Argentina paralisa durante 2ª greve geral contra o governo Milei
00:33 10.05.2024 (atualizado: 07:44 10.05.2024)
© AP Photo / Natacha PisarenkoManifestante se enrola em bandeira argentina durante protesto contra a escassez de alimentos em cozinhas comunitárias e as reformas econômicas propostas pelo presidente Javier Milei. Buenos Aires, Argentina, 7 de maio de 2024
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A pouca circulação de pedestres e carros em Buenos Aires nesta quinta-feira (9), apesar de algumas lojas de bairro estarem abertas, trouxe uma mensagem clara: um ambiente que lembrava os dias da pandemia de COVID-19, quando as ruas ficaram desertas e silenciosas, com apenas alguns poucos ônibus em movimento.
A cena podia variar dependendo do bairro, mas o centro da capital argentina era um claro exemplo da adesão à segunda greve geral contra o governo de Javier Milei, na qual quase todos os sindicatos de transporte participaram. O resultado: um clima fantasmagórico, suavizado por um sol radiante que trouxe um pouco de vida às praças.
"Acredito que o dia de hoje merece ser qualificado como um dia histórico", afirmou à Sputnik o secretário-geral da Central dos Trabalhadores da Argentina (CTA), Hugo Yasky, cuja entidade convocou a ação, junto com a outra central sindical do país, a Confederação Geral do Trabalho (CGT).
Os bancos fecharam as portas, as escolas permaneceram fechadas, a atividade nos hospitais foi reduzida ao mínimo, e os serviços de transporte público, sejam trens, aviões, ônibus ou metrô, foram interrompidos, exceto por uma empresa de ônibus na capital.
"O movimento operário, unido, sem fissuras, demonstra que o povo argentino está disposto a continuar reivindicando e lutando para que o governo nacional pare de usar os mais pobres e os salários como variável do ajuste que está sendo impiedosamente aplicado", afirmou Yasky, que é deputado nacional pela aliança opositora peronista União pela Pátria.
Os órgãos públicos também foram afetados pelo impacto da greve, apesar de o governo ter esclarecido que o dia seria descontado dos salários de quem aderisse ao protesto.
Secretário-geral da CTA desde 2006, Yasky disse que a greve geral de 24 horas, a segunda enfrentada pelo governo em quase cinco meses de mandato, "é uma demonstração clara de que todo o país rejeita as políticas de Javier Milei, uma mensagem de condenação inquestionável".
"A despeito das ameaças de sanções em várias empresas, do governo ter anunciado a decisão de descontar o dia de greve, os trabalhadores e trabalhadoras deram um grande exemplo de consciência sindical e de consciência de classe", disse.
A coleta de lixo também não funcionou em Buenos Aires. Além da capital argentina, onde a greve teve maior visibilidade, "a magnitude do movimento é evidente em todas as províncias do país", acrescentou o líder da CTA, central que tem uma ala autônoma.
No setor industrial, cuja atividade caiu 14,8% no primeiro trimestre, "a adesão foi praticamente total", um apoio também visível no comércio, dependendo do bairro, e no segmento público, onde "o movimento de greve foi praticamente de 100%", especificou.
"Temos também um nível muito alto de adesão no setor de transporte, tanto aéreo quanto terrestre. Em algumas províncias, também vimos que o setor do trabalho rural se juntou ao movimento. Em resumo, uma jornada exemplar de luta protagonizada novamente pelo movimento sindical da Argentina", disse.
Greve faz crítica à 'Lei Omnibus'
Esta segunda greve, mais forte que a anterior, questiona o ajuste nos gastos públicos implementado pelo governo, que foi de mais de 30% no primeiro trimestre, e também uma proposta legislativa em andamento no Congresso.
A Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, também conhecida como "Lei Omnibus", em discussão no Senado, autoriza a privatização de empresas públicas, concede poderes legislativos ao presidente e introduz uma série de reformas profundas, como a trabalhista, tributária e um regime para fomentar grandes investimentos.
Em um cenário de crescente conflito social, "o movimento operário argentino se solidariza com esta medida de força, com os aposentados e pensionistas, que estão sofrendo o pior deste ajuste", disse o líder da central sindical.
"A legitimidade da greve é indiscutível. Todas as pesquisas de opinião que foram realizadas para entender o que a população pensa mostram que dois terços da população concordam com os motivos da greve", afirmou Yasky.
Embora o governo tenha considerado a greve como uma ação política, o protesto "mostra claramente que há uma espécie de plebiscito através dessas ações, sinalizando ao governo a urgência de uma mudança de rumo".
A ação recebeu o apoio da Confederação Sindical Internacional, além de várias centrais sindicais na Europa, América Latina e Ásia.
Em Wall Street, no Fundo Monetário Internacional (FMI), na Bolsa de Nova York, "nos lugares onde aplaudem e celebram o ajuste de Milei, também se perguntam até onde a paciência do povo argentino vai durar, até quando os argentinos aguentarão as medidas que estão sendo impostas: aqui há uma resposta clara de que essa paciência começa a mostrar sinais de esgotamento", afirmou Yasky.
A primeira greve que Javier Milei enfrentou foi em 24 de janeiro, 45 dias após assumir a presidência. Os problemas na economia argentina, no qual os salários perderam seu poder aquisitivo devido à inflação, fez com que a produção industrial e a construção civil caíssem no primeiro trimestre em 14,8% e 30,3%, respectivamente.