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Le Figaro explica por que Rússia não está interessada em atacar Ucrânia com armas nucleares

© Depositphotos.com / CurraheeshutterExplosão nuclear (imagem de arquivo)
Explosão nuclear (imagem de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 30.09.2022
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Os aliados de Kiev temem que a Rússia recorra ao armamento nuclear táctico na Ucrânia, escreve o jornal francês Le Figaro. Contudo, este perigo é muito pouco provável, já que um ataque nuclear contra a Ucrânia não corresponde aos interesses da própria Rússia.
Será que Vladimir Putin é capaz de apertar o "botão vermelho" – a pergunta volta à mídia ocidental com cada nova escalada do confronto na Ucrânia, diz a edição Le Figaro. Apesar de o uso de armas nucleares contra um país membro da OTAN ser pouco provável devido às consequências imprevisíveis que possa acarretar, os aliados de Kiev estão preocupados com a possibilidade de a Rússia recorrer ao armamento nuclear tático na Ucrânia. A ameaça não pode ser excluída de todo, mas, por enquanto, é insignificante por ser muito mais desvantajosa para a Rússia do que até para a Ucrânia, salienta o jornal.
Do ponto de vista militar, o uso de armamento nuclear tático contra a Ucrânia não afetará a situação de forma drástica. A edição lembra que o armamento nuclear tático difere do armamento nuclear estratégico por ter menor alcance e potência, apesar de não ter menos poder destrutivo do que as bombas utilizadas em Hiroshima e Nagasaki.
"O lançamento de um míssil nuclear tático "corresponde a centenas de disparos de Himars", sublinha o especialista militar Xavier Tytelman. "Tal arma destruiria tudo em um raio de vários quilômetros, mas tal força é inútil contra o exército, já que as unidades geralmente não se concentram em um lugar só", enfatiza o especialista.
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Por outro lado, "o pior cenário, sem dúvida, seria o uso simbólico das armas nucleares para assustar a outra parte, seja a partir do ar, ou do mar", refere o analista político Bruno Tertrais.

"Mesmo assim, as consequências seriam menores em comparação com um ataque contra uma cidade ou um comboio militar concentrado em um lugar só, o que é muito pouco provável na etapa atual", acrescenta a especialista na dissuasão nuclear Eloise Faye.

Ao mesmo tempo, ainda que a doutrina nuclear russa seja conhecida desde o fim da Guerra Fria, o uso do armamento nuclear tático não é descrito nela detalhadamente, salienta a edição.
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Nesse contexto, além de uma pequena vantagem militar que a Rússia obteria com o uso deste tipo de armamento, o país certamente enfrentaria o aumento dos fornecimentos de armas ocidentais. Caso as armas nucleares sejam usadas na Ucrânia, os aliados ucranianos poderiam "elevar a fasquia" e entregar a Kiev sistemas de armas mais modernos – "drones ou até tanques", simultaneamente começando a treinar os militares ucranianos para controlar os aviões ou helicópteros de combate, opina Tytelman.
No domingo, o assessor do presidente norte-americano para a Segurança Nacional Jake Sullivan avisou Moscou sobre "os efeitos catastróficos" que o uso das armas nucleares na Ucrânia teria, lembra o jornal.
"Contudo, isso não significa que os EUA retaliariam da mesma forma, visto que as garantias de segurança da OTAN não se aplicam à Ucrânia", sublinha Eloise Faye.
Na sua opinião, "a resposta do Ocidente não deve ser apenas militar".
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Há pouco, o presidente dos EUA Joe Biden prometeu que "a Rússia se converteria no maior país pária do mundo" se usar as armas nucleares. Ao se tornar o primeiro país a violar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, a Rússia, segundo Le Figaro, se encontraria "em uma posição até pior do que a Coreia do Norte", acredita Eloise Faye.

"Porque nesse caso, [a Rússia] corre o risco de perder tudo – pelo menos o apoio internacional, incluindo o apoio da China, para a qual tal passo, sem dúvida, seria inadmissível", acrescenta Bruno Tertrais.

De fato, no caso de uso das armas nucleares na Ucrânia, a Rússia enfrentaria um forte isolamento diplomático e se veria afastada de seus aliados "neutros", opina a edição francesa.
"A China, que de fato nunca aprovou a operação especial na Ucrânia, mas também nunca a condenou, se afastaria da Rússia por completo", disse o ex-embaixador francês em Moscou, Jean de Gliniasty. "Se as relações com a China se romperem, a Rússia colapsará em três semanas", prevê, por sua vez, Xavier Tytelman.
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O jornal lembra que o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares proíbe o uso destas armas por parte de uma potência nuclear contra um país que não possua tal armamento.
"Se os russos violarem esta doutrina na Ucrânia, será difícil impedir Taiwan de receber armas nucleares para se defender da China", salienta Tytelman. "O precedente ucraniano impulsionaria o uso e a disseminação [das armas nucleares]", avisa Jean de Gliniasty.
Na sua opinião, tais países como o Irã e a Coreia do Norte, bem como o Egito e a Arábia Saudita, podem chegar à conclusão de que "o melhor método de se defender é criar as próprias armas nucleares".
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