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Analista: Brasil cobrou países ricos no G20, mas adesão ao Sul Global pode causar 'guerra econômica'

© Foto / Ricardo Stuckert / Presidência da RepúblicaPresidente Lula fala durante conferência do G20 na Índia
Presidente Lula fala durante conferência do G20 na Índia - Sputnik Brasil, 1920, 11.09.2023
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O Brasil reivindicou no G20 a ajuda que os países mais ricos se comprometeram a dar. A participação do país no encontro foi avaliada como boa por especialistas. Porém um deles destacou que as falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não foram das melhores" e que há "endurecimento" em relação à postura comercial da União Europeia (UE).
Na visão de Alexandre Pires, professor de relações internacionais do Ibmec, o G20 é um fórum de "discussão internacional, não um espaço para tomada de decisões".

"Não é exatamente nas reuniões que o Brasil vai se destacar, mas naquilo que ele vai propor como agenda para o próximo ano. Todo o preparatório que vai ser feito para fazer o encontro no Brasil causar certo impacto", ressaltou, em entrevista à jornalista Melina Saad, da Sputnik Brasil.

Para ele, o Brasil fez bons encontros com países relevantes, como França, Turquia, Egito e Japão.
No entanto, prosseguiu, são inícios de tratativas e nada concreto foi determinado. "Por enquanto, o que paira sobre o Brasil é o acordo entre Mercosul e União Europeia, e esse ainda não teve seus nós desatados", pontuou.
Ainda sobre essa questão, Pires disse que o presidente Lula tem feito uma pressão sobre o bloco europeu, constrição que já acontecia no governo Bolsonaro, mas que ainda é classificada como "fraca".
Pires notou que a UE tem jogado especialmente com seus sócios, como a França, que não têm muito interesse em relação a algumas pautas ambientais.
O intuito seria dificultar o acordo que abriria para o Brasil o mercado agrícola, agrário e agroindustrial da UE, que é extremamente competitivo.
"Então há uma certa má vontade, justificada do ponto de vista estratégico. A retórica [do Brasil] tem buscado quebrar isso e achar algum caminho e solução."
Logo do G20 - Sputnik Brasil, 1920, 11.09.2023
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Por outro lado, um exemplo de bom resultado dos encontros bilaterais do G20 para o Brasil foi, segundo o analista, o acerto da vinda do presidente da França, Emmanuel Macron, ao Brasil, em 2024, justamente para negociar o acordo UE-Mercosul.
Só que o governo brasileiro tem ameaçado sair da negociação e trazer tudo para a estaca zero. "Talvez isso sensibilize alguns sócios europeus que queiram melhorar a sua insegurança, para estreitarem os laços com o Brasil", ponderou. "É preciso chegar a um acordo, ou fazer um acordo, ou discutir o acordo. Porque após 22 anos de discussão, ninguém acredita mais", afirmou.
Ainda de acordo com o professor, o quadro de conflitos bélicos e de insegurança alimentar em vários países tem feito com que o acordo não avance.
Pires enxergou nas declarações do presidente Lula no G20 a sinalização de um "alinhamento" com os pleitos de China e Rússia.
Em sua visão, isso pode fazer com que o Brasil sofra retaliações no campo diplomático com relação à "má vontade em termos de cooperação econômica, tecnológica e científica".

"Mas isso também pode evoluir em um cenário de guerra econômica, em que o Brasil acabe parado na linha de tiro das grandes potências mundiais."

Joko Widodo, presidente indonésio, dá discurso durante cerimônia de encerramento da 43ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN, na sigla em inglês) em Jacarta, Indonésia, 7 de setembro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 10.09.2023
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Brasil assumiu suas prioridades externas

A participação brasileira no G20, no geral, foi boa, na avaliação de Leonardo Paz, professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), feita à Sputnik Brasil. Isso porque o Brasil marcou posicionamentos em relação à diplomacia e em relação aos acordos bilaterais na economia.
Segundo ele, um dos mais significantes foi o acordo entre o Mercosul e a UE, fazendo sentido o presidente Lula avançar nessa questão.

"O acordo já estava fechado com a União Europeia quando veio uma carta adicional com maus compromissos para o Mercosul. Não só compromissos, mas também instrumentos que obrigam mais demandas para o lado do Mercosul. A União Europeia, por sua vez, não está dando contrapartida em relação a isso, então nada mais natural do que ele [Lula] criticar e se posicionar contra isso. Aceitar um acordo da forma como está é uma capitulação ao acordo. O impasse é que a UE quer manter os compromissos, novos compromissos da carta. Já Lula e Mercosul não têm nenhum interesse em manter esse novo compromisso."

O professor ainda levantou outro ponto de discordância, sobretudo em relação a concessões feitas pela gestão anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Paz acredita que a negociação deve continuar estagnada, já que ambas as partes terão que ceder.

"Eu diria que o Lula também tem uma crítica com relação ao que já está no acordo aceito pelo governo Bolsonaro, quanto à questão das compras governamentais e à abertura do setor de compras governamentais pelas empresas europeias. Para o atual governo, isso não poderia ter sido feito, porque vai prejudicar fortemente as empresas brasileiras, que têm o governo como o seu principal cliente", conclui.

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