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Lula: a história e a trajetória de um dos líderes políticos mais notórios e influentes do Brasil
Lula: a história e a trajetória de um dos líderes políticos mais notórios e influentes do Brasil
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De torneiro mecânico a presidente do Brasil e doutor honoris causa por 36 universidades do mundo, o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de 77 anos... 02.10.2022, Sputnik Brasil
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O penúltimo filho de Eurídice Ferreira de Melo, a Dona Lindu, e de Aristides Inácio da Silva ganhou o apelido Lula ainda na infância.Dona Lindu e seu Aristides eram lavradores. Cultivavam uma roça de subsistência para alimentar a família no agreste nordestino do Brasil. Lula ainda era um bebê de poucos meses quando seu pai migrou para Santos, em São Paulo, para trabalhar como transportador de cargas no porto da cidade — um dos maiores do país.Aristides retornaria para o interior do Nordeste para rever a família cinco anos depois. Levava consigo dois meninos, que depois revelou serem seus filhos com uma prima, com a qual constituíra uma nova família. A visita marcaria a gravidez do último filho de Dona Lindu.Os primeiros anos da infância de Lula foram marcados por muita dificuldade e fome. Os oito filhos eram mantidos basicamente pelo trabalho da mãe na pequena lavoura.Foi em dezembro de 1952 que a família deixou o Nordeste, em uma viagem de 13 dias a bordo de um caminhão "pau de arara", rumo ao estado de São Paulo, no rico Sudeste, segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Quando chegaram em Santos, descobriram a nova família do pai. Devido às dificuldades de Dona Lindu em sustentar a família em uma cidade grande, os filhos saíram à procura de trabalho. Lula trabalhou com comércio ambulante enquanto cursava o primário aos sete anos de idade.A família se mudou para a cidade de São Paulo no ano seguinte e fixou residência em um bairro da classe operária. Lula estudou até a quinta série do ensino fundamental. Seu primeiro emprego fixo foi aos 12 anos, em uma tinturaria. Aos 14, começou a trabalhar em uma fábrica de parafusos, onde ficou pelos quatro anos seguintes. Alternou o ofício com um curso de torneiro mecânico no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).Trocou a fábrica de parafusos por uma metalúrgica, onde trabalhava 12 horas por dia diante de um torno. Em uma madrugada, um parafuso de uma prensa quebrou. Ele fez uma peça nova e, quando a estava instalando, seu colega que operava a máquina cochilou e a soltou. Lula teve o dedo mínimo decepado — o que se tornaria sua insígnia política, usada inclusive pelos seus detratores.Em 1965, uma recessão generalizada foi a causa de um alto índice de desemprego no Brasil, que atingiu Lula e quase todos os seus familiares. Após seis meses, conseguiu trabalho em uma metalúrgica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, que viria a se tornar seu berço político.Foi seu irmão, cujo apelido é Frei Chico, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), quem o induziu a dar os primeiros passos na vida política. Lula entrou pela primeira vez no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em 1967. Ali constituiu uma carreira de líder sindical, até chegar à presidência da associação de trabalhadores, em 1975 — mesmo ano em que seu irmão que lhe abriu as portas do sindicato foi arbitrariamente preso e torturado pela ditadura militar.A prisão, aliada à rotina de cursos, debates e viagens como presidente do sindicato, lhe acendeu a questão da política e do autoritarismo do regime. Uma campanha de reposição salarial de 34,1% dos metalúrgicos, que colocava em xeque as políticas econômicas da ditadura, o colocou nas manchetes e capas dos jornais, nas revistas e na televisão. Ali, Lula nascia politicamente e ganhava projeção nacional.Do novo sindicalismo à assembleia constituinteLula demonstrava independência dos metalúrgicos em relação ao governo ou a partidos políticos nas entrevistas à imprensa. Declarava que eram necessárias novas bases para as relações trabalhistas no Brasil, um discurso que aglutinava trabalhadores e setores do sindicalismo nacional que estavam dispostos a aprimorar as estruturas nas relações de trabalho. Posteriormente, sociólogos denominariam essa etapa de novo sindicalismo.As greves do ABC tornaram Lula ainda mais conhecido, com enormes assembleias reunindo cerca de 80 mil metalúrgicos no estádio municipal de Vila Euclides, em São Bernardo. A repressão da ditadura militar veio em igual medida, a ponto de Lula encarar sua primeira prisão, em 1980, com outros dirigentes sindicalistas. Ele foi processado e condenado com base na Lei de Segurança Nacional, mas posteriormente absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM). Devido a isso, afastou-se das atividades sindicais.À época, já nascia nele a percepção de que não bastava apenas o sindicato para resolver os problemas dos trabalhadores do Brasil.Após diversos encontros em estados do país, em 14 de outubro de 1979, nascia oficialmente o Partido dos Trabalhadores (PT). Em 10 de janeiro de 1980, a primeira versão do manifesto do PT foi lida em convenção. No mês seguinte, 500 pessoas se reuniram no colégio Sion, em São Paulo, para assiná-lo como fundadoras do partido. Com a gradual redemocratização do país, Lula se candidatou ao governo do estado de São Paulo, em 1982. Sob o lema "Trabalhador vota em trabalhador", a campanha se concentrou na ascensão da classe trabalhadora ao poder. Embora tenha se sobressaído nos debates, ficou na quarta posição entre os candidatos, com 1.144.648 de votos.Em agosto de 1983, o PT adotou a ideia de uma campanha vultosa por eleições diretas para a Presidência da República, até então sob o comando de generais da ditadura militar.Uma convocação assinada pelo PT, PMDB, Partido Democrático Trabalhista (PDT), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Conselho das Classes Trabalhadoras (Conclat) e instituições da sociedade civil organizada trouxe o primeiro comício na praça em frente ao estádio do Pacaembu, em São Paulo. Cerca de 20 mil pessoas estavam presentes.A pressão seguiu ao longo dos anos nas ruas do país, com aliados como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Leonel Brizola encampando os atos e sob forte apoio popular.Em novembro de 1986, Lula, que concorria a uma vaga de deputado na assembleia constituinte, foi eleito com 651.763 votos, número que lhe cedeu o recorde de deputado mais votado do Brasil. Foi o líder do PT na Câmara durante o período que gerou e consolidou a Constituição Federal de 1988, o grande marco do Estado democrático de direito do Brasil contemporâneo.As sucessivas derrotas em três campanhas à Presidência da RepúblicaAprovada a Carta Magna em outubro de 1988, selando o período de redemocratização do Brasil, Lula foi indicado pela assembleia do PT como candidato à Presidência da República.Embora tenha realizado comícios que chegaram a ter 250 mil pessoas, outro candidato se destacou na eleição: Fernando Collor de Mello (PRN), novato na política tal como seu partido, que usava um discurso moralista e se descrevia como o "caçador de marajás" (funcionários públicos extrarremunerados). Obteve 25,11% de votos, enquanto Lula chegou a 14,16%, encaminhando a disputa para o segundo turno, que foi marcado por uma edição positiva a Collor no debate final do Jornal Nacional, da TV Globo, que registrava a maior audiência do país durante o horário nobre. A cobertura negativa também era amplificada por outros veículos de comunicação.A queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, cristalizou o discurso anticomunista de Collor, que venceu com 42,75% dos votos, contra 37,86% de Lula.Após o término de seu mandato de deputado, Lula não disputou cargos eletivos e, em 1993, era apontado como favorito para a disputa presidencial do ano seguinte. Em 1994, porém, o então ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, lançou o Plano Real, que estabilizava a moeda (e a inflação exorbitante do país). A retomada do poder de compra dos trabalhadores de baixa renda, com um frango inteiro vendido a R$ 1, trouxe a derrota para Lula já em primeiro turno: FHC venceu com uma vantagem de 54,3% dos votos válidos, contra 27% de Lula.Uma emenda constitucional aprovada na gestão FHC em 1997 (sob denúncia do jornal Folha de S.Paulo, de compra de votos dos parlamentares) lhe garantiu o direito de concorrer à reeleição à Presidência da República. Lula, que inicialmente hesitou em concorrer, marcou seu discurso pelo tom da manutenção da estabilidade proporcionada pela nova moeda, o real, mas com preocupação com as causas sociais e populações mais vulneráveis. Mesmo com um discurso modulado, perdeu as eleições de 1998 em primeiro turno, ao obter 37,71% dos votos válidos, contra 53,06% de FHC.Lula presidenteMarcado pelo neoliberalismo, o governo de FHC ia mal em sua segunda gestão, com desemprego alto, fome avassaladora e inflação considerável. A crise dos apagões e a recorrência a empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) traziam perspectivas positivas para Lula, que costurou uma profícua aliança com o empresário José Alencar (PL), candidato a vice-presidente na chapa.A imagem conciliatória e menos combativa lhe rendeu o apelido de "Lulinha Paz e Amor", pregando o apaziguamento das relações entre empresários e trabalhadores.Ainda assim, venceu as eleições contra o adversário José Serra (PSDB) apenas no segundo turno, no qual obteve 61,27% dos votos válidos.Lula se tornou o primeiro operário eleito presidente da República.2003 a 2010: a era LulaAs desconfianças em relação à gestão Lula se dissiparam quando ele anunciou um tucano como presidente do Banco Central: Henrique Meirelles, ex-diretor-geral do Banco de Boston. Nomes do agronegócio foram nomeados para ministérios importantes, o que demonstrava um aceno para as exportações e commodities.Mas a criação do programa Fome Zero, que em seguida se desdobraria para o Bolsa Família, se demonstrou um dos grandes motores da economia interna do país, com a inclusão de 45 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza no comércio nacional.A política externa, conduzida pelo diplomata de carreira Celso Amorim, dava pistas de uma maior independência do imperialismo dos Estados Unidos. Havia a pretensão, que até hoje existe no enclave petista, da conquista de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).O céu de brigadeiro petista ganhou contornos nebulosos com o escândalo do mensalão, em 2005, quando Roberto Jefferson disse à Folha de S.Paulo que deputados recebiam uma mesada de R$ 30 mil para que votassem a favor do governo. O primeiro escalão da gestão petista sofreu baixas e Lula chegou a fazer um pronunciamento à nação.Mas o mensalão não atingiu a imagem de Lula, que pleiteou a reeleição em 2006. Na campanha eleitoral, estava nítido que as pessoas não haviam associado sua imagem ao caso. O Bolsa Família, programa de renda e inclusão, era um sucesso e turbinava o comércio interno do Brasil. Lula venceu em segundo turno, com 60,83% dos votos válidos, ou 58 milhões de votos, contra Geraldo Alckmin (PSDB), hoje seu vice.Em sua segunda gestão, Lula (com Celso Amorim, então chanceler) criou o BRICS (grupo que reúne, além do Brasil, Rússia, Índia, China e, posteriormente, África do Sul), em 2008.O Brasil passou incólume pela grave crise econômica mundial que assolou o mundo no mesmo ano. Na época, Lula fez uma afirmação que circulou globalmente.Entre outros feitos está o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), conduzido pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que o sucederia pelos dois mandatos seguintes como presidenta da República. Com distribuição de renda, extinção da fome e demais políticas, Lula deixou o cargo com 83% de aprovação popular, elegendo Dilma, sua afilhada política.Ao longo dos dois mandatos e mesmo depois de encerrá-los, Lula ganhou o título de doutor honoris causa de 36 universidades ao redor do mundo, sobretudo pelo intenso combate à miséria no Brasil, que retirou o país do Mapa da Fome mundial em 2014. Enquanto era presidente, Lula se recusou a receber os títulos, aceitando-os apenas quando deixou o cargo.Dilma, protestos, Lava Jato e impeachmentEmbora bem avaliada em primeiro mandato, a primeira gestão de Dilma Rousseff foi marcada pelos protestos de junho de 2013, que começaram com um pedido de redução de R$ 0,20 nos preços das passagens de São Paulo, mas que, no decorrer dos três anos seguintes, tomaram a forma e os anseios da direita e da extrema-direita do Brasil.No ano seguinte, a pupila política de Lula venceria as eleições com 51% dos votos válidos no segundo turno contra o candidato Aécio Neves (PSDB), que contestou o resultado. Também no fim de 2014, Sergio Moro, um juiz do Paraná, iniciava a chamada Operação Lava Jato, que investigava indícios de corrupção na Petrobras, maior estatal do país.Lula, que havia anunciado aposentadoria da política, voltou à cena em 2015 para tentar costurar uma salvação política de Dilma no Congresso Nacional, contra quem pipocavam as manifestações de direita.Em março do ano seguinte, uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, autorizada por Moro, foi deflagrada contra o ex-presidente, que foi alvo de busca e apreensão e condução coercitiva para prestar depoimento. Segundo a denúncia, Lula teria obtido vantagens e reformas em um apartamento e em um sítio que não estavam em seu nome, mas eram de sua propriedade, o que jamais foi legalmente comprovado.O impeachment de Dilma Rousseff já era uma ideia concretizada entre congressistas e se tornou realidade em 17 de abril de 2016, quando ela foi afastada pela Câmara dos Deputados e alvo de uma investigação do Senado. Lula, por sua vez, foi enquadrado em cinco ações penais pelo juiz Sergio Moro.Em 31 de agosto de 2016, por 61 votos a 20, o Senado brasileiro afastou Dilma Rousseff da Presidência da República, deixando o cargo a Michel Temer (MDB), seu vice, que governou até o fim de 2018. No decorrer das acusações contra Dilma, Lula sempre ficou ao lado dela.Morte de esposa e parentes, o cárcere e a inocênciaMulher de Lula desde 1974 e uma das fundadoras do PT, a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva morreu em 3 de fevereiro de 2017, vítima de um derrame cerebral. À época, parentes disseram que ela estava muito estressada e se preocupava com as acusações feitas contra sua família, além de temer uma iminente prisão de seu marido.Em 7 de abril de 2018, ano de eleições, quando Lula liderava as pesquisas de intenção de voto, o juiz Sergio Moro decretou a prisão do ex-presidente, que se refugiou em São Bernardo do Campo, mesmo reduto onde iniciou sua carreira política, e de lá fez um discurso antes de se entregar às autoridades.Lula permaneceu preso por 580 dias.No período do cárcere, Arthur, seu neto de 7 anos, e seu irmão Genival Inácio da Silva, de 79 anos, conhecido como Vavá, morreram. Lula foi ao velório da criança, mas não conseguiu se despedir do outro ente querido.Em 2019, contudo, uma série de reportagens do site The Intercept abalou o Brasil. Mensagens trocadas entre autoridades da Lava Jato mostraram a parcialidade de Moro e de promotores de Justiça que o acusaram, caso de Deltan Dallagnol. Tanto o ex-juiz Moro quanto o ex-procurador foram candidatos nas eleições de 2022.Em 8 de março de 2021, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin anulou as condenações de Lula, o que foi posteriormente confirmado em plenário por todos os ministros. Eles também Lula recuperou seus direitos políticos, se tornou elegível e segue concorrendo a presidente da República Federativa do Brasil.
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O penúltimo filho de Eurídice Ferreira de Melo, a Dona Lindu, e de Aristides Inácio da Silva ganhou o apelido Lula ainda na infância.
Dona Lindu e seu Aristides eram lavradores. Cultivavam uma roça de subsistência para alimentar a família no agreste nordestino do Brasil. Lula ainda era um bebê de poucos meses quando seu pai migrou para Santos, em São Paulo, para trabalhar como transportador de cargas no porto da cidade — um dos maiores do país.
Aristides retornaria para o interior do Nordeste para rever a família cinco anos depois. Levava consigo dois meninos, que depois revelou serem seus filhos com uma prima, com a qual constituíra uma nova família. A visita marcaria a gravidez do último filho de Dona Lindu.
Os primeiros anos da infância de Lula foram marcados por muita dificuldade e fome. Os oito filhos eram mantidos basicamente pelo trabalho da mãe na pequena lavoura.
"Eu nasci em Caetés e eu fui comer pão pela primeira vez aos sete anos de idade. Eu vim para São Paulo 70 anos atrás para não morrer de fome, não foram poucas as vezes que minha mãe não tinha comida para colocar no fogo. Eu olhava no semblante da minha mãe, e ela nunca perdia a esperança. Ela falava: 'Hoje não tem, mas amanhã vai ter'. E essa crença… Essa crença me formou", declarou, em uma fala emocionada ao visitar a réplica da pequena casa onde morava a família, em julho.
Foi em dezembro de 1952 que a família deixou o Nordeste, em uma viagem de 13 dias a bordo de um caminhão "pau de arara", rumo ao estado de São Paulo, no rico Sudeste,
segundo o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc), da Fundação Getulio Vargas (FGV). Quando chegaram em Santos, descobriram a nova família do pai. Devido às dificuldades de Dona Lindu em sustentar a família em uma cidade grande, os filhos saíram à procura de trabalho.
Lula trabalhou com comércio ambulante enquanto cursava o primário
aos sete anos de idade.
A família se mudou para a cidade de São Paulo no ano seguinte e fixou residência em um bairro da classe operária. Lula estudou até a quinta série do ensino fundamental. Seu primeiro emprego fixo foi aos 12 anos, em uma tinturaria. Aos 14, começou a trabalhar em uma fábrica de parafusos, onde ficou pelos quatro anos seguintes. Alternou o ofício com um curso de torneiro mecânico no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).
Trocou a fábrica de parafusos por uma metalúrgica, onde trabalhava 12 horas por dia diante de um torno. Em uma madrugada, um parafuso de uma prensa quebrou. Ele fez uma peça nova e, quando a estava instalando, seu colega que operava a máquina cochilou e a soltou. Lula teve o dedo mínimo decepado — o que se tornaria sua insígnia política, usada inclusive pelos seus detratores.
Em 1965, uma recessão generalizada foi a causa de um alto índice de desemprego no Brasil, que atingiu Lula e quase todos os seus familiares. Após seis meses, conseguiu trabalho em uma metalúrgica em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, que viria a se tornar seu berço político.
Foi seu irmão, cujo
apelido é Frei Chico, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), quem o induziu a dar os primeiros passos na vida política. Lula entrou pela primeira vez no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo em 1967. Ali constituiu
uma carreira de líder sindical, até chegar à presidência da associação de trabalhadores, em 1975 — mesmo ano em que seu irmão que lhe abriu as portas do sindicato foi arbitrariamente preso e torturado pela ditadura militar.
A prisão, aliada à rotina de cursos, debates e viagens como presidente do sindicato, lhe acendeu a questão da política e do autoritarismo do regime. Uma campanha de reposição salarial de 34,1% dos metalúrgicos, que colocava em xeque as políticas econômicas da ditadura, o colocou nas manchetes e capas dos jornais, nas revistas e na televisão. Ali, Lula nascia politicamente e ganhava projeção nacional.
Do novo sindicalismo à assembleia constituinte
Lula demonstrava independência dos metalúrgicos em relação ao governo ou a partidos políticos nas entrevistas à imprensa. Declarava que eram necessárias novas bases para as relações trabalhistas no Brasil, um discurso que aglutinava trabalhadores e setores do sindicalismo nacional que estavam dispostos a aprimorar as estruturas nas relações de trabalho. Posteriormente, sociólogos denominariam essa etapa de novo sindicalismo.
As greves do ABC tornaram Lula ainda mais conhecido, com enormes assembleias reunindo cerca de 80 mil metalúrgicos no estádio municipal de Vila Euclides, em São Bernardo. A
repressão da ditadura militar veio em igual medida, a ponto de Lula encarar
sua primeira prisão, em 1980, com outros dirigentes sindicalistas. Ele foi processado e condenado com base na Lei de Segurança Nacional, mas posteriormente absolvido pelo Superior Tribunal Militar (STM). Devido a isso,
afastou-se das atividades sindicais.
À época, já nascia nele a percepção de que não bastava apenas o sindicato para resolver os
problemas dos trabalhadores do Brasil.
Após diversos encontros em estados do país, em 14 de outubro de 1979, nascia oficialmente o Partido dos Trabalhadores (PT). Em 10 de janeiro de 1980, a primeira versão do manifesto do PT foi lida em convenção. No mês seguinte, 500 pessoas se reuniram no colégio Sion, em São Paulo, para assiná-lo como fundadoras do partido. Com a gradual redemocratização do país, Lula se candidatou ao governo do estado de São Paulo, em 1982. Sob o lema "Trabalhador vota em trabalhador", a campanha se concentrou na ascensão da classe trabalhadora ao poder. Embora tenha se sobressaído nos debates, ficou na quarta posição entre os candidatos, com 1.144.648 de votos.
Em agosto de 1983, o PT adotou a ideia de uma
campanha vultosa
por eleições diretas para a Presidência da República, até então sob o comando de generais da ditadura militar.
Uma convocação assinada pelo PT, PMDB, Partido Democrático Trabalhista (PDT), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Conselho das Classes Trabalhadoras (Conclat) e instituições da sociedade civil organizada trouxe o primeiro comício na praça em frente ao estádio do Pacaembu, em São Paulo. Cerca de 20 mil pessoas estavam presentes.
A pressão seguiu ao longo dos anos nas ruas do país, com aliados como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Leonel Brizola encampando os atos e sob forte apoio popular.
Em novembro de 1986, Lula, que concorria a uma vaga de deputado na assembleia constituinte, foi eleito com 651.763 votos, número que lhe cedeu o recorde de deputado mais votado do Brasil. Foi o líder do PT na Câmara durante o período que gerou e consolidou a Constituição Federal de 1988, o grande marco do Estado democrático de direito do Brasil contemporâneo.
As sucessivas derrotas em três campanhas à Presidência da República
Aprovada a Carta Magna em outubro de 1988, selando o período de redemocratização do Brasil, Lula foi indicado pela assembleia do PT como candidato à Presidência da República.
"Seu programa de campanha centrava-se na superação da crise econômica paralelamente à superação das marcantes desigualdades sociais características da sociedade brasileira. Eram pontos enfatizados: uma reforma agrária ampla, a suspensão do pagamento da dívida externa e a instalação de uma auditoria da dívida, o alongamento do perfil da dívida interna, a contenção dos lucros das empresas através de controle de preços, a reforma tributária com combate à sonegação, e o aumento real progressivo dos salários, puxado por um aumento progressivo do salário mínimo, que em cinco anos deveria corresponder a quatrocentos dólares", aponta o registro de Lula no Cpdoc.
Embora tenha realizado comícios que chegaram a ter 250 mil pessoas, outro candidato se destacou na eleição: Fernando Collor de Mello (PRN), novato na política tal como seu partido, que usava um discurso moralista e se descrevia como o "caçador de marajás" (funcionários públicos extrarremunerados). Obteve 25,11% de votos, enquanto Lula chegou a 14,16%, encaminhando a disputa para o segundo turno, que foi marcado por uma edição positiva a Collor no debate final do Jornal Nacional, da TV Globo, que registrava a maior audiência do país durante o horário nobre. A cobertura negativa também era amplificada por outros veículos de comunicação.
A queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, cristalizou o discurso anticomunista de Collor, que venceu com 42,75% dos votos, contra 37,86% de Lula.
29 de setembro 2022, 17:43
Após o término de seu mandato de deputado, Lula não disputou cargos eletivos e, em 1993, era apontado como favorito para a disputa presidencial do ano seguinte. Em 1994, porém, o então ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, lançou o Plano Real, que estabilizava a moeda (e a inflação exorbitante do país). A retomada do poder de compra dos trabalhadores de baixa renda, com um frango inteiro vendido a R$ 1, trouxe a derrota para Lula já em primeiro turno: FHC venceu com uma vantagem de 54,3% dos votos válidos, contra 27% de Lula.
Uma emenda constitucional aprovada na gestão FHC em 1997 (sob denúncia do
jornal Folha de S.Paulo, de compra de votos dos parlamentares) lhe garantiu o direito de
concorrer à reeleição à Presidência da República. Lula, que inicialmente hesitou em concorrer, marcou seu discurso pelo tom da manutenção da estabilidade proporcionada pela nova moeda, o real, mas com preocupação com as causas sociais e populações mais vulneráveis. Mesmo com um discurso modulado,
perdeu as eleições de 1998 em primeiro turno, ao obter 37,71% dos votos válidos, contra 53,06% de FHC.
Marcado pelo neoliberalismo, o governo de FHC ia mal em sua segunda gestão, com desemprego alto, fome avassaladora e inflação considerável. A crise dos apagões e a recorrência a empréstimos do Fundo Monetário Internacional (FMI) traziam perspectivas positivas para Lula, que costurou uma profícua aliança com o empresário José Alencar (PL), candidato a vice-presidente na chapa.
A imagem conciliatória e menos combativa lhe rendeu o apelido de "Lulinha Paz e Amor", pregando o apaziguamento das relações entre empresários e trabalhadores.
Ainda assim, venceu as eleições contra o adversário José Serra (PSDB) apenas no segundo turno, no qual obteve 61,27% dos votos válidos.
Lula se tornou o primeiro operário eleito presidente da República.
As desconfianças em relação à gestão Lula se dissiparam quando ele anunciou um tucano como presidente do Banco Central: Henrique Meirelles, ex-diretor-geral do Banco de Boston. Nomes do agronegócio foram nomeados para ministérios importantes, o que demonstrava um aceno para as exportações e commodities.
Mas a criação do programa Fome Zero, que em seguida se desdobraria para o Bolsa Família, se demonstrou um dos grandes motores da economia interna do país, com a inclusão de 45 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza no comércio nacional.
A política externa, conduzida pelo diplomata de carreira Celso Amorim, dava pistas de uma maior independência do imperialismo dos Estados Unidos. Havia a pretensão, que até hoje existe no enclave petista, da conquista de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
O céu de brigadeiro petista ganhou contornos nebulosos com o
escândalo do mensalão, em 2005, quando Roberto Jefferson
disse à Folha de S.Paulo que
deputados recebiam uma mesada de R$ 30 mil
para que votassem a favor do governo. O primeiro escalão da gestão petista sofreu baixas e Lula chegou a fazer um pronunciamento à nação.
Alegou não ter "nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas. O PT tem que pedir desculpas. O governo, onde errou, tem que pedir desculpas".
Mas o mensalão não atingiu a imagem de Lula, que pleiteou a reeleição em 2006. Na campanha eleitoral, estava nítido que as pessoas não haviam associado sua imagem ao caso. O Bolsa Família, programa de renda e inclusão, era um sucesso e turbinava o comércio interno do Brasil. Lula venceu em segundo turno, com 60,83% dos votos válidos, ou 58 milhões de votos, contra Geraldo Alckmin (PSDB), hoje seu vice.
Em sua segunda gestão, Lula (com Celso Amorim, então chanceler) criou o BRICS (grupo que reúne, além do Brasil, Rússia, Índia, China e, posteriormente, África do Sul), em 2008.
O Brasil passou incólume pela grave crise econômica mundial que assolou o mundo no mesmo ano. Na época, Lula fez uma afirmação que circulou globalmente.
"Lá [nos EUA], ela é um tsunami; aqui, se ela chegar, vai chegar uma marolinha que não dá nem para esquiar."
Entre outros feitos está o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), conduzido pela então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, que o sucederia pelos dois mandatos seguintes como presidenta da República. Com distribuição de renda, extinção da fome e demais políticas, Lula deixou o cargo com 83% de aprovação popular, elegendo Dilma, sua afilhada política.
Ao longo dos dois mandatos e mesmo depois de encerrá-los, Lula
ganhou o título de doutor honoris causa de 36 universidades ao redor do mundo, sobretudo pelo intenso combate à miséria no Brasil, que
retirou o país do Mapa da Fome mundial em 2014. Enquanto era presidente, Lula se recusou a receber os títulos, aceitando-os apenas quando deixou o cargo.
Dilma, protestos, Lava Jato e impeachment
Embora bem avaliada em primeiro mandato, a primeira gestão de Dilma Rousseff foi marcada pelos protestos de junho de 2013, que começaram com um pedido de redução de R$ 0,20 nos preços das passagens de São Paulo, mas que, no decorrer dos três anos seguintes, tomaram a forma e os anseios da direita e da extrema-direita do Brasil.
No ano seguinte, a pupila política de Lula venceria as eleições com 51% dos votos válidos no segundo turno contra o candidato Aécio Neves (PSDB), que contestou o resultado. Também no fim de 2014, Sergio Moro, um juiz do Paraná, iniciava a chamada Operação Lava Jato, que investigava indícios de corrupção na Petrobras, maior estatal do país.
Lula, que havia anunciado aposentadoria da política, voltou à cena em 2015 para tentar costurar uma salvação política de Dilma no Congresso Nacional, contra quem pipocavam as manifestações de direita.
Em março do ano seguinte, uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, autorizada por Moro, foi deflagrada contra o ex-presidente, que foi alvo de busca e apreensão e condução coercitiva para prestar depoimento. Segundo a denúncia, Lula teria obtido vantagens e reformas em um apartamento e em um sítio que não estavam em seu nome, mas eram de sua propriedade, o que jamais foi legalmente comprovado.
O impeachment de Dilma Rousseff já era uma ideia concretizada entre congressistas e se tornou realidade em 17 de abril de 2016, quando ela foi afastada pela Câmara dos Deputados e alvo de uma investigação do Senado. Lula, por sua vez, foi enquadrado em cinco ações penais pelo juiz Sergio Moro.
Em 31 de agosto de 2016, por 61 votos a 20, o Senado brasileiro afastou Dilma Rousseff da Presidência da República, deixando o cargo a Michel Temer (MDB), seu vice, que governou até o fim de 2018. No decorrer das acusações contra Dilma, Lula sempre ficou ao lado dela.
Morte de esposa e parentes, o cárcere e a inocência
Mulher de Lula desde 1974 e uma das fundadoras do PT, a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva morreu em 3 de fevereiro de 2017, vítima de um derrame cerebral. À época, parentes disseram que ela estava muito estressada e se preocupava com as acusações feitas contra sua família, além de temer uma iminente prisão de seu marido.
Em 7 de abril de 2018, ano de eleições, quando Lula liderava as pesquisas de intenção de voto, o juiz Sergio Moro decretou a prisão do ex-presidente, que se refugiou em São Bernardo do Campo, mesmo reduto onde iniciou sua carreira política, e de lá fez um discurso antes de se entregar às autoridades.
"Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas. Mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera", disse Lula, em fala que emocionou seus apoiadores.
Lula permaneceu preso por 580 dias.
No período do cárcere, Arthur, seu neto de 7 anos, e seu irmão Genival Inácio da Silva, de 79 anos, conhecido como Vavá, morreram. Lula foi ao velório da criança, mas não conseguiu se despedir do outro ente querido.
Em 2019, contudo, uma
série de reportagens do site The Intercept abalou o Brasil. Mensagens trocadas entre autoridades da Lava Jato mostraram a
parcialidade de Moro e de promotores de Justiça que o acusaram, caso de
Deltan Dallagnol. Tanto o ex-juiz Moro quanto o ex-procurador foram candidatos nas eleições de 2022.
Em 8 de março de 2021, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin anulou as condenações de Lula, o que foi posteriormente confirmado em plenário por todos os ministros. Eles também Lula recuperou seus direitos políticos, se tornou elegível e segue concorrendo a presidente da República Federativa do Brasil.