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Recusa à proposta de paz russa vai agravar deterioração de Kiev no campo de batalha, aponta analista

© Sputnik / Stanislav KrasilnikovMilitares russos efetuam disparo com lançador múltiplo de foguetes BM-21 Grad contra posições ucranianas durante a operação militar russa na Ucrânia, em local desconhecido na República Popular de Donetsk (RPD), na Rússia, em 28 de outubro de 2023
Militares russos efetuam disparo com lançador múltiplo de foguetes BM-21 Grad contra posições ucranianas durante a operação militar russa na Ucrânia, em local desconhecido na República Popular de Donetsk (RPD), na Rússia, em 28 de outubro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 14.06.2024
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialista enfatiza que a recusa de Kiev aos termos de Moscou para negociar o fim do conflito agrava a situação das forças ucranianas no front, piora a posição de Kiev na mesa de negociação e coloca pressão sobre a cúpula para a paz na Ucrânia.
Em conversa com a liderança do Ministério das Relações Exteriores da Rússia nesta sexta-feira (14), o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou as condições de Moscou para iniciar negociações de paz com a Ucrânia.
A primeira é que as Forças Armadas ucranianas retirem suas tropas da República Popular de Donetsk (RPD), da República Popular de Lugansk (RPL) e das regiões de Zaporozhie e Kherson, todos esses territórios liberados pela Rússia. A segunda é que Kiev adote um status de neutralidade e de território livre de armas nucleares, e comunique à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) o abandono dos planos de adesão à aliança.

"Assim que Kiev declarar a prontidão para tal decisão e iniciar uma retirada real das tropas dessas regiões, e também notificar oficialmente o abandono dos planos de adesão à OTAN, o nosso lado imediatamente, literalmente no mesmo minuto, seguirá a ordem de cessar-fogo e iniciará negociações. Repito, faremos isso imediatamente", disse o presidente russo.

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Putin enfatizou a disponibilidade de Moscou para o diálogo, disse que a Rússia está consciente da sua responsabilidade em relação à estabilidade global e que se o Ocidente e Kiev rejeitarem a proposta, será deles a responsabilidade sobre o derramamento de sangue no conflito.
Posteriormente, Mikhail Podolyak, conselheiro do chefe de gabinete de Vladimir Zelensky, afirmou que Kiev rejeita os termos propostos e que a iniciativa de Putin alegadamente não possui "uma real proposta de paz". O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, também sinalizou a rejeição da aliança à proposta, assim como o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Pérsio Glória de Paula, especialista do Núcleo de Avaliação da Conjuntura (NAC), da Escola de Guerra Naval (EGN), aponta que a proposta de Putin mantém a coerência com os objetivos listados pelo líder russo desde o início do conflito ucraniano e ressalta que, com a rejeição, Kiev perde a chance de negociar antes de atingir a exaustão de suas capacidades militares.
Apesar disso, de acordo com ele, é improvável que a Ucrânia e seus aliados aceitem os termos de Moscou, "pelo menos no curto prazo". O especialista explica que as novas sanções impostas à Rússia recentemente pelos países ocidentais, além das promessas de novos pacotes de ajuda financeira e militar para Kiev, indicam a indisposição de Kiev e do Ocidente para o diálogo.

"A grande questão nesse curto prazo agora foram as escaladas não só retóricas do conflito — como a gente viu nos últimos meses, com alguns propondo uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, o presidente francês propondo o envio de tropas [à Ucrânia] —, mas também as escaladas concretas, como a permissão do uso de armamentos ocidentais em ataques dentro da Rússia, e a remoção das restrições de envio de armas a batalhões neonazistas ucranianos. Isso tudo são escaladas problemáticas do conflito que indicam que, no curto prazo, ainda é complicado estabelecer uma base para um diálogo de paz, para um cessar-fogo", explica o especialista.

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Ele sublinha que a manutenção do conflito vai agravar a situação de Kiev, sobretudo em um momento em que "há uma clara deterioração das posições ucranianas no campo de batalha".
"Isso é evidente pelos avanços russos, pelos ganhos territoriais contínuos que a Rússia obteve nos últimos meses. E também [cabe] ressaltar as perdas ucranianas de equipamento, de pessoal, uma situação em que a Ucrânia já depende praticamente por completo do Ocidente para repor os equipamentos, e tem realizado ondas de mobilização cada vez mais pesadas, com faixas etárias cada vez menores. Então isso tem gerado um desgaste significativo para a Ucrânia, que no futuro pode até piorar a posição ucraniana na mesa de negociação."
De Paula acrescenta que a situação da Ucrânia no campo de batalha "acaba reverberando também no apoio internacional à Ucrânia, já que há um crescente ceticismo quanto às capacidades ucranianas de reverter esse quadro por vias militares".
"Há uma preocupação de que a situação da Ucrânia venha a se deteriorar. E aí se questiona a utilidade e a finalidade de novos pacotes de auxílio financeiro e militar e gera-se uma certa pressão, sim, para se engatar um diálogo de paz agora, pelo menos um cessar-fogo, em um momento em que a posição ucraniana ainda não está totalmente deteriorada ou em que o país ainda não chegou à exaustão [das capacidades militares], já que em um futuro próximo a Rússia pode obter mais ganhos e, consequentemente, uma posição melhor na mesa de negociações."

Proposta russa coloca pressão na cúpula de Zelensky na Suíça

De Paula afirma que a proposta de Putin coloca certa pressão na cúpula na Ucrânia, que ocorrerá na Suíça, por conta de dois fatores.

"O primeiro é pela própria composição da cúpula, em que há, claro, a presença de países ocidentais e da Ucrânia, mas há uma ausência de lideranças do Sul Global e, claro, a ausência da própria Rússia, uma das partes do conflito. Então se questiona a finalidade e a eficácia de uma cúpula em que não se contemplam todos os lados envolvidos", afirma o especialista.

Segundo o especialista, a proposta de Putin sinaliza que Moscou tem disponibilidade para o diálogo, o que mostra que existem condições para alcançar a paz por vias diplomáticas, com a participação de outros atores e mediadores neutros.
De Paula diz que o Ocidente também dever ser considerado uma parte beligerante do conflito, "já que participa indiretamente, e algumas vezes até diretamente, com o fornecimento de inteligência e armamentos".
Ele afirma ainda que um novo formato abriria margem para a participação de outros atores relevantes no sistema internacional.

"Especialmente aqueles do Sul Global. E aí destacam-se as iniciativas do Brasil e da China para uma mediação desse conflito, coisas que não têm sido contempladas nesse formato da cúpula proposta na Suíça", conclui.

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