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Brasil quer um 'regime comum' no Mercosul para os setores automotivo e do açúcar

© Foto / Ministério das Relações Exteriores do BrasilReunião de coordenação sobre o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia
Reunião de coordenação sobre o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia - Sputnik Brasil, 1920, 12.08.2024
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O Brasil pretende regular o setor automotivo e a produção de açúcar no Mercosul, disse à agência Sputnik o diretor do departamento do bloco regional do Itamaraty, Francisco Cannabrava.
"Temos interesse específico em discutir os avanços do setor automotivo para que possamos ter um regime comum. Temos interesse também em abordar a questão do açúcar. É um produto que está excluído do Mercosul. O Brasil gostaria de incluí-lo e trabalhar para melhorar a produtividade de outros países que também o produzem", disse o embaixador.
Ele informou ainda que o Brasil quer analisar a questão do açúcar como uma "questão ambiental".

"O açúcar tem o etanol como derivado. É um recurso renovável muito utilizado em automóveis no Brasil", explicou.

O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar e um dos mais importantes fabricantes de automóveis do planeta.
Em 1994, os países do Mercosul assinaram o Protocolo de Ouro Preto e decidiram que as negociações nos setores sucroalcooleiro e automotivo seriam realizadas separadamente das negociações dos demais setores comerciais.

Brasil e o desenvolvimento sustentável

O Brasil pretende trabalhar mais com o Mercosul a conexão entre comércio e desenvolvimento sustentável, acrescentou Cannabrava.
O embaixador sustentou que o objetivo é trabalhar tanto em uma dimensão "defensiva" como em uma dimensão "ofensiva".

"Existem diversas barreiras comerciais sob pretexto ambiental, mas elas têm um efeito grave do ponto de vista comercial. A parte ofensiva está em divulgar a sustentabilidade da produção agrícola no Mercosul, que têm produção de baixo carbono. Por outro lado, na imprensa internacional, sugere-se que a produção do Brasil, da Argentina, não é sustentável, e isso está longe de ser verdade", explicou.

O Mercosul deveria trabalhar na certificação ambiental e no uso de chips que melhorem a capacidade de identificar a origem do gado, acrescentou.
Um exemplo dos obstáculos que o Mercosul enfrenta devido às questões ambientais são as negociações que mantém com a União Europeia (UE).
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Embora tenha sido alcançado um acordo em um primeiro projeto em 2019, ele ainda não entrou em vigor porque requer a ratificação de todos os países-membros e existem posições muito diversas na UE.
Por exemplo, a França rejeita o acordo com o Mercosul, citando o seu possível impacto ambiental e o risco de concorrência desleal na agricultura.

Mais conhecimento

Por outro lado, Cannabrava indicou que é preciso informar os cidadãos dos países que fazem parte do bloco sobre os avanços do Mercosul.

"As sociedades têm pouco conhecimento sobre os avanços em termos de direitos dentro do Mercosul. Se um aposentado quiser morar no Brasil, são facilitados os caminhos para que ele mude de residência e são fornecidos todos os meios para que ele possa receber seu pagamento", exemplificou.

Sobre o Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), que visa reduzir as diferenças no bloco, o embaixador garantiu que o Brasil é o país que "contribui com a maior proporção".

"O fundo funciona para promover projetos nas fronteiras. No caso do Brasil, queremos implementar programas dentro de uma faixa de 150 quilômetros no limite de nossas fronteiras para que os benefícios também sejam sentidos do outro lado", explicou.

Cannabrava deu o exemplo da rodovia Costanera, em Assunção, construída com recursos do Focem em investimentos de aproximadamente US$ 126 milhões (R$ 692,17 milhões).
"A ideia é trabalhar para que as assimetrias que existem no Mercosul possam ser corrigidas ou reduzidas", observou.
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Relacionamento com a Argentina

Questionado sobre os impasses entre o presidente da Argentina, Javier Milei, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, Cannabrava disse que o governo brasileiro trabalha com Buenos Aires "levando em conta a importância daquele país".

"Temos que ter uma visão de longo prazo das nossas relações, do nosso ponto de vista. É muito importante. Passam questões que estão ligadas a uma dinâmica mais política, mas para nós, como diplomatas, é muito importante procurarmos sempre trabalhar de forma construtiva com a Argentina. Essa é a posição que mantemos", afirmou.

Milei visitou o Brasil pela primeira vez em 7 de julho, mas em vez de se encontrar com seu homólogo, decidiu se encontrar com o ex-presidente Jair Bolsonaro na CPAC Brasil (Conservative Political Action Conference, no original), convenção que reúne políticos da direita, realizada em Balneário Camboriú.
Durante a presença no evento, o presidente argentino criticou as ideias socialistas e disse que Bolsonaro está sendo perseguido pela Justiça, embora tenha evitado aprofundar o mau relacionamento com o Brasil ao não atacar diretamente o presidente Lula, como havia feito em suas redes sociais dias antes de sua visita.
Lula descreveu a participação de Milei no encontro em Santa Catarina como um absurdo e lamentou sua ausência na cúpula do Mercosul, realizada em Assunção no dia seguinte.

Diálogo com a China

O diretor do departamento do Mercosul destacou o diálogo entre o bloco e a China em uma reunião realizada nesta segunda-feira (12) em Montevidéu, onde trataram, entre outros assuntos, da cooperação entre o Mercosul e o gigante asiático.

"É a primeira reunião, mas é uma reunião importante, porque a China é um ator internacional de grande importância. Há muito o que pode ser feito em conjunto com Pequim. Há muitos elementos para a cooperação, para manter um diálogo sobre diferentes questões", disse.

Esse encontro visa "ampliar os contatos" do bloco com o resto do mundo, acrescentou Cannabrava.
A realização desse diálogo é uma das "principais prioridades definidas" pelo Uruguai para o seu período como chefe da presidência pro tempore do Mercosul, disse sexta-feira (9) o Ministério das Relações Exteriores uruguaio.
A vice-ministra das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, liderou a delegação do gigante asiático nas reuniões realizadas com representantes dos países do Mercosul.
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O presidente uruguaio garantiu que seu país procurará, a partir da presidência do Mercosul, retomar o diálogo com a China, com o intuito de chegar a um acordo comercial.
Desde que assumiu o cargo, em março de 2020, Lacalle Pou tem procurado flexibilizar o Mercosul para que seus parceiros possam negociar acordos comerciais por conta própria e mantém uma postura crítica à recusa do resto do bloco nesse sentido.
O chefe de Estado uruguaio insiste na importância de se chegar a um acordo de livre comércio com a China ao nível do Mercosul, mas também na sua intenção de procurar um acordo bilateral com o gigante asiático.
O governo do Brasil estava disposto a apoiar a abertura de negociações para um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a China, em linha com a proposta do Uruguai. A delegação brasileira foi chefiada pela embaixadora Maria Laura da Rocha.
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