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Se a Coreia do Norte não tivesse 'bomba atômica' já não existiria no mapa, avalia especialista

© Sputnik / Kristina KormilitsynaVista de Pyongyang. Coreia do Norte, 18 de junho de 2024
Vista de Pyongyang. Coreia do Norte, 18 de junho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 02.07.2024
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O desenvolvimento da tecnologia nuclear para fins bélicos por parte da Coreia do Norte foi fundamental para a sua sobrevivência enquanto nação, de acordo com o presidente do Centro de Estudos da Política Songun Brasil, Lucas Rubio, que concedeu uma entrevista exclusiva ao programa de podcast da Sputnik Brasil, Mundioka.

"Ela já não existiria no mapa. Isso é óbvio. A Coreia [do Norte] é muito pequena, tem 25 milhões de pessoas, mas conseguiu estabelecer um princípio de destruição mútua assegurada com a maior superpotência global do mundo, que são os Estados Unidos", defende o estudioso da Coreia do Norte.

Segundo ele, os países sob a mira dos EUA por seus recursos naturais ou importância geopolítica que negligenciaram sua defesa nacional foram destruídos.

"Muammar Gaddafi [presidente da Líbia morto em 201] desistiu do programa nuclear. A Líbia tinha o melhor IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] da África. Tinha um programa que os lucros do petróleo caíam direto nas contas dos cidadãos. As mulheres eram livres. Sabe o que acontece na Líbia hoje em dia? As pessoas estão sendo vendidas na Líbia. O Iraque também abandonou o seu. Olha como está o Iraque. Onde está o Afeganistão? Onde está uma série de países que tentaram políticas diferentes?", questiona ele.

Acordo entre a Rússia e a Coreia do Norte equilibra forças na região

Outro fato recente importante para proteger a Coreia do Norte e a região, segundo ele, foi o acordo entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano Kim Jong-un.
Vladimir Putin (à esquerda) e Kim Jong-un (à direita), presidentes da Rússia e da Coreia do Norte, respetivamente, dão declaração à mídia após conversas bilaterais em Pyongyang, Coreia do Norte, 19 de junho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.06.2024
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"São dois países que estão interagindo justamente para evitar a eclosão de um novo conflito", comenta ele. "Foi uma visita boa para os dois lados e cheia de sinais, com assinatura de acordos econômicos, culturais e também do ponto de vista militar e geopolítico mesmo, assinatura de um tratado de cooperação e defesa mútua", exemplifica.

A aproximação entre os dois países tem sido positiva para os norte-coreanos para "demonstrar ao mundo que não é um país isolado, como o mundo ocidental tenta fazer parecer" e também para a Rússia, que tem sofrido uma série de investidas e sanções nos últimos anos por parte do Ocidente.
Ele lembra que a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) foi fundada com o apoio material, político e diplomático da União Soviética, encerrado nos anos 1990, e retomada recentemente com Putin.
Tal aliança serve ainda para frear a avidez com que os Estados Unidos vêm tentando formar uma espécie de Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) asiática.

"Esse acordo de agora equilibra as coisas porque estabelece um limite para os Estados Unidos […]. Agora eles [EUA] sabem que se iniciarem um ataque à Coreia do Norte, automaticamente se torna um ataque à Federação da Rússia também, porque é isso que prevê o acordo."

Ele ressalta que os EUA estão a 15 mil quilômetros daquela região. "Não é uma questão de segurança nacional", mas sim uma presença para controle regional longe dos seus domínios", argumenta, ao salientar que as principais bases dos EUA naquela região estão justamente no entorno da Coreia.

"Os Estados Unidos é que são o elemento estranho daquela região ali. É uma herança da Segunda Guerra, da Guerra Fria, onde as grandes potências tentavam estabelecer pontos estratégicos nas bordas do inimigo, no caso da União Soviética. E a Guerra Fria acabou há 30 anos. Mas, na cabeça dos Estados Unidos, na verdade, os Estados Unidos não saíram da Segunda Guerra Mundial ainda", afirma ele.

Essa mesma lógica foi responsável pela divisão da Coreia, afirma o especialista.

Cisão entre Sul e Norte: um dos legados dos EUA após a 2ª Guerra Mundial

Dividida entre o Norte e o Sul, as duas Coreias surgiram no fim da Segunda Guerra Mundial.
"O Japão ocupava a Coreia desde 1910. […] quando o Japão está perdendo a Segunda Guerra Mundial, lá em agosto de 1945, as tropas da União Soviética e dos Estados Unidos entram."
Desde a década de 1920, existia uma resistência armada guerrilheira dentro da Coreia, principalmente na fronteira com a China, comandada por grupos comunistas, principalmente o grupo de Kim Il-sung, que fundaria a República.
Segundo ele, enquanto a União Soviética libertou o território do domínio japonês e deixou que os comitês populares coreanos o governassem, os EUA nunca saíram do outro lado. Em setembro de 1948, semanas depois da fundação da Coreia do Sul, foi fundada a RPDC, e a divisão nacional provocada por um elemento estrangeiro, defende ele.

"Os Estados Unidos causaram a divisão nacional da Coreia. Eles é que apareceram lá e não saíram de lá até hoje. Você tem todo tipo de armamento possível dos Estados Unidos na Coreia do Sul e 30 mil soldados. E a política sul-coreana é totalmente subjugada pelos Estados Unidos", afirma Rubio.

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Guerra da Coreia

O primeiro conflito depois da Segunda Guerra Mundial, a Guerra da Coreia, que durou de 1950 a 1953, também teve o dedo dos EUA, salienta o especialista. Apesar de durar apenas três anos, ele argumenta que foram suficientes para causar "um grau de destruição imenso".

"Os Estados Unidos bombardearam tanto a Coreia do Norte que eles usaram mais bombas no pequeno território norte-coreano, que tem o tamanho de Roraima, do que todo o teatro de operações do Pacífico durante os cinco anos de Segunda Guerra Mundial. Quase 1 milhão de toneladas de bomba em cima da Coreia do Norte", destaca Rubio.

Ele conta que mais de 20% da população morreu nos ataques, ou 3,5 milhões de pessoas, sendo a maior parte civis.
Após a assinatura do armistício, a política de provocação estadunidense e de presença militar ostensiva na parte sul continuou, pontua Rubio, separando famílias e agravando a divisão nacional.

Guerra de balões

Rubio pondera, entretanto, que as hostilidades entre as duas nações nunca passaram de algumas ameaças e tensões, sem grande consequências bélicas.

"Em outros lugares do mundo, como […] Gaza, são bombas mesmo que estão sendo jogadas no outro lado. Na Coreia se limita aos balões com lixo e ao K-pop."

Ele lembra que em 2018 o lado norte e o lado sul sentaram para conversar, e Kim Jong-un visitou a Coreia do Sul. O presidente sul-coreano Moon Jae-in visitou a Coreia do Norte pela primeira vez em 80 anos.
"Houve o restabelecimento de relações. As minas foram retiradas. A parte das cercas também foram tiradas. Houve um momento de paz muito grande em 2018 e 2019", relembra.
Os EUA atuaram mais uma vez para que essas relações não se estreitassem, afiança Rubio.

"Os Estados Unidos várias vezes ao ano promovem exercícios militares com o Exército sul-coreano. Simulam invasão do território norte-coreano. Esses exercícios foram pausados durante esse período."

Por pressão estadunidense foram retomados os exercícios militares e as pequenas hostilidades, reforça. Segundo ele, assim como os EUA fizeram com o Iraque, tentam fazer com a Coreia do Norte, "demonizando-a" em uma guerra midiática para que a opinião pública mundial e as grandes potências vejam a Coreia do Norte como ameaça global.

"O Iraque precisava ser destruído porque estava produzindo armas de destruição em massa. Cadê as armas de destruição em massa de Saddam Hussein? Nunca existiram, até hoje ninguém encontrou."

Assim, a tentativa de defender o território é interpretada como ação de ataque pelo Ocidente. "Lembrando mais uma vez, quem está na península coreana a 15 mil quilômetros de distância são os Estados Unidos. A Coreia não está nas fronteiras dos Estados Unidos."

Brasil e Coreia do Norte

"Nós, brasileiros, não deveríamos ter nada contra a Coreia do Norte que nunca nos causou nenhum prejuízo internacional, sequer votou contra nós na ONU em algum momento da história. Inclusive nas votações importantes, como a criminalização do fascismo e do nazismo, que o Brasil votou a favor e a Coreia do Norte também. Sabe quem vota contra? A Coreia do Sul, os Estados Unidos e a Ucrânia", defende o estudioso.
Segundo ele, o país asiático teria muito a contribuir para o Brasil em várias áreas como a da tecnologia, além da educação e da saúde que são universais e de qualidade, ainda que com dificuldades econômicas e bloqueios comerciais.
Apesar da pouca área fértil para a agricultura no território, o especialista conta que a industrialização na Coreia do Norte avançou o suficiente para possibilitar a produção de alimentos por meio de componentes químicos para a agricultura.

"70% da Coreia do Norte não é cultivável. É terra rochosa ou montanha. Tem muito carvão, tem terras-raras, que agora os países vizinhos estão de olho. Uma das maiores reservas de terras-raras do mundo foram encontradas na Coreia do Norte em 2019."

Ele conta que esteve no país asiático por dez dias em abril e visitou uma sistema de fazendas de estufa, com alta tecnologia, que produzem alimento o ano inteiro "para tentar alcançar a seguridade alimentar, que é um problema da Coreia do Norte nos últimos anos".

"Estive lá em 2018 e voltei agora em 2024. Não reconheci a cidade porque tinham edificado ruas totalmente novas. Estão com um plano de lançar 50 mil casas em cinco anos. Em 2020 houve a abertura de um complexo de produção de fertilizantes para a agricultura no interior do país."

Citando dados da Universidade Kim Il-sung, ele explica que cerca de 90% da economia norte-coreana é autônoma e 10% necessita de trocas comerciais com China, Rússia, Vietnã, Irã, Cuba, isto é, os outros países que furam o bloqueio.
"É uma economia socialista planificada. É um país que, mesmo muito pequeno, com poucos recursos, tem se diversificado bastante. Observei, por exemplo, o emprego de placas solares para a geração de energia."
Outra coisa que impressionou o professor em visita ao país foi a cultura da população de cerca de 25 milhões de pessoas.

"Operários, camponeses, professores, varredores de rua são pessoas que estão no teatro. São pessoas que estão acessando esses lugares. Desde a mais tenra idade, o norte-coreano aprende a tocar um instrumento musical, a praticar um esporte […]. Só consigo entender que as pessoas são assim porque existe um sistema educacional, uma cultura, um sistema econômico que providencia espaço para essas pessoas serem assim", opina.

Que tal conhecer a Coreia do Norte?

Para o analista, a cultura tradicional milenar, as belezas naturais e arquitetônicas e, principalmente, o povo fazem da Coreia do Norte um destino turístico atraente.
Rubio comenta que visitar o país não é nenhum bicho de sete cabeças. Devido às sanções e aos bloqueios, a viagem só é possível pela China, mas a burocracia é menor do que a exigida pelo governo dos EUA para emitir um visto.

"Aconselho contratar uma agência turística que já trata do visto. O visto norte-coreano é coisa simples. É o trâmite de qualquer outro país. Mas o visto norte-coreano você tem lá na hora", garante ele.

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