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Campanha clandestina dos EUA sobre vacina chinesa 'abala, mas não é surpresa', afirma analista
Campanha clandestina dos EUA sobre vacina chinesa 'abala, mas não é surpresa', afirma analista
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Denúncias divulgadas pela Reuters revelaram um grande programa clandestino promovido pelo Pentágono nas redes sociais entre 2020 e 2021 para desacreditar a... 17.06.2024, Sputnik Brasil
2024-06-17T19:59-0300
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"A COVID veio da China e a vacina também! Não confie no país." Esse é apenas um dos tweets replicados por falsos perfis criados nas redes sociais pelo governo dos Estados Unidos.Essa postagem, em especial, conforme investigação conduzida pela Reuters, foi disseminada em julho de 2020 e tinha como alvo a população das Filipinas e de outros países do Sudeste Asiático. O objetivo: fazer a população local desacreditar do imunizante CoronaVac, produzido pela chinesa Sinovac. As doses da empresa, inclusive, foram as primeiras a serem aplicadas no Brasil.Na mesma época em que as Filipinas tinham uma das piores taxas de vacinação da região asiática, de acordo com a reportagem, pelo menos 300 contas só no antigo Twitter reforçavam diariamente uma campanha antivacina contra o imunizante chinês – no período, apenas 2,1 milhões de pessoas estavam totalmente imunizadas, muito abaixo da meta do governo local, de 70 milhões dos cerca de 114 milhões de habitantes. Com isso, o país teve uma das piores taxas de mortalidade pelo vírus na região e, na pandemia, registrou quase 70 mil mortes.Para além disso, a denúncia ainda apontou que a campanha de desinformação, iniciada durante o governo do ex-presidente Donald Trump, seguiu durante alguns meses sob o comando do democrata Joe Biden. O professor de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Bruno Hendler, destacou à Sputnik Brasil que a descoberta do uso pelos EUA de uma pandemia para prejudicar a China, mesmo que para isso intensificasse ainda mais a crise de saúde naquela época, "abala, mas não surpreende".Sudeste Asiático e encruzilhada geopolíticaO professor da UFSM lembrou que a região do Sudeste Asiático — da qual as Filipinas são um dos principais parceiros dos Estados Unidos e, mesmo assim, não ficaram imunes às intervenções "imperialistas" do país — é considerada uma encruzilhada para a geopolítica, diferentemente de outras partes do globo.O especialista enfatiza ainda que, em termos econômicos, os países da região mostraram uma proximidade maior com a China para investimento, comércio e desenvolvimento tecnológico."Porém, muito deles mantêm ainda laços estratégicos, militares e de segurança com os Estados Unidos. Então essa é a encruzilhada que faz do Sudeste Asiático ser tão importante para o mundo", destaca, ao acrescentar que países como Filipinas e Tailândia, inclusive, possuem grandes bases militares norte-americanas.Impacto na credibilidade dos EUAMesmo com a disponibilização de vacinas como a chinesa CoronaVac nas Filipinas, a baixa procura pela população fez o então presidente Rodrigo Duterte ameaçar "prender as pessoas que recusassem a vacinação", segundo a investigação do Reuters. Duterte, inclusive, foi um dos poucos líderes do país a questionar o alinhamento com Washington.Em paralelo a isso, a campanha clandestina de desinformação dos EUA seguia a todo vapor, mesmo com as objeções de diplomatas de Washington na época. Bruno Hendler acredita que o impacto das denúncias é maior na opinião pública: "Isso tira a credibilidade dos Estados Unidos, das organizações internacionais e das relações bilaterais", diz.Já Valter Peixoto, pesquisador formado em comércio exterior e idealizador do projeto MenteMundo, declarou à Sputnik Brasil que os impactos da campanha antivacina não ficaram restritos às Filipinas. "Ali do lado você tem a Indonésia, que é o país com maior proporção muçulmana do planeta, e teve uma mensagem que se espalhou bem na Ásia falando que a China, como um país comunista, não se importava com a liberdade religiosa alheia e, por isso, eles faziam a vacina com gelatina de porco. Isso seria altamente ofensivo para os islâmicos, que não tomariam a vacina. Foi uma fake news criada com perfis filipinos, mas com a intenção de ferir a imagem chinesa em toda a região", relata.A situação, segundo Peixoto, reflete também a corrida entre laboratórios ocidentais, como a Pfizer, a Moderna e a Johnson, com a rapidez da indústria de saúde na China, a exemplo da Sinovac. "Essa é uma das principais áreas, principalmente no pós-pandemia, de questionamento sobre a dependência do mundo de produções específicas concentradas no Oriente, como luvas e máscaras feitas no Vietnã, uma tecnologia indiana para vacinas. Mostraram para esses países os gargalos industriais e que, com isso, precisavam se precaver, não pensando só em valor ou na economia, mas nesses cálculos geoestratégicos que teriam que ser colocados", frisa.Outro ponto importante a ser destacado, segundo o pesquisador, é que as Filipinas possuem uma espécie de status especial na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). "Ano passado assinaram a construção de quatro novas bases militares dos EUA por lá, o que mostra o nível de aprofundamento estratégico em que eles estão. Diante disso, acredito que infelizmente vai acabar dando em nada [o escândalo da campanha]. Eles também exportam mais para os Estados Unidos do que para a China", ressalta.O mundo e a 'epidemia de desinformação'Enquanto o mundo luta com dificuldade contra a "epidemia de desinformação" que já traz consequências drásticas em todo o globo, a campanha conduzida por um departamento governamental como dos Estados Unidos é ainda mais preocupante. De acordo com Alana Camoça, professora de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora do Laboratório de Estudos em Economia Política da China (LabChina) e do Laboratório de Estudos da Ásia (LabÁsia), a guerra de propaganda e desinformação "não é necessariamente nova".Um dos efeitos dessa campanha pode ser visto, segundo a especialista, em pesquisas recentes realizadas no país. Dados divulgados pelo jornal The Diplomat, em junho, revelaram que quase 80% dos filipinos consideram a China a maior ameaça para a região."A desinformação sobre as vacinas pode servir como ferramenta para estimular e endossar uma imagem da China negativa e de ameaça […]. A desinformação pode gerar efeitos especialmente cruéis para países mais pobres e com problemas estruturais em seus sistemas de saúde. Se olharmos, por exemplo, o caso brasileiro, a desinformação produzida também sobre a CoronaVac gerou receios por uma parcela da população que quis escolher as vacinas ou não se vacinar. Isso pode estimular também movimentos antivacina que já existiam, mas que ganharam força", compara.BRICS e o Sudeste AsiáticoGrupo que já possui poder de compra superior aos países do G7 e que detém mais de 45% da extração mundial de petróleo atualmente, o BRICS — formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — ganhou novos membros a partir deste ano que trouxeram ainda mais força: Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Egito e Etiópia. A expansão também passou a atrair o interesse dos países do Sudeste Asiático.No último mês, a Tailândia sinalizou que vai iniciar a formalização de um pedido para aderir ao grupo, enquanto as próprias Filipinas sinalizaram a intenção de ser tornarem membro do Banco do BRICS, o que aponta para uma reconfiguração geopolítica da região, mesmo com as ações norte-americanas.
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ásia e oceania, mundo, américas, donald trump, joe biden, rodrigo duterte, china, estados unidos, filipinas, brics, reuters, sinovac, casa branca, coronavac, novo coronavírus, exclusiva
"A COVID veio da China e a vacina também! Não confie no país." Esse é apenas um dos tweets replicados por falsos perfis criados nas redes sociais pelo governo dos Estados Unidos.
Essa postagem, em especial, conforme investigação
conduzida pela Reuters, foi disseminada em julho de 2020 e tinha como alvo a população das Filipinas e de
outros países do Sudeste Asiático. O objetivo: fazer a população local desacreditar do imunizante CoronaVac,
produzido pela chinesa Sinovac. As doses da empresa, inclusive, foram as primeiras a serem aplicadas no Brasil.
Na mesma época em que as Filipinas tinham uma das piores taxas de vacinação da região asiática, de acordo com a reportagem, pelo menos 300 contas só no antigo Twitter
reforçavam diariamente uma campanha antivacina contra o imunizante chinês – no período, apenas 2,1 milhões de pessoas
estavam totalmente imunizadas, muito abaixo da meta do governo local, de 70 milhões dos cerca de 114 milhões de habitantes. Com isso, o país teve uma das piores taxas de mortalidade pelo vírus na região e,
na pandemia, registrou quase 70 mil mortes.
Para além disso, a denúncia ainda apontou que a campanha de desinformação, iniciada durante o
governo do ex-presidente Donald Trump, seguiu durante alguns meses sob o
comando do democrata Joe Biden. O professor de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Bruno Hendler, destacou à Sputnik Brasil que a descoberta do uso pelos EUA de uma pandemia para prejudicar a China, mesmo que para isso
intensificasse ainda mais a crise de saúde naquela época, "abala, mas não surpreende".
"É um padrão na política externa norte-americana de utilizar meios de comunicação desde a Guerra Fria. É a propaganda como uma arma, não necessariamente de guerra, mas para moldar o comportamento da política de países e a indústria global […]. Nisso ainda há um debate que se fala que o governo Trump foi muito mais imperialista do que o governo Biden, mas a meu ver essa é uma política de Estado. Há consenso na Casa Branca e no Parlamento de que a China é o principal desafio para o país no século XXI", declarou o especialista.
Sudeste Asiático e encruzilhada geopolítica
O professor da UFSM lembrou que a
região do Sudeste Asiático — da qual as Filipinas são um dos principais parceiros dos Estados Unidos e, mesmo assim, não ficaram imunes às intervenções "imperialistas" do país — é
considerada uma encruzilhada para a geopolítica, diferentemente de outras partes do globo.
"No Nordeste da Ásia, há o Japão e as duas Coreias, e está muito claro o lado que cada país está. No Oriente Médio há dilemas de dissuasão nuclear e está muito claro quem está do lado do Irã e quem está do lado de Israel. São regiões mais congeladas em que você não tem muita margem de manobra diplomática entre os países. Já no Sudeste Asiático é muito diferente, porque não há uma potência nuclear ali e são países que oscilam muito em um espectro entre proximidade com os EUA ou proximidade com a China. A diplomacia tende a ser muito mais flexível e você tem um bloco como a ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático] que tende, digamos, a absorver ou amenizar a projeção das grandes potências. É um dos principais palcos de disputa sino-americana", argumenta.
O especialista enfatiza ainda que, em termos econômicos, os países da região mostraram uma proximidade maior com a China para investimento, comércio e desenvolvimento tecnológico.
"Porém, muito deles mantêm ainda laços estratégicos, militares e de segurança com os Estados Unidos. Então essa é a encruzilhada que faz do Sudeste Asiático ser tão importante para o mundo", destaca, ao acrescentar que países como Filipinas e Tailândia, inclusive, possuem grandes bases militares norte-americanas.
Impacto na credibilidade dos EUA
Mesmo com a disponibilização de vacinas como a chinesa CoronaVac nas Filipinas, a baixa procura pela população fez o então
presidente Rodrigo Duterte ameaçar "prender as pessoas que recusassem a vacinação", segundo a investigação do Reuters. Duterte, inclusive, foi um dos
poucos líderes do país a questionar o alinhamento com Washington.
Em paralelo a isso, a campanha clandestina de desinformação dos EUA seguia a todo vapor, mesmo com as objeções de diplomatas de Washington na época. Bruno Hendler acredita que o impacto das denúncias é maior na opinião pública: "Isso tira a credibilidade dos Estados Unidos, das organizações internacionais e das relações bilaterais", diz.
Já Valter Peixoto, pesquisador formado em comércio exterior e idealizador do projeto MenteMundo, declarou à Sputnik Brasil que os impactos da campanha antivacina não ficaram restritos às Filipinas. "Ali do lado você tem a Indonésia, que é o país com maior proporção muçulmana do planeta, e teve uma mensagem que se espalhou bem na Ásia falando que a China, como um país comunista, não se importava com a liberdade religiosa alheia e, por isso, eles faziam a vacina com gelatina de porco. Isso seria altamente ofensivo para os islâmicos, que não tomariam a vacina. Foi uma fake news criada com perfis filipinos, mas com a intenção de ferir a imagem chinesa em toda a região", relata.
A situação, segundo Peixoto, reflete também a
corrida entre laboratórios ocidentais, como a Pfizer, a Moderna e a Johnson, com a
rapidez da indústria de saúde na China, a exemplo da Sinovac. "Essa é uma das principais áreas, principalmente no pós-pandemia, de questionamento sobre a dependência do mundo de produções específicas concentradas no Oriente, como luvas e máscaras feitas no Vietnã, uma tecnologia indiana para vacinas. Mostraram para esses países os gargalos industriais e que, com isso, precisavam se precaver, não pensando só em valor ou na economia, mas nesses cálculos geoestratégicos que teriam que ser colocados", frisa.
Outro ponto importante a ser destacado, segundo o pesquisador, é que as Filipinas possuem uma espécie de status especial na
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). "Ano passado assinaram a construção de quatro novas bases militares dos EUA por lá, o que mostra o nível de aprofundamento estratégico em que eles estão. Diante disso, acredito que infelizmente vai acabar dando em nada [o escândalo da campanha]. Eles também exportam mais para os Estados Unidos do que para a China", ressalta.
O mundo e a 'epidemia de desinformação'
Enquanto o mundo luta com dificuldade contra a "epidemia de desinformação" que já traz
consequências drásticas em todo o globo, a campanha conduzida por um departamento governamental como dos
Estados Unidos é ainda mais preocupante. De acordo com Alana Camoça, professora de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisadora do Laboratório de Estudos em Economia Política da China (LabChina) e do Laboratório de Estudos da Ásia (LabÁsia),
a guerra de propaganda e desinformação "não é necessariamente nova".
"A desinformação pode ser definida como a disseminação de notícias ou informações falsas e, nesse caso, serve como uma ferramenta de disputa que visa difamar a imagem de um país ou criar uma imagem negativa de suas tecnologias, ações, produtos e invenções […]. A epidemia de desinformação é um problema para as próprias democracias, na medida em que é difícil distinguir o que é falso e verdadeiro em um cenário de abundância de informações veiculadas nas mídias sociais e outras plataformas comunicacionais. No caso específico das Filipinas, isso acaba sendo ainda mais emblemático se observarmos como o país oscilou, de forma relativamente pendular, frente à aproximação com a China e dos EUA no poder nos últimos anos", argumenta.
Um dos efeitos dessa campanha pode ser visto, segundo a especialista, em pesquisas recentes realizadas no país. Dados divulgados pelo jornal The Diplomat, em junho, revelaram que quase 80% dos filipinos consideram a China a maior ameaça para a região.
"A desinformação sobre as vacinas pode servir como ferramenta para estimular e endossar uma imagem da China negativa e de ameaça […]. A desinformação pode gerar efeitos especialmente cruéis para países mais pobres e com problemas estruturais em seus sistemas de saúde. Se olharmos, por exemplo, o caso brasileiro, a desinformação produzida também sobre a CoronaVac gerou receios por uma parcela da população que quis escolher as vacinas ou não se vacinar. Isso pode estimular também movimentos antivacina que já existiam, mas que ganharam força", compara.
25 de dezembro 2023, 10:00
BRICS e o Sudeste Asiático
Grupo que já
possui poder de compra superior aos países do G7 e que detém mais de 45% da extração mundial de petróleo atualmente, o BRICS — formado originalmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — ganhou novos membros a partir deste ano que trouxeram ainda mais força: Irã, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Egito e Etiópia.
A expansão também passou a atrair o interesse dos países do Sudeste Asiático.
No último mês, a Tailândia sinalizou que vai iniciar a formalização de um pedido para aderir ao grupo, enquanto
as próprias Filipinas sinalizaram a intenção de ser tornarem membro do Banco do BRICS, o que aponta para uma reconfiguração geopolítica da região, mesmo com as
ações norte-americanas.
"No geral, a expansão do BRICS representa um aumento da zona de influência da China, mas principalmente uma contestação aos países desenvolvidos e à arquitetura internacional vigente. Entendo que ainda é preciso compreender quais as ações e os desdobramentos da ampliação do BRICS na prática", finalizou Camoça.
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