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'Futuro do BRICS, sem dúvida, é representar uma força maior nos blocos de discussão', diz professor

© Folhapress / Fátima Meira/Futura PressDa esquerda para a direita, os presidentes Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping (China), Jair Bolsonaro (Brasil) e Cyril Ramaphosa (África do Sul) e o primeiro-ministro Narendra Modi (Índia), durante encontro do BRICS em 2019, no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF)
Da esquerda para a direita, os presidentes Vladimir Putin (Rússia), Xi Jinping (China), Jair Bolsonaro (Brasil) e Cyril Ramaphosa (África do Sul) e o primeiro-ministro Narendra Modi (Índia), durante encontro do BRICS em 2019, no Palácio Itamaraty, em Brasília (DF) - Sputnik Brasil, 1920, 22.09.2022
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Em um mundo que caminha para o fortalecimento de novos blocos geopolíticos de poder, a manutenção da relação do Brasil com seus parceiros do BRICS é fundamental. Por essa razão, não se pode confundir política de Estado com política de governo. A questão é: o BRICS já se sobrepôs à polarização política brasileira? Qual o futuro do país no grupo?
Em razão do alinhamento do governo de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos no início de seu mandato, houve um distanciamento entre o Brasil e os demais membros do BRICS, especialmente em função dos ataques do presidente brasileiro à China. Esse distanciamento, no entanto, não foi levado adiante, e o país fechará o ano de 2022 cada vez mais próximo de Rússia, Índia, China e África do Sul.
Os números não mentem: o secretário especial adjunto de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia, João Rossi, informou em junho que as exportações entre os países do grupo tiveram um aumento de 32,6% no ano passado, chegando a US$ 451 bilhões (R$ 2,24 trilhões). O BRICS, por si só, representa um importante agrupamento geopolítico, com cerca de 25% do PIB global, mais de 20% do comércio mundial e 42% da população do planeta.
Como suas possibilidades econômicas e políticas são inúmeras, o futuro do BRICS dentro da geopolítica mundial em constante transformação é uma incógnita, principalmente tendo em vista que o agrupamento não tem um conjunto definido de regras e deve receber novos Estados nos próximos anos. Entre os candidatos, há países como Argentina, Argélia, Irã e Egito. Para o professor Marcos Cordeiro Pires, do curso de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), "o futuro do BRICS, sem dúvida, é representar uma força maior nos blocos de discussão".
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Se por um lado é certo que o BRICS terá mais força internacionalmente, é possível, por outro, ter a certeza de que o agrupamento terá um lugar privilegiado na agenda da política externa brasileira independentemente de quem assumir o poder em 2023?
Para o especialista da Unesp, "a politica externa no próximo governo precisará considerar todos os polos de poder". E, desse modo, "se houver uma ampliação no grupo de países que compõem o BRICS, como se espera, haverá uma maior interlocução com outros polos" também.
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O professor enfatiza que gostaria de ver mais envolvimento econômico entre os países do agrupamento e aponta a necessidade de uma política de governo alinhada aos ministérios das Relações Exteriores de cada país, que valorize essas relações.
Pires lamenta que o BRICS, neste momento, esteja longe do seu ápice, quando foi criado, em 2015, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), para financiamento de projetos de interesse mútuo. Segundo ele, por conta do conflito na Ucrânia, o BRICS voltou a ganhar força, com os países do grupo demonstrando solidariedade à Rússia. Mas seu desenvolvimento ainda estaria longe de suas pretensões mais otimistas de alguns anos atrás.
O futuro do Brasil no grupo, entretanto, na opinião do especialista, está vinculado à perspectiva de ampliação do BRICS, com a Argentina e outros países também querendo ingressar nele. Desse modo, analisa Marcos Cordeiro Pires, "o BRICS vai ter maior abrangência, e isso é um fato. Agora, se por acaso esse bloco de cinco se amplia para dez, a importância de cada país diminui". A partir desse cenário, opina, é necessário "manter relações com todos os grandes países".
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Nesta semana, o professor Marcos Cordeiro Pires foi palestrante em um seminário da Rede Brasileira de Estudos da China (RBChina), uma rede científica multidisciplinar criada em 2017 e dedicada à promoção do conhecimento, da pesquisa, do ensino e do exercício profissional em torno da China. No evento, sediado pela Unesp, o especialista, ao lado de diversos analistas internacionais e de funcionários da Embaixada da China no Brasil, defendeu a ampliação das relações bilaterais entre Brasília e Pequim, assim como entre Brasília e Moscou.
Marcos Cordeiro Pires explicou que, na esteira do BRICS, a relação do Brasil com a China "é bastante forte, principalmente por conta da dependência brasileira do mercado chinês e dos investimentos da China no Brasil". Ele sublinhou que, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), no ano de 2021, houve recorde de investimento chinês no Brasil.

"Do ponto de vista político, a relação ficou arranhada por conta dos desentendimentos do governo brasileiro." Ele apontou, como exemplo, que não há embaixador da China no Brasil, "que parece estar esperando o resultado das eleições para indicar alguém", comentou.

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Ele entende que, apesar dos atritos, a forma como os chineses olham para o Brasil é com muito interesse e respeito. "A parceria estratégica vem desde 1993, e esse relacionamento vai se ampliando, inclusive com as novas possibilidades de cooperação. Essa relação poderia ser melhor aproveitada pelo Brasil, em um momento que o país deveria traçar objetivos claros com relação à China".

"A parceria deveria se estender a novos campos de atuação, como ciência e educação" ou "a questão da energia renovável, agricultura de precisão, tecnologias 5G, inteligência artificial e cidades inteligentes, que são uma realidade na China", analisou o especialista.

Para ele, a política externa brasileira precisa levar em conta, para o futuro, "a própria mudança geopolítica", considerando que, apesar das disputas, o Brasil deve "desenvolver relações maduras com os países", traçando estratégias baseadas nos seus interesses.
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