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'Não há uma justificativa internacional para essa alta', diz especialista sobre revisão da inflação

© Folhapress / Saulo DiasCom a inflação em alta, brasileiro tem economizado cada vez mais e voltou a juntar moedas no cofre. O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez a projeção de crescimento do Brasil de 5,2% para 2021, de acordo com o relatório Perspectivas Econômicas Globais. Na foto, moedas de real são usadas no comércio como troco
Com a inflação em alta, brasileiro tem economizado cada vez mais e voltou a juntar moedas no cofre. O Fundo Monetário Internacional (FMI) fez a projeção de crescimento do Brasil de 5,2% para 2021, de acordo com o relatório Perspectivas Econômicas Globais. Na foto, moedas de real são usadas no comércio como troco - Sputnik Brasil, 1920, 12.08.2024
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O mercado financeiro revisou para cima a previsão de inflação no Brasil para 2024, elevando a expectativa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,12% para 4,2%.
A revisão foi divulgada nesta segunda-feira (12) no Boletim Focus, pesquisa semanal do Banco Central que reúne as projeções das principais instituições financeiras do país.
No entanto, o economista Fábio Sobral, da Universidade Federal do Ceará (UFC), questiona os fundamentos dessa revisão. Segundo ele, não há elementos concretos que justifiquem o aumento da expectativa inflacionária.

"Não há uma justificativa internacional para essa alta. Houve uma alteração no valor do dólar, impulsionada pelo aumento das taxas de juros no Japão, mas isso, por si só, não justifica a revisão", argumenta Sobral.

O economista aponta ainda que, no cenário doméstico, o Brasil apresenta uma capacidade ociosa no setor industrial, o que indicaria a baixa possibilidade de escassez de produtos que poderia pressionar a inflação.
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"O que vimos foi uma especulação cambial significativa, com uma valorização do real frente ao dólar acima do esperado, mas essa alta não reflete uma realidade concreta, apenas mecanismos especulativos. O dólar, inclusive, já demonstra uma tendência de queda", explica Sobral à agência.
O professor de economia também sugere que a revisão do Boletim Focus pode ter sido influenciada por declarações recentes do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que sinalizou uma possível alta da inflação, o que poderia justificar o aumento das taxas de juros.
"O setor financeiro aderiu imediatamente a esse chamado, correspondendo tanto às expectativas do Banco Central quanto às do próprio setor", conclui o economista.

Aumento da inflação e impactos para o cidadão comum

Segundo Maria Eduarda Monteiro, contadora e especialista em finanças, uma das primeiras consequências desse eventual aumento é a possível elevação da taxa de juros pelo Banco Central.

"O aumento da Selic é uma medida clássica para tentar controlar a inflação, mas também encarece o crédito, o que pode desacelerar o consumo", alerta Maria Eduarda.

Com a elevação dos preços, o poder de compra da população tende a diminuir, levando a um cenário de incerteza econômica, onde tanto consumidores quanto empresas adotam uma postura mais cautelosa em relação aos seus gastos e investimentos.
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No dia a dia do cidadão comum, os efeitos da inflação elevada são imediatos e palpáveis, reforça a especialista em finanças. De acordo com Maria Eduarda Monteiro, produtos e serviços essenciais, como alimentos e transporte, se tornam mais caros, impactando diretamente o orçamento familiar. Além disso, o encarecimento do crédito, fruto do aumento dos juros, dificulta a aquisição de bens duráveis, como imóveis e automóveis.
"Investimentos mais conservadores, como a poupança, podem não conseguir acompanhar a inflação, forçando as pessoas a buscarem alternativas mais arriscadas", observa a especialista.
No plano macroeconômico, o país também sente os efeitos desse cenário inflacionário. A alta inflação gera incerteza para investidores, especialmente os estrangeiros, que podem optar por direcionar seus recursos para mercados mais estáveis.
Além disso, o aumento das taxas de juros encarece o custo de captação de recursos, tornando os investimentos produtivos menos atraentes. "A inflação também afeta a competitividade das exportações brasileiras, já que produtos nacionais podem se tornar mais caros no mercado internacional", completa Maria Eduarda à Sputnik.

Investimentos desestimulados

Segundo Raphael Moses, professor de finanças do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ), esse aumento da inflação pode trazer impactos significativos para a economia brasileira.

"Um aumento da inflação acima do esperado pode impactar o poder aquisitivo dos consumidores", alerta Moses. Ele explica que, dependendo dos próximos resultados do IPCA, não apenas em relação ao número fechado, mas também à composição do índice, o Banco Central pode se sentir pressionado a elevar a taxa Selic.

"Esse aumento pode desestimular os investimentos, já que os empréstimos e financiamentos ficam mais caros, prejudicando o crescimento do país", destaca o professor.
Moses identifica as principais razões para essa alta da inflação nos últimos meses. Entre os fatores determinantes estão o reajuste da gasolina, que influenciou o grupo de transportes, e o aumento dos preços das passagens aéreas, que impactou o grupo de serviços.
O período de férias em julho também contribuiu para a elevação dos preços, afetando serviços como hospedagem. Além disso, a alta da energia elétrica, causada pela mudança na bandeira tarifária, também pressionou o índice.

"Há uma pressão maior nos preços dos serviços subjacentes. O mercado de trabalho continua extremamente aquecido e é um ponto que o Banco Central acompanha de perto, impactando diretamente as decisões do Copom [Comitê de Política Monetária]", observa Moses.

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