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Marinha chinesa garante poder regional, mas precisa de Rússia para projeção global, diz analista

© Sputnik / Vitaly Ankov Fuzileiros navais do Exército chinês durante uma sessão de treino conjunta russo-chinesa (foto de arquivo)
Fuzileiros navais do Exército chinês durante uma sessão de treino conjunta russo-chinesa (foto de arquivo)  - Sputnik Brasil, 1920, 17.07.2024
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Rússia e China realizaram exercícios navais abrangentes, em meio a pressões dos EUA para que os países euroasiáticos cessem a cooperação na área militar. Para analista ouvido pela Sputnik Brasil, participação chinesa nas manobras prova que Pequim está disposta a contestar a ordem internacional norte-americana e não teme sanções econômicas.
Nesta quarta-feira (17), as Marinhas de Rússia e China concluem os exercícios navais Cooperação Marítima 2024, na região do Pacífico. Os exercícios inauguraram mais uma fase na cooperação militar bilateral e atende às necessidades de segurança de ambos os países no Extremo Oriente, região de crescentes tensões geopolíticas, acreditam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
Durante a cerimônia de abertura dos exercícios navais, realizada no porto de Zhanjiang na segunda-feira (15), as partes anunciaram a realização de exercícios em defesa antiaérea e antissubmarino, além de treinamento do uso de sistemas de defesa antimísseis e de reabastecimento em movimento.
"A patrulha conjunta China-Rússia promoveu o aprofundamento e a cooperação prática entre os dois países em várias direções e campos", disse o comandante da Frota Sul da China, Wang Guangzheng, conforme reportou a Reuters. "E efetivamente melhorou a capacidade dos dois lados de responder conjuntamente às ameaças à segurança marítima."
Os países realizaram manobras e patrulhas tanto na região do Pacífico Norte, próximos à fronteira com a Rússia, quanto na região do mar do Sul da China, alvo de frequentes incursões da Marinha dos EUA.
© Sputnik / Vitaly AnkovFuzileiros navais dos exércitos russo e chinês durante fase terrestre de treinamento conjunto (foto de arquivo)
Fuzileiros navais dos exércitos russo e chinês durante fase terrestre de treinamento conjunto (foto de arquivo)  - Sputnik Brasil, 1920, 17.07.2024
Fuzileiros navais dos exércitos russo e chinês durante fase terrestre de treinamento conjunto (foto de arquivo)
Para o mestre em estudos estratégicos pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Rodrigo Ribeiro, os exercícios são instrumento dissuasório importante para evitar a escalada militar nesta região-chave para a disputa geopolítica contemporânea.
"Os exercícios ajudam a demonstrar as capacidades navais de ambos os países e indicam o compromisso de proteger seus interesses estratégicos na região, contribuindo para a preservação da estabilidade na Ásia-Pacífico ao desencorajar ações provocativas de outros atores", disse Ribeiro à Sputnik Brasil. "Além disso, esses exercícios promovem uma comunicação transparente dos objetivos de Rússia e China na região, reduzindo interpretações ambíguas que poderiam levar a uma escalada das tensões."
O especialista não ficará surpreso se as potências ocidentais condenarem a realização das manobras, mas nota que elas "são principalmente um elemento dissuasório no jogo de poder entre as potências, demonstrando a força da parceria estratégica entre Rússia e China e contrabalançando o bloco formado pela OTAN e seus aliados na região".
Marinha de Guerra da Rússia - Sputnik Brasil, 1920, 30.01.2015
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Composição da Marinha de Guerra da Rússia
O desenvolvimento acelerado da Marinha chinesa é um dos elementos mais relevantes na remodelação das capacidades de poder das grandes potências. Considerada fundamental para garantir a segurança chinesa diante das disputas territoriais no mar do Sul da China, ao apoio dos EUA a Taiwan e à dependência chinesa do comércio marítimo, a Marinha recebeu especial atenção de Pequim nos últimos anos.

"O desenvolvimento da Marinha chinesa nos últimos anos é, sem dúvidas, algo de extrema relevância. A indústria de construção naval da China já é a maior do mundo e isso faz com que esse crescimento da Marinha da China venha acontecendo em um ritmo muito impressionante", apontou Ribeiro. "A China possui, atualmente, a maior Marinha do mundo em número total de navios, ultrapassando justamente a Marinha dos EUA."

No entanto, qualitativamente os EUA ainda mantêm a liderança: Washington opera 11 porta-aviões de propulsão nuclear, contra somente três de propulsão convencional da China, lembrou o especialista. Para ele, "essa diferença tecnológica permite que os Estados Unidos projetem poder de uma maneira muito mais abrangente do que a China no cenário atual".
© AP Photo / Guarda Costeira das FilipinasNavio da Guarda Costeira da China (à direita) supostamente obstrui navio Malabrigo da Guarda Costeira das Filipinas perto do atol Second Thomas Shoal, no mar do Sul da China, 30 de junho de 2023
Navio da Guarda Costeira da China (à direita) supostamente obstrui navio Malabrigo da Guarda Costeira das Filipinas perto do atol Second Thomas Shoal, no mar do Sul da China, 30 de junho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 17.07.2024
Navio da Guarda Costeira da China (à direita) supostamente obstrui navio Malabrigo da Guarda Costeira das Filipinas perto do atol Second Thomas Shoal, no mar do Sul da China, 30 de junho de 2023
"Além disso, os EUA têm uma grande rede logística estabelecida desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com diversas bases militares em pontos estratégicos que facilitam muito a ação da Marinha dos Estados Unidos ao redor do mundo. A China, por sua vez, possui uma única base de apoio logístico fora do seu território, localizada no Djibuti", explicou Ribeiro.
Portanto, a força naval chinesa é atualmente capaz de dissuadir a presença da Marinha dos EUA em regiões marítimas próximas da China, "mas, tratando-se de uma projeção de poder ao redor do mundo, — ou um eventual enfrentamento direto entre as duas forças — as capacidades estadunidenses ainda parecem superar as chinesas por uma boa margem".
© Foto / Twitter / ReproduçãoFragata de mísseis da classe Constellation da Marinha dos EUA
Fragata de mísseis da classe Constellation da Marinha dos EUA - Sputnik Brasil, 1920, 17.07.2024
Fragata de mísseis da classe Constellation da Marinha dos EUA
Nesta lacuna é que a cooperação com a Marinha da Rússia é tão importante para a China. As Forças Armadas chinesas têm pouca experiência de combate e desconhece na prática os impactos de novas tecnologias no campo de batalha, como mísseis hipersônicos e drones navais, disse Ribeiro.
"No campo estratégico, o principal elemento de complementaridade entre as duas Marinhas seria o contrabalanceamento de forças com a OTAN, importante para o cálculo geopolítico de ambas as nações", declarou o mestre em estudos estratégicos. "Já no campo tático, o compartilhamento de doutrinas e conceitos operacionais ajuda diretamente na modernização destes elementos e facilita uma eventual ação militar conjunta entre China e Rússia."
A Rússia ainda garante à China acesso a equipamentos militares de ponta, selando acordos de transferência de tecnologia que incluem o treinamento de militares chineses, revelou Ribeiro. A China já adquiriu mísseis antiaéreos russos S-400 "que se mostraram essenciais para o desenvolvimento das capacidades de defesa aérea naval da China".

'Parceria sem limites' militares?

Em 2022, Rússia e China declararam o estabelecimento de uma parceria "sem limite" na arena internacional, elevando o grau do relacionamento bilateral. Desde então, o comércio entre os países já aumentou mais de 26%, atingindo cerca de US$ 240,1 bilhões (R$ 1,3 trilhão) em 2023, de acordo com dados da alfândega chinesa.
A realização dos exercícios navais aponta que a China não aquiesce às ameaças norte-americanas e está preparada para expandir sua parceria com a Rússia para abranger a esfera militar.
"A disponibilidade da China para realizar exercícios militares com a Rússia, apesar das ameaças de sanções secundárias dos EUA, sugere que Pequim está disposta a assumir certos riscos em prol de seus objetivos estratégicos e geopolíticos", disse o doutor em Relações Internacionais pela Universidade Russa da Amizade dos Povos (RUDN, na sigla em russo), Johnatan Santos, à Sputnik Brasil. "Isso indica que a China pode estar confiante na resiliência de sua economia e em sua capacidade de mitigar os impactos de possíveis sanções."
Para ele, a postura chinesa também reflete a intenção de "diversificar suas alianças e diminuir sua dependência econômica e tecnológica do Ocidente, ao mesmo tempo em que fortalece suas próprias capacidades defensivas e influência geopolítica".
© Sputnik / Vitaly Ankov Fuzileiros navais dos exércitos russo e chinês durante fase terrestre de sessão de treino conjunta russo-chinesa (foto de arquivo)
Fuzileiros navais dos exércitos russo e chinês durante fase terrestre de sessão de treino conjunta russo-chinesa (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 17.07.2024
Fuzileiros navais dos exércitos russo e chinês durante fase terrestre de sessão de treino conjunta russo-chinesa (foto de arquivo)
"Ao demonstrar que não teme as sanções norte-americanas, Pequim envia uma mensagem de que está comprometida com sua parceria estratégica com a Rússia e disposta a desafiar a ordem internacional liderada pelos EUA", declarou Santos.
A parceria com Moscou garante diversas vantagens a Pequim, como o acesso a tecnologia militar avançada, o apoio estratégico russo na arena internacional e expansão da presença chinesa em regiões críticas, como a Ásia Central e o Pacífico.

"O interesse de Rússia e China em aprofundar a sua parceria na esfera militar se baseia em diversos fatores estratégicos e geopolíticos: ambos os países enfrentam pressão e contenção por parte dos EUA e seus aliados, e uma aliança mais estreita lhes proporciona maior capacidade de resistir a essas pressões", considerou o acadêmico. "Através da cooperação militar, Rússia e China podem compartilhar recursos, tecnologia e conhecimento militar, além de fortalecer suas capacidades defensivas e projetar poder em regiões estratégicas, como o mar do Sul da China e o Ártico."

Nesta terça-feira (16), os EUA comentaram a realização dos exercícios navais conjuntos de Rússia e China. Em resposta à pergunta de jornalista sobre como Washington encara as manobras, o porta-voz do Pentágono, major-general Patrick Ryder, disse: "Sugiro que eles falem por si próprios sobre as razões que os levaram a efetuar os exercícios. Estamos, obviamente, a segui-los de perto e continuaremos a fazê-lo."
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