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Enfraquecidos, Macron e Scholz lideram uma Europa em 'estagnação econômica', apontam analistas

© AP Photo / Ebrahim NorooziO presidente francês, Emmanuel Macron (à esquerda) e o chanceler alemão, Olaf Scholz, caminham no Palácio de Meseberg, residência oficial do Executivo alemão, rumo ao Conselho Ministerial Franco-Alemão. Meseberg, ao norte de Berlim, 28 de maio de 2024
O presidente francês, Emmanuel Macron (à esquerda) e o chanceler alemão, Olaf Scholz, caminham no Palácio de Meseberg, residência oficial do Executivo alemão, rumo ao Conselho Ministerial Franco-Alemão. Meseberg, ao norte de Berlim, 28 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 05.06.2024
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De opiniões opostas quanto ao acordo Mercosul-UE a discordâncias em como agir em relação ao conflito ucraniano, Macron e Scholz têm cada vez mais divergido em público. Em tempos de crescimento do nacionalismo e do euroceticismo, qual será o futuro da União Europeia?
Depois de anos perseguindo interesses norte-americanos através da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), a União Europeia (UE) passa hoje por um momento de crises políticas e econômicas em muitos dos seus Estados-membros.
Para enfrentar esses desafios, Alemanha e França, suas duas maiores economias, vêm adotando posturas distintas, levando também a divergências públicas entre o presidente francês, Emmanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholz.
Os países da União Europeia, afirma José Menezes Gomes, professor de economia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), "encontram-se em estagnação econômica, inflação elevada, aumento do desemprego e um nível de endividamento que compromete a continuidade de participação no euro".
Nesse cenário, Scholz tem dado declarações oscilantes sobre o maior tema geopolítico do Velho Continente: o conflito ucraniano.
"Em um momento afirma que vai contribuir com a defesa de cada metro da UE. No outro comete um grave erro diplomático quando deu a entender que as forças francesas e britânicas estão operando mísseis de cruzeiro que estão ostensivamente sob controle ucraniano", afirma Menezes.

"Tudo isso acontece quando a popularidade de Olaf cai ainda mais, enquanto se expande a extrema-direita na Alemanha e no Parlamento europeu."

As principais discordâncias públicas entre os dois líderes vão desde tratados econômicos, como o acordo de livre comércio Mercosul-UE, aprovado pela Alemanha mas rejeitado pela França como forma de proteger seus agricultores, a, mais importante, como agir frente ao conflito ucraniano.
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Natali Hoff, professora de relações internacionais e ciência política da Uninter, explica que Macron adota uma "postura muito mais agressiva do ponto de vista discursivo, enquanto Scholz, uma muito mais discreta".
Macron fez um discurso no qual falou que se preciso, enviaria tropas francesas à Ucrânia, mas "Olaf Scholz desconversou", disse Hoff.

"Apesar desse posicionamento, quando olhamos para auxílios à Ucrânia, desde fevereiro a Alemanha tem ajudado muito mais, pelo menos financeiramente, do que a própria França, embora a França envie armamentos mais pesados."

Para Kai Michael Kenkel, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), essas diferenças ocorrem "entre os líderes de países em que um considera o outro seu mais importante e próximo aliado".
"Dentro de qualquer aliança, vão ter diferenças de opinião com base nas experiências distintas dos parceiros", afirma. Ainda mais quando os atores são pessoas tão distintas, como Macron, "que quer deixar seu legado e gosta de grandes discursos", e Scholz, "que é reticente na comunicação", entrando em contradição até mesmo com seu ministro da Defesa, Boris Pistorius.
Macron sempre adotou uma postura mais belicista, lembra Gomes. Em entrevistas para a mídia britânica The Economist em 2019 e 2024, o presidente francês reforçou a necessidade da União Europeia de recuperar um protagonismo militar, "dotando-se de mecanismos de defesa próprios".

"Naquele momento [2019], o presidente francês afirmou que a OTAN estava em estado de morte cerebral. Para Macron se tratava de uma traição de Donald Trump [ex-presidente dos EUA]."

Já em 2024, o presidente da França, ao afirmar seu interesse de enviar tropas da OTAN à Ucrânia, colocou o mundo sob risco de um "conflito nuclear", afirmou Gomes.
Isso acontece em meio às consequências da crise trazidas pela sua política de austeridade, "que tem retirado cada vez mais direitos sociais do povo francês, como a nova reforma da Previdência".
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Visões distintas da Europa

Para Hoff, essas diferenças de postura não significam necessariamente um afastamento entre as nações. Ambos os líderes, menciona a especialista, têm um posicionamento a favor da União Europeia e da integração regional — ainda mais considerando os percalços que o bloco vem tendo, como o Brexit e as crises econômicas —, mas veem esse tema de maneira bastante distinta.

"Eles têm visões diferentes de como isso [a integração europeia] deve acontecer […]. E essas tensões estão vinculadas a essas visões que esses dois Estados têm."

Segundo Hoff, essas diferenças de visão do papel europeu se refletem no fracasso do acordo Mercoul-UE, nas políticas energéticas — que aproximavam a Alemanha da Rússia graças ao fornecimento de gás natural — e nas ações de defesa.
A Alemanha, até por conta de um posicionamento geográfico mais próximo do Leste Europeu, pensa nas questões de defesa a partir de uma integração com os Estados Unidos e com a OTAN. A França, por outro lado, defende o desenvolvimento nacional de suas próprias tecnologias. "É um país um pouco mais fechado em comparação à Alemanha", disse Hoff.
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Um exemplo disso é o desenvolvimento do SkyShield, sistema de defesa área europeia que não inclui a França, "justamente porque a França defende que isso seja feito a partir de tecnologia europeia, preferencialmente francesa.

"Na França a gente já percebe uma política um pouco mais nacionalista nesse quesito."

Qual o futuro da União Europeia?

Ainda que determinem o futuro da Europa hoje, Macron e Scholz já parecem estar com os dias contados. O presidente francês já está no seu segundo mandato e não pode concorrer a uma reeleição, enquanto Scholz enfrenta um baixo índice de popularidade, prejudicado ainda mais pela crise orçamentária que o país vive.
Sendo assim, é provável que não estejam no comando quando houver a repercussão de seus atos, de "colocar em risco o dinheiro público e a vida de sua população […] para que grandes grupos monopolistas possam se apropriar do patrimônio ucraniano", resume Gomes.

"Enquanto isso, os países do Leste Europeu que entraram na UE continuam como países agrícolas, e seguem os problemas sociais, que se agravam com o futuro risco da concorrência agrícola com a Ucrânia."

Essas crises domésticas, destaca Hoff, aumentam a força dos movimentos nacionalistas, "que no contexto europeu são geralmente acompanhados de certo euroceticismo — críticas ao projeto da União Europeia e da integração regional".
Nesse contexto, outros líderes europeus buscam um maior protagonismo dentro da OTAN e da União Europeia, como Donald Tusk, primeiro-ministro da Polônia e ex-presidente do Conselho Europeu.
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Ainda assim, Scholz e Macron não podem ser desconsiderados da política europeia, sublinha a professora de relações internacionais, muito por conta da envergadura de seus países. "São Estados que têm posicionamentos centrais."
"Portanto as suas lideranças, quando se colocam […], eles têm os recursos para sustentar essa posição de liderança."
Em virtude disso, não há hoje alguém no continente europeu que possa substituir Macron e Scholz, ainda que "enfraquecidos", classificou.
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