'Israel não quer um cessar-fogo': negociações sobre trégua mantidas em 2º plano têm aval de Biden?
23:46 07.05.2024 (atualizado: 07:04 08.05.2024)
© AP Photo / Ariel SchalitPrédio da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês) parcialmente destruído por militares israelenses sob a justificativa de encontrarem túneis usados pelo Hamas nas proximidades. Faixa de Gaza, 8 de fevereiro de 2024
© AP Photo / Ariel Schalit
Nos siga no
O Hamas afirmou na última segunda-feira (6) aceitar uma proposta de cessar-fogo sugerida por Egito e Catar, que prevê a liberação de reféns mantidos em cárcere desde outubro do ano passado. Porém, Israel disse que o acordo não atendia às suas demandas e decidiu continuar com seu ataque a Rafah.
Enquanto as negociações de cessar-fogo seguem suspensas, Israel já iniciou os ataques aéreos e terrestres em Rafah, no sul de Gaza, onde refugiados do conflito promovido por Tel Aviv foram orientados a se abrigar em segurança no início dos confrontos, há sete meses. Mais de 1,4 milhão de palestinos desabrigados estão na cidade, e a ofensiva de Israel continua sem qualquer plano para lidar com a crise humanitária em curso.
Nesta terça-feira (7), Esteban Carrillo, um jornalista equatoriano com base em Beirute e editor do The Cradle, analisou para a Sputnik as implicações políticas que os bombardeios terão para o presidente dos EUA, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu.
"Há semanas, existe esse esforço para parecer que é o Hamas que não quer um acordo, que eles não querem se sentar para aceitar as demandas de Israel. Mas, na realidade, é o contrário. O Hamas tem sido muito firme no que eles estão pedindo. E é Israel que não quer um cessar-fogo duradouro. Esse é realmente o cerne da questão aqui", declarou.
Carrillo acrescentou que o diretor da CIA, William Burns, estaria envolvido na elaboração do projeto que foi apresentado e até recebeu o aval do Hamas. Porém, isso teria irritado as autoridades israelenses, que disseram se sentir surpreendidas pelos EUA.
"Israel manteve que entraria em Rafah. Com ou sem um acordo de cessar-fogo, eles disseram 'vamos entrar em Rafah'. Por quê? Porque Rafah é onde está a vitória final contra o Hamas, certo? É isso que eles têm dito para todos", disse Carrillo.
"Rafah já está sitiada há semanas. Nas últimas 24 horas, essa pequena faixa de terra tem sido constantemente bombardeada durante a noite, logo após o Hamas aprovar o acordo de cessar-fogo. Israel implantou o que eles chamam de bomba de fogo em uma área onde 1,5 milhão de pessoas estão aglomeradas após serem orientadas a ir para lá", acrescenta.
Enquanto isso, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que o compromisso da administração com a segurança de Israel permanece inabalável. Diante disso, Netanyahu não parece estar "nem um pouco preocupado" com a situação, apesar de políticos dos EUA verem seus números de popularidade despencarem devido às posições dos eleitores norte-americanos sobre a guerra.
"Bem, não, ele não parece preocupado, certo? Ele não mostrou um pingo de preocupação desde 7 de outubro", respondeu Carrillo, observando que, após Antony Blinken ter retornado de uma viagem a Israel, ele disse que as ações do governo refletem a maioria do que o público israelense deseja.
"Não é como se [Netanyahu] tivesse parado de mostrar preocupação, é apenas que nunca houve preocupação. E o que os EUA estão fazendo ao interromper essa remessa de armas é apenas uma remessa de munição que eles estão retendo. Não é como se eles estivessem segurando um pacote de US$ 16 bilhões [R$ 81,2 bilhões] que eles assinaram. É um movimento tão fraco. Se você realmente quisesse fazer algo, poderia ter feito algo meses atrás, poderia ter feito algo semanas atrás", defende o especialista.
Para Carrillo, os EUA não vão impedir a continuidade das ações militares na Faixa de Gaza, apesar de tentar parecer o contrário. "Não acho que eles vão interromper as entregas de bombas. O próprio Biden disse que não há linhas vermelhas para Israel", pontua.
"E [o governo dos EUA] pode apontar e demonstrar indignação, e eles podem dizer tudo o que quiserem sobre como Benjamin Netanyahu é a pior pessoa do mundo. No final das contas, as bombas vão continuar chegando", finalizou.