escala na Ucrânia e também na Rússia", analisou ele.
Além do mais, de acordo com o professor, alguns metais fundamentais para a produção de componentes eletrônicos dependem de energia — e isso acaba sendo afetado com a forte oscilação dos preços. "Inevitavelmente a guerra na Ucrânia pode ter, sim, um impacto; não necessariamente na produção atual, mas nos contratos que vão sendo firmados dessas montadoras com seus fornecedores a partir de agora", refletiu.
Há impacto a curto prazo?
Por enquanto, as férias coletivas nos parques de produção nacional, que têm ocorrido frequentemente, estão sendo concedidas por causa da pandemia, que gerou uma procura maior do setor de eletrodomésticos por semicondutores, diminuindo a oferta ao segmento automobilístico.
"As férias coletivas que a Mercedes deu aos seus funcionários, tanto em Juiz de Fora quanto em São Bernardo do Campo, são consequência de uma crise no fornecimento de semicondutores que tem muito mais a ver com a pandemia. Tem acontecido também a outras fabricantes, e não só no Brasil. Mesmo a Ford, nos Estados Unidos, tem feito isso, dado férias coletivas e fechado em razão de uma pressão na demanda por produtos eletrônicos de uso doméstico, em razão das pessoas ficarem mais em casa. Isso fez com que um setor que já estava aquecido começasse a consumir mais e mais semicondutores em detrimento de um setor que estava desaquecido, que é o setor automotivo. Em razão do fechamento do comércio, do lockdown, da proibição de circulações, [a indústria de carros] viu suas vendas caírem drasticamente", explicou Pires.
A demanda do setor eletroeletrônico fez com que os principais contratos de fornecimento passassem para esse tipo de fabricante. Isso fez com que a cadeia produtiva dos automóveis, quando se reaqueceu, viesse e venha enfrentando dificuldades de atingir níveis de produção similares aos de antes da pandemia.
A expectativa, informou o professor, é que esse setor de semicondutores se normalize somente em 2023 — e isso é agravado pela tensão entre Rússia e Ucrânia.
Ele acrescentou que a Ucrânia é um dos principais fornecedores de neônio, que conhecemos como gás néon, importante no processo de fabricação, e duas grandes fábricas que fornecem mais de 70% da produção mundial ficam em cidades que são eixos do conflito: Odessa e Mariupol.
"Ambas são cidades portuárias no mar Negro. Além disso, toda essa produção de neônio depende da produção de aço. Como o centro de produção de aço na Ucrânia está na região Leste, que está em maior conflito, a própria produção de aço e desse subproduto, que é o neônio, acabam afetados. Além do mais, outros produtos — metais raros como alumínio ou níquel — demandam muita energia para que sejam produzidos. Com o aumento do preço da energia, esses produtos também têm uma alta nos preços", elencou.
7 de dezembro 2020, 16:43
Qual é o grande problema?
Na percepção do professor, as maiores complicações de fornecimento, sobretudo de materiais oriundos da Ucrânia e da Rússia, virão a médio e longo prazos.
"Hoje nós temos estoque de neônio — agentes desse mercado indicam que há estoque. Mas há uma pressão grande, e os preços são feitos de acordo com contratos de fornecimento. Alguns contratos que estão sendo mantidos regulam esses preços. Mas os novos contratos vão ser naturalmente reajustados, e a capacidade de fornecimento dentro desse cenário vai ser reduzida. Vai ser um fator complicador. Claro que, agora, todo esse setor fica desarranjado porque ele tem uma perspectiva muito curta", apontou Pires.
O fato de o Brasil ser um dos membros do BRICS — que agrega também Rússia, Índia, China e África do Sul — pouco terá influência nessa defasagem.
"Essa é uma cadeia global, com os principais fornecedores estando em Taiwan e na Coreia, mas também nos Estados Unidos e na China. O grande problema são os insumos energéticos, que acabam afetando toda a produção. Claro que toda essa situação pode afetar a situação do Brasil, mas não vamos conseguir escapar disso em razão da nossa proximidade com os países do BRICS. As empresas russas que atuam no setor de semicondutores não são fornecedoras diretas do setor automotivo brasileiro. O Brasil não participa diretamente dessa cadeia de semicondutores, não temos contato com isso. Então qualquer diplomacia com os russos no momento não aliviaria o gargalo pelo qual as empresas do setor automotivo vêm passando, não só aqui, mas em todas as fábricas do mundo", concluiu.
28 de dezembro 2021, 14:10