- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Analista aponta virtudes de novo governo brasileiro, mas destaca limites à política externa

© Foto / Ministério das Relações Exteriores do BrasilNovo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira assina termo de posse em 1º de janeiro de 2023
Novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira assina termo de posse em 1º de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 03.01.2023
Nos siga no
Especiais
A palavra "reconstrução" está no mote do governo federal do Brasil. Do logotipo da terceira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao seu próprio discurso no domingo (1º) ante o Congresso Nacional, o termo virou uma espécie de espinha dorsal do Executivo brasileiro.
A ideia também não escapou do glossário do novo chanceler, Mauro Vieira, em seu pronunciamento de posse, na segunda-feira (2).

"Com bom senso e muito trabalho e dedicação, reconquistaremos nosso lugar. Essa é a real dimensão do enorme trabalho de reconstrução que nos aguarda, depois de um retrocesso sem precedentes na nossa política externa. Estamos prontos a encará-la de frente e com confiança", discursou Vieira, que não poupou elogios ao ex-chanceler Celso Amorim, por ele classificado como "um dos maiores diplomatas da nossa história".

© Foto / Ministério das Relações Exteriores do BrasilMauro Vieira discursa na cerimônia de posse, em 2 de janeiro de 2023
Novo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira discursa na cerimônia de posse, em 2 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 03.01.2023
Mauro Vieira discursa na cerimônia de posse, em 2 de janeiro de 2023
Representante experiente do Itamaraty — ocupou o posto também na gestão de Dilma Rousseff (PT), até seu impeachment, em 2016, e tornou-se representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York —, Vieira traz um "feliz retorno à tradição diplomática brasileira" após quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL), segundo avaliou Guilherme Casarões, cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo.
Isso não significa, contudo, que será uma rota fácil de ser trilhada. Casarões explicou que Lula encontra um Brasil e um mundo diferentes daqueles de quando deixou a presidência, em 2010.
Em sua avaliação, o Brasil se tornou "um país menos industrializado, mais dependente da exportação de commodities, mais pobre e desigual do que na década passada". Além disso, prosseguiu, a vida está se dando em "um mundo mais hostil, marcado pela ascensão da extrema-direita global, pelo enfraquecimento da integração regional, pela disputa bipolar entre EUA e China" e pelo conflito ucraniano.

"Nesse contexto, é difícil imaginar que o Brasil possa desempenhar o mesmo papel de potência emergente do passado, limitando seu raio de ação aos temas multilaterais e às questões regionais sul-americanas", refletiu.

Ele classificou como "desfavoráveis" as circunstâncias da conjuntura doméstica e internacional para um ativismo global do Brasil e destacou dois obstáculos à política externa "ativa e altiva" praticada nos anos 2000 sob o comando de Lula e do ex-chanceler Celso Amorim — que agora deve assumir o posto de conselheiro direto do presidente para assuntos internacionais.
"O primeiro é o desmonte institucional promovido pelo governo Bolsonaro em áreas-chave do Estado brasileiro, como relações exteriores, meio ambiente, direitos humanos e saúde pública, com impacto direto sobre a liderança internacional do país. O segundo é o isolamento sem precedentes do Brasil nos foros internacionais, reflexo da devastação da imagem brasileira imposta pelo governo federal. Isso poderá dificultar a retomada de nosso protagonismo multilateral", elencou.
Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, durante lançamento de seu livro Relações de Confiança: O Brasil na América do Sul, em 22 de julho de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 03.08.2022
Notícias do Brasil
Celso Amorim: Lula foi responsável não só pela projeção como pela criação do BRICS
Da crise, porém, pode se instaurar uma oportunidade.
Isso porque, segundo Casarões, o último obstáculo pode se tornar um estopim conveniente "na medida em que observamos grande interesse e boa vontade de parceiros internacionais em retomar relações próximas e cooperativas com o Brasil".
Ele acrescentou que outra virtude do atual governo é "pensar os desafios brasileiros a partir de uma perspectiva transversal, unindo agendas e políticas sob a figura carismática e mundialmente respeitada do presidente Lula".
Ex-chanceler Celso Amorim em sua residência no Rio de Janeiro, em 28 de dezembro de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 02.08.2022
Notícias do Brasil
Ucrânia: OTAN precisa de inimigos para existir e Rússia se sente eleita para isso, diz Celso Amorim

Haverá retomada dos moldes externos das gestões anteriores de Lula?

O professor da FGV vê a questão de uma versão da política externa de Lula a exemplo do que foram os dois mandatos anteriores com pragmatismo.
Em sua percepção, a influência brasileira estará limitada por circunstâncias internas e externas.

"Dificilmente haverá apoio político interno, seja no parlamento ou na sociedade, a grandes iniciativas internacionais, sobretudo aquelas que representem algum gasto adicional ao Estado", avaliou.

Ele reenfatizou que pesam nesta equação geopolítica os fatores externos: a atual conjuntura bipolar entre China e Estados Unidos, o conflito na Ucrânia e a "prolongada crise política e econômica em lugares outrora fundamentais para a inserção brasileira — da Venezuela à Síria, passando por Israel e Irã — representam desafios importantes ao protagonismo global do novo governo brasileiro".
A nomeação de Celso Amorim para conselheiro de política externa de Lula é algo visto com naturalidade por Casarões, já que o ex-chanceler desempenha tal papel há pelo menos 15 anos.
"Era natural que Amorim tivesse grande ascendência sobre a escolha do chanceler, sendo ele próprio um ministeriável. Com a nomeação de Mauro Vieira, figura próxima a Amorim e de sua enorme confiança, o ex-ministro assume uma posição de perfil mais baixo, mas de grande centralidade para a diplomacia presidencial de Lula. Celso Amorim segue sendo a figura mais influente da política externa do novo governo", observou.
© Foto / Ministério das Relações Exteriores do BrasilEm primeiro plano, Mauro Vieira, ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e de Celso Amorim, durante cerimônia de posse no Itamaraty. Brasília (DF), 2 de janeiro de 2023
Em primeiro plano, o novo chanceler, Mauro Vieira, ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e do ex-chanceler e conselheiro de Lula, Celso Amorim, durante cerimônia de posse no Itamaraty. Brasília (DF), 2 de janeiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 03.01.2023
Em primeiro plano, Mauro Vieira, ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e de Celso Amorim, durante cerimônia de posse no Itamaraty. Brasília (DF), 2 de janeiro de 2023
Além do retorno da diplomacia tradicional do Itamaraty, o cientista político avaliou que o discurso de posse do novo chanceler traz "uma sinalização importante das prioridades universalistas e do ativismo construtivo da política externa brasileira".
De acordo com a sua avaliação, os anúncios mais marcantes, como o retorno do Brasil ao Pacto Global para a Migração, à União de Nações Sul-Americanas (Unasul) e à Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), "são de implementação relativamente simples".

"A busca de relações positivas com todas as regiões do mundo, idem. Vieira foi cuidadoso o bastante para não fazer nenhum tipo de promessa que coloque o Brasil em posição de fragilidade. Além disso, dedicou parte importante do discurso aos próprios diplomatas e aos desafios que dizem respeito à carreira. Resta saber se o governo terá força suficiente para atender a todas estas demandas que o mundo terá com relação ao Brasil", concluiu.

O então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ao lado do então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), em 29 de junho de 2010 - Sputnik Brasil, 1920, 04.08.2022
Notícias do Brasil
'Destruição': Celso Amorim critica governo Bolsonaro e aponta metas para política externa do Brasil
Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала