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Instrumento da hegemonia ocidental: Olimpíadas são cada vez mais usadas como arma política?

© Sputnik / Sergey GuneevGinasta soviética Natalia Vitalyevna durante apresentação nos Jogos Olímpicos de 1980, quando foi bicampeã na trave e no solo. Moscou, julho de 1980
Ginasta soviética Natalia Vitalyevna durante apresentação nos Jogos Olímpicos de 1980, quando foi bicampeã na trave e no solo. Moscou, julho de 1980 - Sputnik Brasil, 1920, 23.07.2024
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Iniciadas em 1896, as Olimpíadas Modernas de Verão chegam a mais uma edição neste ano, desta vez em Paris, na França. Para além do esporte e da oportunidade para milhares de atletas mundo afora, o evento se tornou mais uma ferramenta da imposição da hegemonia ocidental?
Com quase 130 anos de tradição, as edições modernas das Olimpíadas de Verão passaram por diversos países do globo e também acompanharam vários momentos de tensão ao longo da história.
Interrompido apenas durante as duas guerras mundiais do século XX — nas edições de 1916, 1940 e 1944 —, um dos grandes eventos esportivos do mundo chega à 33ª edição neste mês em meio às contradições que marcam os tempos atuais. O número de países que participam das competições é apenas uma amostra da dimensão dos jogos: são 206 filiados ao Comitê Olímpico Internacional (COI), índice maior até do que os membros da Organização das Nações Unidas (ONU), que é de 193. Além disso, só na edição realizada no Rio de Janeiro, em 2016, foram alcançados mais de 5 bilhões de espectadores.
Do banimento de atletas da Rússia e de Belarus na edição de Paris por conta do conflito na Ucrânia à manutenção de competidores de Israel — país que já provocou a morte de mais de 39 mil palestinos, da inclusão de atletas cubanos na delegação de refugiados —, o evento é cada vez mais usado como arma política?
A mestre em relações internacionais pela Universidade de São Paulo (USP) Luiza Maria Freitas estudou a fundo o assunto e respondeu ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, que sim.
"O maior poder da Olimpíada é o alcance imenso, é um palco mundial que pode ser instrumentalizado por indivíduos, movimentos, causas sociais ou até Estados mesmo. Temos exemplos históricos de manifestações raciais, políticas e sociais durante todo o histórico dos eventos modernos e, quanto mais complexas as relações entre os países e maior o processo de globalização, mais difícil se torna separar o esporte disso", resume Freitas.
Dois pesos, duas medidas: assim, a especialista define como os Estados Unidos, que apesar de estarem envolvidos em dois conflitos mundiais e tantos outros ao longo da história, nunca sofreram qualquer tipo de proibição nas Olimpíadas, pelo contrário.

"Quem decide isso é o COI, e acredito que esse órgão saiba que suspender os Estados Unidos pode afetar a audiência, ou até outros países do Ocidente tomarem as dores. O que é muito importante ressaltar é que não há um motivo financeiro, como sempre levantam sobre a ONU, mas a COI se sustenta com os direitos de transmissão […]. E [se] os EUA estão do lado de Israel, o país não será punido. Se estão do lado da Ucrânia, a Rússia será punida. Costuma ser simples assim", acrescentou.

#406 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 23.07.2024
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As Olimpíadas não deveriam ser para todos?
Como exemplo, Freitas citou o boicote ocidental às Olimpíadas realizadas na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), em 1980, quando 64 países não participaram da edição por conta de divergências na época. "Então o COI, por mais que não dependa financeiramente dos Estados Unidos, aplica muito a noção de soft power das relações internacionais, do poder de influência que a superpotência dos Estados Unidos exerce", diz.
Conforme a especialista, um dos primeiros registros da história de como as Olimpíadas se tornaram arma política para um fim ocorreu em 1936, quando a Alemanha nazista recebeu a competição. O país foi escolhido cinco anos antes, época em que Adolf Hitler ainda não havia chegado ao poder e, mesmo com o regime ligado ao Holocausto, o evento foi mantido.

"Quando Hitler acendeu a Tocha [Olímpica], ele viu a oportunidade de propaganda que os Jogos ofereciam. O discurso era sempre que o esporte não devia se misturar com a política, então, mesmo estando na Alemanha nazista, acharam de bom tom. O COI não suspendeu nem repudiou a sede, já estava escolhida e seguiram os jogos dessa maneira", lembrou.

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Quais são as principais ameaças à realização dos Jogos Olímpicos?

Um dos principais temores que sempre acompanham a realização dos Jogos Olímpicos é a possibilidade de atentados terroristas, como o que ocorreu em 1972 na Alemanha, quando 11 atletas israelenses foram mortos — caso que se tornou conhecido como Massacre de Munique. Em Paris, um homem chegou a ser preso nesta terça-feira (23) por planejar um ataque durante o evento.

"Acredito que as tensões vão estar altas sim. O risco sempre existe, mas a segurança deve fazer um trabalho bem completo. Há uma preocupação muito grande até com espectadores que entram nos estádios, com as revistas. A preocupação existe e o risco sempre está lá. Mas eu acredito que o que deve ter muito vai ser a tensão entre atletas ou comitês olímpicos, com demonstrações de apoio ou de repúdio a certos comitês por conta dos conflitos que estão acontecendo", declarou Freitas.

Qual a origem das Olimpíadas?

Era por volta de 776 a.C. quando surgiram os Jogos Olímpicos da Antiguidade, em Olímpia, na Grécia. O evento prestava homenagens aos deuses gregos e só voltou a surgir 1503 anos depois.
O professor de relações internacionais do Centro Universitário Internacional (Uninter) de Curitiba e mestre em ciência política André Frota acrescentou à Sputnik Brasil que os jogos também são instrumentos para os países se projetarem internacionalmente nos dias de hoje.

"É uma forma de poder, mas não o tradicional [o bélico], e sim esse poder brando, de persuasão, convencimento e atração, para que as pessoas se identifiquem, gostem e tenham admiração pelos atletas que, na verdade, estão representando os próprios países", pontua.

Para o especialista, o objetivo dos jogos deve ser o oposto, que é colocar os países em um mesmo espaço sem ser um palco de guerra e beligerância. "Porém, eu acho que a gente tem que manter essa ideia da Olimpíada como um evento que tem por objetivo diminuir a fricção, diminuir a tensão dentro do ambiente internacional. Ele tem que servir exatamente como um mecanismo oposto do que a gente tem acompanhado, que são os dois principais conflitos acontecendo e o cenário de tensão entre as principais potências escalando ano após ano", argumentou.
Além disso, o professor afirmou que as Olimpíadas acabam refletindo um sistema internacional cada vez mais divisivo e separativo. "A gente tem que pensar que o sistema internacional não é baseado na justiça. Elas estão baseadas na força, prioritariamente, e boa parte do que nós vemos acontecendo no campo das relações internacionais não é o que nós gostaríamos que fosse, é tal como é. A possibilidade de os atletas russos participarem, por exemplo, acaba ficando prejudicada […] pelo grande conglomerado de países que veta a participação e vetou a participação desse país nas Olimpíadas de Paris", disse.
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Em que ano as Olimpíadas foram realizadas no Brasil?

Em 2016, o Brasil foi o primeiro país da América do Sul a receber uma edição das Olimpíadas, que ocorreram no Rio de Janeiro. O professor André Frota lembrou que parte da opinião pública brasileira foi bastante crítica com a realização dos jogos em um país com tantos problemas, mas que, por outro lado, segundo o especialista, também é uma das maiores economias do mundo.

"Claro que nós temos contradições do ponto de vista econômico. Há desigualdades estruturais que são bem difíceis de serem superadas. Mas isso não significa que o Brasil não tenha capacidade de promover eventos dessa natureza ou países em desenvolvimento também não. Acho que até é importante trazer Olimpíadas para os países em desenvolvimento, até para tentar romper um pouco essa lógica de que só podem acontecer nos desenvolvidos", finalizou.

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