https://noticiabrasil.net.br/20240308/tentaculos-de-influencia-para-quem-os-estados-unidos-vendem-armas-e-por-que--33463855.html
'Tentáculos de influência': para quem os Estados Unidos vendem armas e por quê?
'Tentáculos de influência': para quem os Estados Unidos vendem armas e por quê?
Sputnik Brasil
Hoje os Estados Unidos vendem armas a mais de 100 países, espalhando seus tentáculos de influência por praticamente todo o mundo. Geralmente, essas trocas... 08.03.2024, Sputnik Brasil
2024-03-08T14:06-0300
2024-03-08T14:06-0300
2024-03-08T15:11-0300
panorama internacional
joe biden
estados unidos
washington
lockheed martin
casa branca
arábia saudita
defesa
raytheon
exclusiva
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e8/03/08/33465023_0:160:3072:1888_1920x0_80_0_0_6b410e3848dc8da8778a5159c0150e25.jpg
A princípio, o resultado do comércio de armas praticado por Washington é a desestabilização do balanço internacional de poder. Pelo conceito de balanço de poder entenda-se a situação em que dois potenciais adversários se encontrem em iguais condições de causar danos significativos um ao outro.Afinal, os países naturalmente não entrariam em um conflito se avaliassem como remotas as chances de sua vitória. Assim sendo, muitos governos se armam não exatamente para o ataque, mas sim para que outros não o ataquem. Entretanto, há um limite para esse incremento de sua capacidade defensiva e militar, pois caso um governo comece a se armar muito, isso acaba provocando percepções de ameaça em seus vizinhos, escalando as tensões e dando início a corridas armamentistas.Seja como for, o equilíbrio de poder com potenciais rivais e a observação das capacidades adversárias tendem a ser os principais fatores no cálculo de sobrevivência dos Estados nacionais, determinando o quanto um país precisa se armar para se sentir seguro.Por sua vez, quando o governo dos Estados Unidos aprova o envio de armas a algum país, em todos os seus comunicados oficiais é comum escutarmos que tais vendas não alteram o equilíbrio de poder regional. Ora, um desequilíbrio de poder bastante evidente é o que leva à escalada de conflitos e à instabilidade em muitas regiões já altamente problemáticas por si só, como é o caso do Oriente Médio, por exemplo.Ainda assim, é bastante ilustrativo que os Estados Unidos tenham uma presença tão massiva em todo o mundo, justamente por conta da venda de armas para a "manutenção da paz" internacional. Seus tentáculos de influência em todos os cantos do planeta através da exportação de empresas militares estadunidenses são talvez o principal retrato desse engajamento americano no mundo.Mas quais outros ganhos, além de influência, Washington pode obter com isso?Muita das vezes trata-se de garantir a lealdade de um regime específico em uma localidade estratégica. E as armas são a moeda que garante essa lealdade. Por meio delas, é como se a Casa Branca enviasse um sinal para o governo comprador de que os Estados Unidos chancelam e aprovam a sua continuidade no poder. No mais, outra das razões pelas quais os americanos vendem armas é no sentido de terceirizar a sua função de policial do mundo.Na Ásia, por sua vez, o comércio de armas empregado pelos americanos visa fortalecer regimes locais para que estes se alinhem aos interesses de Washington contra a China. Nesse caso, as armas americanas vêm acompanhadas da expectativa de que, diante do conflito global que se avizinha, os países compradores ajudarão os Estados Unidos a projetarem seus interesses globais.Afinal, onde o comércio de armas realmente funciona é na manutenção de parcerias fortes com países estratégicos. Aliados americanos como a Coreia do Sul, a Austrália e o Japão são uma prova disso. É muito provável que esses Estados apoiem os Estados Unidos em uma eventual crise regional no Sudeste Asiático envolvendo Washington e Pequim.Se, por um lado, na Ásia essas parcerias parecem bastante seguras, em outras regiões do mundo a situação não é tão simples como parece. Um caso emblemático é o da Arábia Saudita. A administração de Barack Obama aprovou enormes transferências de armas para os sauditas, condicionando essas transferências à sua não utilização para a violação de direitos humanos fundamentais.A Arábia Saudita também não poderia usar essas armas contra populações civis em nenhum tipo de conflito doméstico ou regional. No entanto, há quem acuse a Arábia Saudita de ter utilizado equipamento americano no contexto da guerra no Iêmen, com relatos que incluem bombardeio de hospitais e diversas outras estruturas civis.Tais relatos baseiam-se na investigação de jornalistas independentes que identificaram nos destroços dos ataques diversos pedaços de equipamentos e mísseis com o número de série de empresas americanas como Lockheed Martin e Raytheon. Não à toa, os houthis do Iêmen enxergaram os ataques sauditas como patrocinados diretamente pelos americanos, principais responsáveis por enviar armas para Riad.Entretanto, os Estados Unidos têm poucas condições de pressionar o governo saudita a controlar a utilização desses armamentos, pois durante muito tempo a Arábia Saudita foi cortejada pela Casa Branca como um dos principais parceiros regionais de Washington no Oriente Médio.Os sauditas também são fundamentais para o cálculo estratégico americano de contenção do Irã. Quando, durante a administração Trump, o Congresso americano tentou aprovar uma resolução que visava limitar o envio de armas a Riad, tal iniciativa acabou não avançando devido a um veto do presidente.E mesmo sob a administração atual, de Joe Biden, embora em menor intensidade, as armas estadunidenses continuam a fluir para o governo saudita, que hoje conta com enorme poder de barganha perante a Casa Branca em muitos aspectos. A ideia é que os Estados Unidos, ao venderem armas, obtenham a lealdade de governos estratégicos ao redor do mundo, mas, ao contrário do que se espera, em algumas situações são os próprios Estados Unidos que passam a dever lealdade aos governos compradores.Afinal, se porventura Washington decidir parar de vender armas para determinado país, esse país pode vir a chantagear os americanos, ameaçando comprar armas de outros fornecedores.Outro caso emblemático é o de Israel, maior recipiente de ajuda militar estadunidense. Hoje Israel é o principal exemplo da falta de poder de barganha que os Estados Unidos detêm perante um parceiro estratégico.Afinal, o governo dos Estados Unidos também assiste inerte à forma como Tel Aviv tem conduzido a sua guerra em Gaza contra o Hamas, que já culminou na morte de mais de 30 mil vidas palestinas. Ainda assim o que vemos é um esforço de continuidade por parte dos americanos de enviar ainda mais ajuda aos israelenses, apesar das críticas e da censura internacional.Como resultado, esses tentáculos de influência por meio da venda de armas fazem dos Estados Unidos não só um dos principais sequestradores da segurança global, como também um refém de seus parceiros mais transgressores.As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
https://noticiabrasil.net.br/20240308/midia-governo-biden-aprovou-mais-de-100-remessas-militares-a-israel-sem-conhecimento-do-congresso-33459875.html
https://noticiabrasil.net.br/20240223/pequim-acusa-eua-de-vender-armas-a-taiwan-e-usar-a-ilha-para-conter-a-china-33224951.html
https://noticiabrasil.net.br/20240302/polonia-assina-acordo-de-us-25-bi-com-eua-para-sistema-avancado-de-defesa-aerea-fotos-33366931.html
estados unidos
washington
arábia saudita
riad
israel
tel aviv
oriente médio
china
pequim
sudeste asiático
iêmen
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
2024
Valdir da Silva Bezerra
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/0b/11/31534004_442:403:2086:2047_100x100_80_0_0_d805a9dc808d7cbb8a7e0afbd56c1fa7.jpg
Valdir da Silva Bezerra
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/0b/11/31534004_442:403:2086:2047_100x100_80_0_0_d805a9dc808d7cbb8a7e0afbd56c1fa7.jpg
notícias
br_BR
Sputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e8/03/08/33465023_171:0:2902:2048_1920x0_80_0_0_8f83b12fd82ae4f668be415448952b91.jpgSputnik Brasil
contato.br@sputniknews.com
+74956456601
MIA „Rossiya Segodnya“
Valdir da Silva Bezerra
https://cdn.noticiabrasil.net.br/img/07e7/0b/11/31534004_442:403:2086:2047_100x100_80_0_0_d805a9dc808d7cbb8a7e0afbd56c1fa7.jpg
joe biden, estados unidos, washington, lockheed martin, casa branca, arábia saudita, defesa, raytheon, exclusiva, armas, eua, riad, israel, tel aviv, congresso dos eua, barack obama, donald trump, venda de armas, poder, oriente médio, china, pequim, sudeste asiático, iêmen
joe biden, estados unidos, washington, lockheed martin, casa branca, arábia saudita, defesa, raytheon, exclusiva, armas, eua, riad, israel, tel aviv, congresso dos eua, barack obama, donald trump, venda de armas, poder, oriente médio, china, pequim, sudeste asiático, iêmen
'Tentáculos de influência': para quem os Estados Unidos vendem armas e por quê?
14:06 08.03.2024 (atualizado: 15:11 08.03.2024) Especiais
Hoje os Estados Unidos vendem armas a mais de 100 países, espalhando seus tentáculos de influência por praticamente todo o mundo. Geralmente, essas trocas comerciais no ramo armamentista vêm acompanhadas de condições de submissão aos interesses americanos, mas nem sempre é assim.
A princípio, o resultado do comércio de armas praticado por Washington é a desestabilização do balanço internacional de poder. Pelo conceito de balanço de poder entenda-se a situação em que dois potenciais adversários se encontrem em iguais condições de causar danos significativos um ao outro.
Afinal, os países naturalmente
não entrariam em um conflito se avaliassem como remotas as chances de sua vitória. Assim sendo, muitos governos se armam não exatamente para o ataque, mas sim para que outros não o ataquem. Entretanto, há um limite para esse
incremento de sua capacidade defensiva e militar, pois caso um governo comece a se armar muito, isso acaba provocando percepções de ameaça em seus vizinhos, escalando as tensões e dando início a corridas armamentistas.
Seja como for, o equilíbrio de poder com potenciais rivais e a observação das capacidades adversárias tendem a ser os principais fatores no
cálculo de sobrevivência dos Estados nacionais, determinando
o quanto um país precisa se armar para se sentir seguro.
Por sua vez, quando o governo dos Estados Unidos aprova o envio de armas a algum país, em todos os seus comunicados oficiais é comum escutarmos que tais vendas não alteram o equilíbrio de poder regional. Ora, um desequilíbrio de poder bastante evidente é o que leva à escalada de conflitos e à instabilidade em muitas regiões já altamente problemáticas por si só, como é o caso do Oriente Médio, por exemplo.
Ainda assim, é bastante ilustrativo que os Estados Unidos tenham uma presença tão massiva em todo o mundo, justamente por conta da venda de armas para a "manutenção da paz" internacional. Seus tentáculos de influência em todos os cantos do planeta através da exportação de empresas militares estadunidenses são talvez o principal retrato desse engajamento americano no mundo.
Mas quais outros ganhos, além de influência, Washington pode obter com isso?
Muita das vezes trata-se de
garantir a lealdade de um regime específico em uma localidade estratégica. E as armas são a moeda que garante essa lealdade. Por meio delas, é como se a Casa Branca enviasse um sinal para o governo comprador de que os Estados Unidos chancelam e aprovam a sua continuidade no poder. No mais, outra das razões pelas quais os americanos vendem armas é no sentido de
terceirizar a sua função de policial do mundo.
Na Ásia, por sua vez, o comércio de armas empregado pelos americanos visa fortalecer regimes locais para que estes se alinhem aos interesses de Washington contra a China. Nesse caso, as armas americanas vêm acompanhadas da expectativa de que, diante do conflito global que se avizinha, os países compradores ajudarão os Estados Unidos a projetarem seus interesses globais.
Afinal, onde o comércio de armas realmente funciona é na manutenção de parcerias fortes com países estratégicos. Aliados americanos como a Coreia do Sul, a Austrália e o Japão são uma prova disso. É muito provável que esses Estados apoiem os Estados Unidos em uma eventual crise regional no Sudeste Asiático envolvendo Washington e Pequim.
Se, por um lado, na Ásia essas parcerias parecem bastante seguras, em outras regiões do mundo a situação não é tão simples como parece. Um caso emblemático é o da Arábia Saudita. A administração de
Barack Obama aprovou enormes transferências de armas para os sauditas, condicionando essas transferências à sua não utilização para a violação de direitos humanos fundamentais.
A Arábia Saudita também não poderia usar essas armas contra populações civis em nenhum tipo de conflito doméstico ou regional. No entanto, há quem acuse a Arábia Saudita de ter utilizado equipamento americano no contexto da guerra no Iêmen, com relatos que incluem bombardeio de hospitais e diversas outras estruturas civis.
Tais relatos baseiam-se na investigação de jornalistas independentes que identificaram nos destroços dos ataques diversos pedaços de equipamentos e mísseis com o número de série de empresas americanas como Lockheed Martin e Raytheon. Não à toa, os houthis do Iêmen enxergaram os ataques sauditas como patrocinados diretamente pelos americanos, principais responsáveis por enviar armas para Riad.
Entretanto, os Estados Unidos têm poucas condições de pressionar o governo saudita a controlar a utilização desses armamentos, pois durante muito tempo a Arábia Saudita foi cortejada pela Casa Branca como um dos principais parceiros regionais de Washington no Oriente Médio.
Os sauditas também são fundamentais para o cálculo estratégico americano de contenção do Irã. Quando, durante a administração Trump,
o Congresso americano tentou aprovar uma resolução que visava limitar o envio de armas a Riad,
tal iniciativa acabou não avançando devido a um veto do presidente.
E mesmo sob a administração atual, de Joe Biden, embora em menor intensidade, as armas estadunidenses continuam a fluir para o governo saudita, que hoje conta com enorme poder de barganha perante a Casa Branca em muitos aspectos. A ideia é que os Estados Unidos, ao venderem armas, obtenham a lealdade de governos estratégicos ao redor do mundo, mas, ao contrário do que se espera, em algumas situações são os próprios Estados Unidos que passam a dever lealdade aos governos compradores.
Afinal, se porventura Washington decidir parar de vender armas para determinado país, esse país pode vir a chantagear os americanos, ameaçando comprar armas de outros fornecedores.
Outro caso emblemático é o de Israel, maior recipiente de ajuda militar estadunidense. Hoje Israel é o principal exemplo da falta de poder de barganha que os Estados Unidos detêm perante um parceiro estratégico.
Afinal, o governo dos Estados Unidos
também assiste inerte à forma como Tel Aviv tem conduzido a sua guerra em Gaza contra o Hamas, que já culminou na morte de mais de
30 mil vidas palestinas. Ainda assim o que vemos é um
esforço de continuidade por parte dos americanos de enviar ainda mais ajuda aos israelenses, apesar das críticas e da censura internacional.
Como resultado, esses tentáculos de influência por meio da venda de armas fazem dos Estados Unidos não só um dos principais sequestradores da segurança global, como também um refém de seus parceiros mais transgressores.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.