https://noticiabrasil.net.br/20220416/diante-do-conflito-ucraniano-quais-os-efeitos-da-neutralidade-do-brasil-na-economia-mundial-22292186.html
Diante do conflito ucraniano, quais os efeitos da neutralidade do Brasil na economia mundial?
Diante do conflito ucraniano, quais os efeitos da neutralidade do Brasil na economia mundial?
Sputnik Brasil
O conflito na Ucrânia e as sanções impostas contra Moscou trazem uma nova configuração no xadrez da geopolítica mundial, na opinião de especialistas ouvidos... 16.04.2022, Sputnik Brasil
2022-04-16T21:56-0300
2022-04-16T21:56-0300
2022-04-19T11:36-0300
panorama internacional
rússia
ucrânia
brasil
diplomacia
geopolítica mundial
tensão geopolítica
brics
operação militar
china
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e6/03/0b/21781464_0:194:3072:1922_1920x0_80_0_0_f7db1ccf9dc31dfca36dd6c7921c5839.jpg
A posição da diplomacia e do governo brasileiro de não aderir às sanções do Ocidente contra a Rússia traz, também, vantagens à economia brasileira. Despontaria, daí, um papel de liderança na mediação desta crise? Mais: o que o Brasil tem a ganhar ao manter relações com ambos os países? Segundo analistas, o posicionamento neutro do Brasil diante da operação militar especial da Rússia na Ucrânia é estratégico. Não se trata, contudo, de um reflexo do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), e sim de uma postura adotada historicamente pela diplomacia do Itamaraty.Para além da perspectiva do legado das relações exteriores, existe o fato de o Brasil ser um dos membros do BRICS, grupo que aglutina, também, Rússia, Índia, China e África do Sul — todos parceiros nacionais estratégicos para transações comerciais.A China, sendo uma das maiores economias do mundo, também manteve neutralidade e vem criticando diversas ações ocidentais diante do conflito. A partir daí, nasce um polo na geopolítica e economia mundiais — junto com a Rússia, cujo papel é fundamental nessa nova coalizão de forças.Se, de um lado, há o Ocidente, composto, principalmente, pelos Estados Unidos e pela Europa Ocidental, na outra perspectiva, vem a China, com o peso econômico, e a Rússia, com a força política "muito significativa", observa o cientista político Guilherme Carvalhido.Para o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e cientista político Guilherme Casarões, o mundo está, de fato, caminhando para uma nova ordem econômica bipolar. Ele lembra, no entanto, que essa configuração que vem despontando não tem exatamente a ver com os tempos da Guerra Fria — em que havia, de um lado, o Ocidente se globalizando e, do outro, uma União Soviética relativamente defensiva em termos econômicos (e pouco integrada ao resto do mundo).Ele argumenta, ainda, que a diplomacia e o governo chineses vêm demonstrando um posicionamento antagônico ao establishment imposto pelos padrões ocidentais — e com a Rússia como uma importante aliada nessa equação. Isso vem trazendo um certo equilíbrio na balança que mensura as forças mundiais.A consequência disso, avalia o especialista, é uma reorganização da globalização: são duas globalizações acontecendo em compassos semelhantes, mas se organizando de maneiras diferentes e lideradas por um bloco específico de cada lado.E quanto ao Brasil? A neutralidade brasileira tem, em princípio, uma posição de manutenção de acordos comerciais sem comprometimento para o futuro. Porém, alerta Carvalhido, como essa nova ordem está se desenhando, "precisamos saber como isso se desenvolve para o futuro comercial brasileiro".Por outro lado, como o principal parceiro comercial brasileiro é a China, essa neutralidade do Brasil, hoje, é estratégica para não se criar um entrave nos processos econômicos desses acordos.Casarões, por sua vez, aponta que esta é uma das grandes virtudes da política externa brasileira, ao longo de décadas e décadas: a postura chamada de universalista. Isso permitiu ao país ter boas relações com nações antagônicas em vários momentos da história. Diplomacia brasileira pode mediar o conflito? Capacidade de mediação existe mediante as relações azeitadas pelo Itamaraty há décadas, mas os cientistas acreditam que o atual governo não tem capacidade de conduzir esse papel de equilíbrio neste momento. O fato de ser um ano de eleições presidenciais também pesa na conta da diplomacia, já que não é segredo que o presidente Jair Bolsonaro (PL) almeja uma reeleição. Carvalhido também descarta uma atuação mais enfática do governo atual, cujo mandato termina no primeiro dia do ano que vem. E talvez nem seja este o interesse do atual mandatário, complementa Casarões.
https://noticiabrasil.net.br/20220331/posicionamento-neutro-dos-paises-membros-do-brics-reforca-lacos-com-a-russia-22068198.html
https://noticiabrasil.net.br/20220331/de-cima-do-muro-se-enxerga-mais-longe-brasil-pode-atuar-como-mediador-entre-russia-e-ucrania--22058910.html
ucrânia
brasil
china
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2022
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e6/03/0b/21781464_170:0:2901:2048_1920x0_80_0_0_2d3cffae188b8b7fcebecdd38f19dec1.jpgSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
rússia, ucrânia, brasil, diplomacia, geopolítica mundial, tensão geopolítica, brics, operação militar, china, ministério das relações exteriores, itamaraty, jair bolsonaro, luiz inácio lula da silva, eleições presidenciais, eleições 2022, exclusiva
rússia, ucrânia, brasil, diplomacia, geopolítica mundial, tensão geopolítica, brics, operação militar, china, ministério das relações exteriores, itamaraty, jair bolsonaro, luiz inácio lula da silva, eleições presidenciais, eleições 2022, exclusiva
Diante do conflito ucraniano, quais os efeitos da neutralidade do Brasil na economia mundial?
21:56 16.04.2022 (atualizado: 11:36 19.04.2022) Especiais
O conflito na Ucrânia e as sanções impostas contra Moscou trazem uma nova configuração no xadrez da geopolítica mundial, na opinião de especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
A posição da diplomacia e do governo brasileiro de
não aderir às sanções do Ocidente contra a Rússia traz, também, vantagens à economia brasileira. Despontaria, daí, um
papel de liderança na mediação desta crise?
Mais: o que o Brasil tem a ganhar ao manter relações com ambos os países?
Segundo analistas, o posicionamento neutro do Brasil diante da
operação militar especial da Rússia na Ucrânia é estratégico. Não se trata, contudo, de um reflexo do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), e sim de uma
postura adotada historicamente pela diplomacia do Itamaraty.
Para além da perspectiva do legado das relações exteriores, existe o fato de o Brasil ser um dos membros do BRICS, grupo que aglutina, também, Rússia, Índia, China e África do Sul — todos parceiros nacionais estratégicos para transações comerciais.
A China, sendo uma das maiores economias do mundo, também manteve neutralidade e vem criticando diversas ações ocidentais diante do conflito.
A partir daí, nasce um polo na geopolítica e economia mundiais — junto com a Rússia, cujo papel é fundamental nessa nova coalizão de forças.
Se, de um lado, há o Ocidente, composto, principalmente, pelos Estados Unidos e pela Europa Ocidental, na outra perspectiva, vem a China, com o peso econômico, e a Rússia, com a força política "muito significativa", observa o cientista político Guilherme Carvalhido.
"No entanto, não dá para saber ainda em que medida e qual o papel da Rússia nessa divisão. Não será um papel pequeno, até pela posição fundamental e de grande dimensão que a Rússia tem do ponto de vista militar. Como vai ser a configuração desse lado, dessa nova ordem, em relação ao Ocidente é a grande dúvida. Isso vai depender muito da posição da China e como ela vai se configurar, se [a partir de] uma força militar e econômica ou apenas uma força muito econômica, como ela tem se estabelecido agora. Precisamos saber que postura a China vai tomar nesta nova ordem. Essa é uma grande questão a ser colocada", analisou ele.
Para o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e cientista político Guilherme Casarões, o mundo está, de fato, caminhando para uma nova ordem econômica bipolar.
Ele lembra, no entanto, que essa configuração que vem despontando não tem exatamente a ver com os tempos da Guerra Fria — em que havia, de um lado, o Ocidente se globalizando e, do outro, uma União Soviética relativamente defensiva em termos econômicos (e pouco integrada ao resto do mundo).
"O que está acontecendo hoje é diferente: de um lado, o Ocidente, que continua em um certo impulso globalizante. E, de outro lado, uma ordem que não chamaria de russocêntrica, mas, sim, sino-russa. Porque o ator que conduz essa ordem econômica concorrente à Ocidental é a China. A Rússia tem uma indústria setorizada e muito importante no campo de armas e tecnologia, além de algumas questões ligadas à energia. Mas, a rigor, quem tem toda a estrutura econômica é a China", pondera Casarões.
Ele argumenta, ainda, que a diplomacia e o governo chineses vêm demonstrando um posicionamento antagônico ao establishment imposto pelos padrões ocidentais — e com a Rússia como uma importante aliada nessa equação.
Isso vem trazendo um certo equilíbrio na balança que mensura as forças mundiais.
"A China tem demonstrado muita insatisfação com o estado vigente do sistema financeiro internacional, dos processos de globalização. A China luta enormemente para poder desafiar o dólar como moeda de troca global. Os chineses têm feito um grande trabalho de cooptação e de cooperação econômica no mundo por meio da nova rota da seda, dos bancos de investimento asiático de infraestrutura, o Novo Banco de Desenvolvimento, do BRICS. Então, se houvesse uma estrutura concorrente ou paralela a essa ordem ocidental, ela seria mais centrada na China. Mas a Rússia, claramente, está mais integrada a essa segunda ordem que está surgindo", reflete o professor da FGV.
A consequência disso, avalia o especialista, é uma reorganização da globalização: são duas globalizações acontecendo em compassos semelhantes, mas se organizando de maneiras diferentes e lideradas por um bloco específico de cada lado.
"E talvez haja a formação de cadeias produtivas regionais. E a grande disputa vai ser qual dessas ordens vai conseguir incorporar, em sua própria estrutura, as dimensões regionais econômicas — como a cadeia produtiva latino-americana, como a cadeia produtiva africana, e assim por diante", observa Casarões.
A neutralidade brasileira tem, em princípio, uma posição de manutenção de acordos comerciais sem comprometimento para o futuro. Porém, alerta Carvalhido, como essa nova ordem está se desenhando, "precisamos saber como isso se desenvolve para o futuro comercial brasileiro".
"Do ponto de vista comercial, creio que sim, o Brasil pode se favorecer [com a neutralidade]. O Brasil não quer se posicionar, a princípio, para não ter dificuldades econômicas. Mas o país pode ter dificuldades principalmente em relação à posição que toma, agora, sobre a Europa. O Brasil está na possibilidade de fechar um acordo grande com a Europa Ocidental, um acordo que está sendo intermediado desde 1999. Em que medida essa neutralidade vai dificultar ou não a posição brasileira no comércio com a Europa e até mesmo os EUA?", indaga ele.
Por outro lado, como o principal parceiro comercial brasileiro é a China, essa neutralidade do Brasil, hoje, é estratégica para não se criar um entrave nos processos econômicos desses acordos.
"A neutralidade, historicamente, tem uma posição que busca não se comprometer com uma das partes para não afetar, efetivamente, as relações comerciais. Algo que, neste momento, é um elemento importante, visto que o Brasil se vê como favorecido naquilo que ele buscou ao longo das relações construídas. A manutenção dos acordos comerciais atuais é a ideia", aponta Carvalhido.
Casarões, por sua vez, aponta que esta é uma das grandes virtudes da política externa brasileira, ao longo de décadas e décadas: a postura chamada de universalista.
Isso permitiu ao país ter boas relações com nações antagônicas em vários momentos da história.
"Temos relações boas com Israel, com os países árabes, com Índia, com Paquistão, com Coreias do Norte e do Sul. O Brasil sempre foi um construtor de pontes internacionais, então, sempre conseguimos manter um trânsito bom com o mundo desenvolvido e, ao mesmo tempo, com os países em desenvolvimento. Não há nada de novo nessa posição que parece ambígua, mas que é uma posição historicamente consolidada", avalia.
Diplomacia brasileira pode mediar o conflito?
Capacidade de mediação existe mediante as relações azeitadas pelo Itamaraty há décadas, mas os cientistas acreditam que o atual governo não tem capacidade de conduzir esse papel de equilíbrio neste momento.
O fato de ser um ano de eleições presidenciais também pesa na conta da diplomacia, já que não é segredo que o presidente Jair Bolsonaro (PL) almeja uma reeleição.
"O Brasil tentou se oferecer como mediador de conflitos globais – o conflito israelo-palestino, o conflito do Ocidente com o Irã. Existe um elemento histórico que faz parte da nossa política de boa vizinhança e da nossa relação universalista com o mundo. O problema é que hoje o governo Bolsonaro é muito malvisto internacionalmente. No Ocidente, ele é visto com muita desconfiança. Na França, na Alemanha, nos EUA do presidente Biden. Todos esses governos veem o Brasil com muita ressalva. Qualquer iniciativa que o Brasil tenha em relação ao conflito deveria vir no contexto de um novo governo — seja o governo Lula, seja o governo Bolsonaro reeleito, ou quem quer que seja", opina Casarões.
Carvalhido também descarta uma atuação mais enfática do governo atual, cujo mandato termina no primeiro dia do ano que vem.
"Não vejo o Brasil atualmente, com a figura e as relações internacionais do governo Bolsonaro hoje, em 2022, como um mediador adequado. Até porque o governo Bolsonaro não vem estabelecendo, ao longo do tempo, uma relação positiva com alguns países, sobretudo os países ocidentais, como Europa e Estados Unidos. Essa relação não é adequada e o Brasil não é visto, neste momento, como um bom mediador — apesar de, historicamente, ser visto dessa maneira. Hoje, no governo Bolsonaro, esse papel não é bem-visto pela figura do presidente Bolsonaro nas relações que foram construídas nesses pouco mais de três anos de governo", diz ele.
E talvez nem seja este o interesse do atual mandatário, complementa Casarões.
"Como há muito tempo para as eleições de 2022, vai ser difícil o Brasil se articular para desempenhar o papel de mediação de conflito neste contexto. Acho que isso sequer é o desejo do presidente Bolsonaro neste momento, que está ocupado com outras coisas, entre elas, fazer motociata", conclui.