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Ausência de Lula e autoridades do Sul Global refletem Fórum Econômico Mundial 'relegado a 2º plano'
Ausência de Lula e autoridades do Sul Global refletem Fórum Econômico Mundial 'relegado a 2º plano'
Sputnik Brasil
Ao longo de cinco dias, empresários, chefes de Estado e CEOs participam do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, com discussão de temas que vão desde a... 15.01.2024, Sputnik Brasil
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Porém a ausência das principais autoridades mundiais aponta a perda da "envergadura que o evento já teve no passado", segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.Poucos meses após ser eleito pela primeira vez, em outubro de 2002, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era uma das presenças mais aguardadas do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Era janeiro de 2003 quando o petista fazia a primeira aparição pública em um evento internacional com outros chefes de Estado. Depois de concluir o primeiro mandato e ser reeleito, Lula ressaltou em um dos seus discursos de maior repercussão no encontro, em janeiro de 2007, a importância do fortalecimento das relações entre o Sul Global.E neste ano, com o tema "Reconstruindo a Confiança", o Fórum Econômico Mundial chega a sua 54ª edição com a ausência de Lula pelo segundo ano consecutivo em seu terceiro mandato como presidente do país e, desta vez, sequer terá o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entre a delegação brasileira. Além do petista, não participam neste ano os chefes do Executivo de países como Índia, Rússia, China e África do Sul e também da Colômbia — o presidente Gustavo Petro chegou a confirmar presença, mas cancelou a ida de última hora, o que mostra a perda de relevância do evento para a América Latina.No caso do Brasil, o país é representado por autoridades como a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, além do assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim.Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político e professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Paulo Velasco ressaltou que as ausências recorrentes em Davos mostram que o evento "não tem hoje o alcance e a envergadura" que já teve no passado.Para o especialista, a geopolítica vive um momento de divisões, desencontros e até antagonismos diante da iminência de uma nova ordem mundial. Por conta disso, mesmo com a ausência em Davos, o professor da UERJ lembra que o presidente Lula foi atuante em várias outras cúpulas internacionais, restaurando a chamada diplomacia presidencial."Participou, por exemplo, das cúpulas do G7 ampliado no Japão, do G20 na Índia e do BRICS na África do Sul. Ele próprio organizou uma cúpula sul-americana em Brasília no final de maio, além da cúpula amazônica em Belém no mês de agosto. Participou como anfitrião da cúpula do Mercosul em dezembro, esteve presente exatamente há um ano, no final de janeiro do ano passado, na cúpula da CELAC [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos] na Argentina", argumenta, ao ressaltar o objetivo do novo governo de resgatar a visibilidade brasileira nos espaços internacionais perdida nos últimos anos, principalmente no Sul Global.O que significa o Fórum Econômico Mundial?Organizado anualmente em Davos, o Fórum Econômico Mundial neste ano é realizado entre esta segunda-feira (15) e o dia 19, com a presença de mais de 100 governos, além de chefes de Estado de quase 60 países. "É uma vitrine importante, por exemplo, para o Javier Milei [presidente da Argentina], que acaba de assumir o governo, ou mesmo para o Vladimir Zelensky [presidente da Ucrânia], que tem aparecido menos. Mas quando se pensa nos grandes nomes da geopolítica mundial, se percebe que há uma ausência bastante sentida", defende o cientista político.Já com relação ao Brasil, o especialista enfatiza que o governo Lula tem adotado uma postura "mais revisionista" e busca uma nova governança financeira global, diante de instituições criadas ainda no contexto da Segunda Guerra Mundial que cada vez se mostram mais "anacrônicas" com o interesse de potências emergentes.BRICS e G20É o caso do próprio BRICS, que neste ano ganhou cinco novos membros de países da África (Egito e Etiópia) e do Oriente Médio (Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã), e também do G20, presidido neste ano pelo Brasil e cuja cúpula será realizada em novembro, no Rio de Janeiro."São talvez mais afeitos aos nossos interesses, porque buscamos, a partir deles, contribuir para essa transição sistêmica de poder e a construção de uma ordem internacional mais justa, menos assimétrica, mais representativa do Sul Global e menos dependente do dólar. E também mais afeitos a um crescimento inclusivo, apontando também para temas como combate à fome e combate à pobreza. Esses espaços se mostram mais permeáveis a esse tipo de agenda", explica Paulo Velasco.O que significa desdolarização?Termo que se refere à tentativa global de ficar cada vez menos dependente do dólar, uma das tônicas que ajudou a reduzir a relevância do Fórum Econômico Mundial é também a desdolarização.O fenômeno se intensificou principalmente após as sanções ocidentais contra a Rússia, por conta da operação militar especial na Ucrânia. "Isso criou um cenário de incerteza, e países que já haviam revelado uma inclinação a usar suas moedas locais ou outras moedas nas transações internacionais intensificaram essa busca para depender menos do dólar, que acaba sendo, em última instância, controlado pelos Estados Unidos", diz o analista.Para o cientista político, a própria complexidade da economia política internacional é outro fator que faz eventos como o de Davos serem relegados ao segundo plano e terem uma importância menor. "O mundo é muito mais complexo, é um mundo mais fraturado. Nós vemos, de maneira cíclica e periódica, impulsos ao protecionismo; não por acaso alguns falam em desglobalização […]. O Norte Global também lança mão de protecionismo, como fez na esteira da crise financeira de 2008 e 2009 e no contexto da pandemia", exemplifica.Brasil foca discussões na proteção ao meio ambienteCom foco nas discussões sobre a transição energética, riscos da mudança climática e preservação da Amazônia, a delegação brasileira, chefiada pela ministra Marina Silva, vai participar de vários painéis em Davos até a próxima sexta-feira (19). Conforme o professor da UERJ, essa estratégia do governo está sendo conduzida por conta da cobrança internacional sobre o país para recuperar a imagem ambiental, desgastada ao longo da última década.
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américas, brics, sul global, davos, brasil, marina silva, javier milei, nova ordem mundial, exclusiva, fórum econômico mundial, luiz inácio lula da silva, diplomacia, desdolarização, meio ambiente, transição energética, mudança climática
Porém a ausência das principais autoridades mundiais aponta a perda da "envergadura que o evento já teve no passado", segundo especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Poucos meses após ser eleito pela primeira vez, em outubro de 2002, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva era
uma das presenças mais aguardadas do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Era janeiro de 2003 quando o petista fazia a primeira aparição pública
em um evento internacional com outros chefes de Estado. Depois de concluir o primeiro mandato e ser reeleito, Lula ressaltou em
um dos seus discursos de maior repercussão no encontro, em janeiro de 2007, a importância do fortalecimento das
relações entre o Sul Global.
"O Brasil fez essa opção pela América do Sul, depois o Brasil fez uma opção de nova integração com a África, com a Ásia, criamos o G20, e hoje eu acho que ninguém pode falar em comércio exterior no mundo sem levar em conta a existência da América do Sul, a existência do Brasil, a existência da China, a existência da Índia, porque são países que estão passando por um processo excepcional de transformação", disse à época.
E neste ano, com o tema "Reconstruindo a Confiança", o
Fórum Econômico Mundial chega a sua 54ª edição com a
ausência de Lula pelo segundo ano consecutivo em seu terceiro mandato como presidente do país e, desta vez,
sequer terá o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entre a delegação brasileira. Além do petista, não participam neste ano os chefes do Executivo de países como
Índia, Rússia, China e África do Sul e também da Colômbia — o presidente Gustavo Petro chegou a confirmar presença, mas cancelou a ida de última hora, o que mostra a perda de relevância do
evento para a América Latina.
No caso do Brasil, o país é representado por autoridades como a
ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, além do assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o cientista político e professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Paulo Velasco ressaltou que as ausências recorrentes em Davos mostram que o evento "não tem hoje o alcance e a envergadura" que já teve no passado.
"O Xi Jinping [presidente da China], por exemplo, não vai desde 2017. O Lula, que já foi um nome muito importante nas reuniões do fórum já nos anos 2000, é outra grande ausência […]. Então percebe-se que, embora ainda guarde importância, não tem mais a projeção e o impacto que já teve no passado, até porque nós estamos diante de um cenário internacional muito mais complexo do que em outros momentos", acrescenta.
Para o especialista, a geopolítica vive um momento de divisões, desencontros e até antagonismos diante da iminência de uma nova ordem mundial. Por conta disso, mesmo com a ausência em Davos, o professor da UERJ lembra que o presidente Lula foi atuante em várias outras cúpulas internacionais, restaurando a chamada diplomacia presidencial.
"Participou, por exemplo, das cúpulas do G7 ampliado no Japão, do G20 na Índia e do BRICS na África do Sul. Ele próprio organizou uma cúpula sul-americana em Brasília no final de maio, além da cúpula amazônica em Belém no mês de agosto. Participou como anfitrião da cúpula do Mercosul em dezembro, esteve presente exatamente há um ano, no final de janeiro do ano passado, na cúpula da CELAC [Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos] na Argentina", argumenta, ao ressaltar o objetivo do novo governo de
resgatar a visibilidade brasileira nos espaços internacionais perdida nos últimos anos,
principalmente no Sul Global.
O que significa o Fórum Econômico Mundial?
Organizado anualmente em Davos, o Fórum Econômico Mundial neste ano
é realizado entre esta segunda-feira (15) e o dia 19, com a presença de mais de 100 governos, além de chefes de Estado de quase 60 países. "É uma vitrine importante, por exemplo, para o
Javier Milei [presidente da Argentina], que acaba de assumir o governo, ou mesmo para o
Vladimir Zelensky [presidente da Ucrânia], que tem aparecido menos. Mas quando se pensa nos grandes nomes da geopolítica mundial, se percebe que há uma ausência bastante sentida", defende o cientista político.
Já com relação ao Brasil, o especialista enfatiza que o governo Lula tem adotado uma postura "mais revisionista" e busca uma
nova governança financeira global, diante de instituições criadas ainda no contexto da
Segunda Guerra Mundial que cada vez se mostram mais "anacrônicas" com o interesse de potências emergentes.
"Por isso tem que haver uma revisão, uma atualização desses espaços, sobretudo no que tange à governança econômica e à governança financeira, embora, claro, ele continue insistindo também na importância da reforma do Conselho de Segurança [da ONU] e de outros foros multilaterais", afirma.
É o caso do
próprio BRICS, que neste ano ganhou
cinco novos membros de países da África (Egito e Etiópia) e do Oriente Médio (Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Irã), e também do G20, presidido neste ano pelo Brasil e cuja cúpula
será realizada em novembro, no Rio de Janeiro.
"São talvez mais afeitos aos nossos interesses, porque buscamos, a partir deles, contribuir para essa transição sistêmica de poder e a construção de uma ordem internacional mais justa, menos assimétrica, mais representativa do Sul Global e menos dependente do dólar. E também mais afeitos a um crescimento inclusivo, apontando também para temas como combate à fome e combate à pobreza. Esses espaços se mostram mais permeáveis a esse tipo de agenda", explica Paulo Velasco.
O que significa desdolarização?
Termo que se refere à tentativa global de ficar cada vez menos dependente do dólar, uma das tônicas que ajudou a reduzir a relevância do Fórum Econômico Mundial é também a desdolarização.
O fenômeno se intensificou principalmente após as
sanções ocidentais contra a Rússia, por conta da
operação militar especial na Ucrânia. "Isso criou um cenário de incerteza, e países que já haviam revelado uma inclinação a usar suas moedas locais ou outras moedas nas transações internacionais intensificaram essa busca para depender menos do dólar, que acaba sendo, em última instância,
controlado pelos Estados Unidos", diz o analista.
Para o cientista político, a própria complexidade da economia política internacional é outro fator que faz eventos como o de Davos serem relegados ao segundo plano e terem uma importância menor. "O mundo é muito mais complexo, é um mundo mais fraturado. Nós vemos, de maneira cíclica e periódica, impulsos ao protecionismo; não por acaso alguns falam em desglobalização […]. O Norte Global também lança mão de protecionismo, como fez na esteira da crise financeira de 2008 e 2009 e no contexto da pandemia", exemplifica.
15 de dezembro 2023, 11:40
Brasil foca discussões na proteção ao meio ambiente
Com foco nas discussões sobre a transição energética, riscos da mudança climática e preservação da Amazônia, a delegação brasileira, chefiada pela ministra Marina Silva, vai participar de vários painéis em Davos até a próxima sexta-feira (19). Conforme o professor da UERJ, essa estratégia do governo está sendo conduzida por conta da cobrança internacional sobre o país para recuperar a imagem ambiental, desgastada ao longo da última década.
"É um Brasil que se faz representar, desta vez, por autoridades de menor peso do que já aconteceu em outros momentos […]. Para a Argentina de Milei, é fundamental estar lá, porque eles precisam do aval da comunidade econômica e financeira internacional. [Para] O Brasil, nem tanto. Neste momento, precisa prestar contas com relação ao meio ambiente, para que os empresários escutem o compromisso com um crescimento econômico atento à questão ambiental e ao desenvolvimento sustentável", finaliza.