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BRICS: transição de aliança econômica a força política cristaliza 15 anos do grupo, dizem analistas

© Ricardo Stuckert / PRO presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, em Joanesburgo, África do Sul, 24 de agosto de 2023
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a sessão I do Diálogo de Amigos do BRICS, em Joanesburgo, África do Sul, 24 de agosto de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 16.06.2024
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O ano era 2009 e, à época, sequer se imaginava uma grande coalizão geopolítica que viria nos anos seguintes. Neste domingo (16), celebra-se o 15º aniversário da primeira reunião de cúpula do BRICS, ocorrida em Ekaterinburgo, na Rússia.
Desde então, o grupo, composto originalmente por Brasil, Rússia, Índia e China, posteriormente com a adesão da África do Sul, e cuja expansão abrange Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã, tem se consolidado como uma importante aliança econômica e política no cenário global.
Giovana Branco, mestre em relações internacionais pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) e pesquisadora de política externa russa, explica aos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, do podcast Mundioka, que a ideia inicial do grupo era fornecer apoio econômico para países em desenvolvimento.
Desta forma, evitaria a dependência de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, "controladas pelos países do Norte Global".
Nos primeiros anos, o BRICS era visto como um grupo com forte coesão econômica, mas com pouca unidade política.
Branco observa que, recentemente, isso tem mudado.
"Cada vez mais, os países do BRICS se formam como uma coalizão política, unindo-se em processos de votação internacional e em pautas comuns que se distanciam das tradições ocidentais."
Expandir o grupo é um tema efervescente, com muitos países manifestando interesse em se juntar ao BRICS. A pesquisadora afirma que mais de 40 países estão atualmente interessados.
No entanto, ela também apontou as dificuldades que essa expansão pode trazer. "À medida que o conglomerado de países aumenta, fica mais difícil alinhar interesses, embora o foco primordial continue sendo econômico."
Especificamente sobre a possível entrada de Tailândia e Turquia, Branco entende que traria um afastamento das influências tradicionais dos EUA nessas regiões.

"A Turquia, membro da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte], tem uma relação dúbia com os países ocidentais, e a Tailândia também se posiciona de forma independente das potências tradicionais."

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O que motiva a expansão do BRICS?

O professor de relações internacionais do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC), José Niemeyer, relata que inicialmente era cético em relação ao BRICS, mas mudou sua visão ao longo dos anos.

"O BRICS, principalmente com Rússia e China, que hoje confrontam os Estados Unidos, seus aliados e a OTAN [...] acabaram ganhando muita importância nos últimos sete anos."

No começo, ele não via uma conexão geopolítica clara entre os membros do grupo devido à distância geográfica entre os países. Mas ele passou a enxergar o BRICS não como um bloco de integração tradicional, como o Mercosul ou a União Europeia, mas como "um lugar de discussão, preparação de projetos e criação de alternativas estratégicas".

"Caminhamos para uma ordem internacional muito fluida. A China também está cada vez se posicionando na esfera econômica, mas também se preparando na esfera militar. Talvez o BRICS esteja recebendo mais países a fim de que eles possam ter alguma interlocução entre si para poder, inclusive, com intuito de trazer mais equilíbrio, mais harmonia ao sistema internacional nestes tempos de muita pouca harmonia."

Quais são os benefícios do BRICS?

Em termos de benefícios, a China é apontada como o maior ganhador dentro do BRICS. "A China promove a expansão do grupo e se consolida como uma liderança importante dos países do Sul Global", afirma Branco.
A Rússia também se beneficia em um contexto de contraposição ocidental. Brasil, Índia e África do Sul também colhem frutos econômicos e de desenvolvimento, mas, para a pesquisadora, China e Rússia são vistas como os principais beneficiários.
Branco vê a desdolarização como uma proposta de médio a longo prazo, destacando que "os mercados ainda são muito dependentes do dólar", ainda que haja um objetivo geopolítico de se utilizar outras moedas.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, alertou anteriormente sobre os desafios da expansão rápida do BRICS, enfatizando a necessidade de critérios claros para novos membros. Branco explica que, "se qualquer interessado for incluído, o grupo pode perder suas características originais de ser uma aliança de potências emergentes".
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Ela sugere que o aprofundamento das alianças econômicas e políticas é essencial para enfrentar um cenário global de desglobalização. Segundo ela, "aprofundar essas alianças em termos econômicos, mas também em termos políticos" é vital para beneficiar todos os membros do grupo.
De toda forma, Branco entende que o BRICS mudou significativamente a dinâmica global, dando voz a países que antes não tinham grande influência. “Foi uma das primeiras vezes que vimos países em desenvolvimento sendo classificados como potências emergentes.”
A presença de China e Rússia no BRICS é um fator crucial, para Niemeyer, ressaltando a ligação geoestratégica poderosa — o que inclui Pequim reconstruir a rota da Seda e a inclusão de Moscou em seus planos logísticos.
Para ele, com a maior institucionalização do BRICS, os países-membros conseguiram projetar uma imagem de força, com logística e infraestrutura, apoiada por seus grandes Produtos Internos Brutos (PIBs) e mercados consumidores, indo além de apenas um fórum de discussão.
A desdolarização é um dos principais objetivos do grupo, visando reduzir a dependência global desta moeda e, consequentemente, o poder relativo dos EUA.

"[O BRICS] pensa em uma maneira de substituir o dólar."

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