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'América do Sul volta a se reunir após a destruição de sua unidade': como foi a cúpula de Brasília

© Foto / Divulgação / Ricardo StuckertFotografia oficial dos Presidentes dos países da América do Sul durante a Cúpula do Sul, 30 de maio de 2023
Fotografia oficial dos Presidentes dos países da América do Sul durante a Cúpula do Sul, 30 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 31.05.2023
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O encontro de presidentes da América do Sul, realizado em 30 de maio em Brasília, marcou o retorno do governante venezuelano, Nicolás Maduro, aos fóruns regionais, depois de anos de isolamento, em um encontro em que os líderes concordaram em aprender com os erros do passado e em avançar na sua integração.
Embora tenha havido divergências de opinião em torno do governo venezuelano sobre questões como a migração e os diretos humanos, a cúpula concordou que é necessário formar um bloco regional para enfrentar os desafios políticos e econômicos de um mundo onde os papéis de poder estão mudando.
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que decidiu reintegrar seu país à União de Nações Sul-Americanas (Unasul), resumiu o encontro de alto nível da seguinte forma: "A América do Sul voltou a se reunir depois que destruíram sua unidade. Presidentes de várias faces ideológicas recomeçam um processo de integração."
No marco da cúpula, Maduro manteve reuniões bilaterais com o presidente anfitrião, Luiz Inácio Lula da Silva, e com seus homólogos da Colômbia, Gustavo Petro, da Bolívia, Luis Arce, e da Argentina, Alberto Fernández.
"É uma extraordinária oportunidade para o reencontro", disse o governante venezuelano em sua participação na cúpula, onde fez um chamado a pôr de lado a "ideologização extrema" para avançar na união regional.

"Os povos e os países sul-americanos não podem ficar para trás nesta etapa de nascimento da nova geopolítica mundial. A ideologização extrema das relações entre os nossos países e governos prejudicou-o bastante. Vamos colocá-la de lado, vamos ao reencontro e à integração verdadeira da América do Sul", disse Maduro em seu discurso perante os presidentes e chanceleres dos 12 países convocados por Lula.

Maduro destacou que está nascendo uma nova ordem multipolar no mundo, onde o declínio dos Estados Unidos como potência hegemônica é definitivo e onde estão surgindo novas lideranças como o BRICS, grupo comercial integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e ao qual desejam aderir outras nações, como a Argentina, a Venezuela e a Arábia Saudita.

"Surgiu um movimento muito importante, o BRICS, muito poderoso que se converte na ponta da lança, a vanguarda dos processos de mudança da geopolítica mundial [...] parece se tornar o ímã, o grupo emergente mais poderoso que com boa esperança aponta para uma mudança na geopolítica mundial", disse o presidente da Venezuela.

"Onde vai ficar a América do Sul? Vamos ficar para trás", advertiu o dirigente venezuelano.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (à esquerda), e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (à direita), se cumprimentam após coletiva de imprensa conjunta no Palácio do Planalto, em Brasília, em 29 de maio de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 29.05.2023
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Controvérsia e questionamentos

No marco da cúpula, os presidentes do Chile, Gabriel Boric, e do Uruguai, Luis Lacalle, questionaram as declarações do presidente Lula no sentido de que Maduro havia sido vítima de uma narrativa negativa de Washington.

"Não se pode esconder debaixo do tapete ou fechar os olhos a princípios importantes. Respeitosamente, não concordo com o que Lula disse ontem. Não é uma narrativa, é uma realidade, é grave e tive a oportunidade de vê-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que vivem em nossa pátria e que exigem uma posição firme e clara", assinalou Boric em diálogo com a imprensa.

Lacalle Pou, por sua vez, ficou surpreso com as declarações de Lula.
"Fiquei surpreso quando disse que o que acontece na Venezuela é uma narrativa. Você sabe o que pensamos da Venezuela e do governo da Venezuela", reagiu o uruguaio.

"Se há tantos grupos no mundo a tentar mediar o regresso da democracia plena à Venezuela, para que haja respeito pelos direitos humanos, para que não haja presos políticos, o pior que podemos fazer é tapar o sol com um dedo. Vamos dar-lhe um nome e ajudar."

Um homem usando uma máscara facial passa por um mural representando uma bomba de petróleo e a bandeira venezuelana, em uma rua de Caracas, em 26 de maio de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 30.05.2023
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'Ninguém é obrigado a concordar com ninguém'

Em uma entrevista coletiva após o encontro, Lula reiterou que Maduro e Hugo Chávez foram vítimas de narrativas negativas nas quais eram apresentados como "demônios" a fim de destruir seus projetos governamentais.

"Maduro é um presidente que faz parte do nosso continente, desse pedaço de continente americano. Ele foi convidado [para a cúpula] e houve muito respeito com a participação do Maduro, inclusive com os companheiros que fizeram as críticas, que fizeram as críticas no limite da democracia. Ninguém é obrigado a concordar com ninguém. É assim que a gente vai fazendo", comentou o presidente brasileiro.

"Foi assim que aconteceu com o Chávez e foi assim que aconteceu comigo. Venderam uma mentira e depois ninguém conseguiu provar. O que eu disse para o Maduro é que existe uma narrativa no mundo de que a Venezuela não tem democracia, que ele cometeu erros. É obrigação dele construir uma narrativa com fatos verdadeiros", apontou.
Lula prosseguiu afirmando que disse a Maduro que ele deve preparar um documento com a assinatura de partidos de oposição, de lideranças parlamentares e de governadores venezuelanos atestando a democracia no país para apresentar ao mundo.

"A mesma exigência que o mundo faz para a Venezuela, não faz para a Arábia Saudita. É muito estranho. Eu quero que a Venezuela seja respeitada. Quero isso para o Brasil e o mundo inteiro", disse também.

Segundo Maduro, a Venezuela deixou de receber, desde 2015, 3,995 bilhões de barris de petróleo, além de 232 bilhões de dólares. De igual modo, denunciou que nos últimos oito anos "o imperialismo e seus aliados" tiraram de seu país 400 milhões de dólares por dia.

"Foram sequestrados mais de sete bilhões de dólares em contas europeias e americanas, fomos roubados por empresas como a Citgo, filial da PDVSA [Petróleos da Venezuela] nos Estados Unidos e dinheiro que é do povo venezuelano para a saúde, a habitação e o desenvolvimento", acusou o chanceler venezuelano, Yván Gil, durante a XXVIII Cúpula Ibero-Americana de chefes de Estado e de governo, em março passado.

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As conclusões

O encontro de presidentes da América do Sul publicou, no final, o Consenso de Brasília, onde os presidentes concordaram que a América do Sul "constitui uma região [...] comprometida com a democracia e os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a justiça social, o Estado de direito e a estabilidade institucional, a defesa da soberania e a não ingerência nos assuntos internos".

"[Os líderes] reafirmaram a visão comum de que a América do Sul constitui uma região de paz e cooperação, baseada no diálogo e no respeito pela diversidade dos nossos povos, comprometida com a democracia e os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a justiça social, o Estado de Direito e a estabilidade institucional, a defesa da soberania e a não ingerência nos assuntos internos", lê-se no comunicado final.

Comprometeram-se também a trabalhar para o aumento do comércio e dos investimentos entre os países da região e reconheceram a importância de manter o diálogo regular, com vista a impulsionar o processo de integração.
Decidiram criar um grupo de contato, liderado pelos chanceleres, para a avaliação das experiências dos mecanismos sul-americanos de integração e a elaboração de um roteiro para a integração.
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