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Quase uma 'colônia': 110 anos após inaugurar canal, Panamá segue 'nas sombras dos EUA'?
Quase uma 'colônia': 110 anos após inaugurar canal, Panamá segue 'nas sombras dos EUA'?
Sputnik Brasil
O Canal do Panamá desempenha um papel crucial no comércio global, sendo a segunda rota de navegação artificial mais importante do mundo, logo após o Canal de... 15.08.2024, Sputnik Brasil
2024-08-15T09:00-0300
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Responsável por 3% a 5% do comércio mundial, o canal conecta o Oceano Atlântico ao Pacífico, facilitando o transporte de cargas entre continentes e reduzindo significativamente o tempo e os custos de frete. Cerca de 46% de todos os contêineres que saem do Nordeste da Ásia e se dirigem à Costa Leste dos Estados Unidos passam por essa rota.Construído no início do século XX por interesse dos Estados Unidos, o canal foi inaugurado oficialmente em 15 de agosto de 1914, quando o primeiro navio passou por ele. Mas a história por trás de sua criação é repleta de ações desestabilizadoras e influência direta de Washington na América Latina.O canal, considerado uma das maiores obras de engenharia do mundo, sempre esteve no centro de tensões políticas, econômicas e sociais que moldaram o país. Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Bete Herrera, jornalista e professora panamenha, compartilhou sua visão sobre as dificuldades enfrentadas na construção do canal, as motivações e as consequências do seu controle por parte dos EUA até o final do século XX.Influência dos Estados UnidosA história do Panamá é marcada por lutas pela soberania. Após se libertar da Espanha e se unir à Colômbia, o país se viu em meio a negociações complexas para a construção do canal, inicialmente lideradas por uma empresa francesa.No entanto, foi com a intervenção dos Estados Unidos, que viram no Panamá uma posição geográfica estratégica, que a construção finalmente avançou."Eles construíram escolas, construíram igrejas, universidades. E os americanos que trabalhavam nessa área viviam uma vida de luxo. Tinham todo conforto. Tinha uma certa divisão de categorias, porque para a construção do canal chegaram ao nosso país pessoas da Jamaica, pessoas do Haiti, chegaram africanos, chegaram pessoas de todo o mundo para trabalhar no Canal do Panamá. Só que os americanos recebiam salário em ouro e as outras categorias recebiam em prata. Conta também a história que nós tínhamos certa situação de apartheid, porque os negros não podiam usar os mesmos ônibus que os brancos americanos."Essa presença prolongada dos Estados Unidos no Panamá, que levou a uma dolarização da economia panamenha, também resultou em uma espécie de colonialismo moderno, segundo a jornalista."Eles colocaram bases militares no território e controlavam toda a situação da América Latina, que o Panamá é um ponto estratégico. Claro que algumas pessoas vão falar que, graças à presença americana, o Panamá tinha uma economia dolarizada e certo crescimento econômico", destaca. "Mas também tivemos um Estado, praticamente fomos uma colônia dos Estados Unidos".Essa situação insustentável, de acordo com a especialista, acabou desencadeando uma luta para que o canal passasse para as mãos dos panamenhos, que resultaria na assinatura de um novo tratado, em 1979, determinando a saída dos norte-americanos no final de 1999. Apesar dessa mudança de controle, de acordo com Herrera, "existe, até hoje, uma intervenção, uma intervenção indireta nas decisões importantes do país".Outros problemasHoje, segundo outro especialista ouvido pelo podcast Mundioka, o Canal do Panamá enfrenta desafios crescentes, especialmente devido à variabilidade climática.Vitor Cabral, doutorando em relações internacionais e pesquisador do Boletim Geocorrente e do projeto Multilateralismo e a Direita Radical na América Latina (Mudral), alertou sobre os desafios enfrentados pelo canal devido às mudanças climáticas, especialmente as secas frequentes que afetam o abastecimento de água do lago Gatún, essencial para o funcionamento das eclusas.Em um contexto onde alternativas ao Canal do Panamá ganham relevância, Cabral menciona o Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec, no México, como um projeto promissor."É uma rota terrestre de 300 quilômetros que conecta dois portos importantes, oferecendo uma alternativa ao Panamá, embora com desafios logísticos", disse.O internacionalista também comentou sobre outros projetos em desenvolvimento nas Américas, como uma ferrovia na Colômbia e o Corredor Bioceânico Capricórnio, que atravessaria Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Chile."Essas iniciativas buscam criar alternativas ao Canal do Panamá, mas enfrentam desafios geográficos e econômicos consideráveis", destacou, lembrando também da possibilidade de surgimento de novas rotas no Ártico devido ao derretimento de geleiras.O pesquisador conclui ressaltando a necessidade de medidas concretas para mitigar esses impactos climáticos, mencionando a construção de novos reservatórios de água como uma das alternativas em discussão."Existe essa preocupação em ter ali uma alternativa viável", disse ele, enfatizando que o governo do Panamá está buscando soluções para minimizar os efeitos das secas e garantir a continuidade do comércio pelo canal.O impacto ambiental da construção do canal também foi significativo. Comunidades indígenas foram deslocadas, e a construção de novas eclusas gerou divisões na população, preocupada com os efeitos ecológicos e a distribuição desigual dos benefícios econômicos."Embora o canal continue a ser ampliado para atender à demanda global, os lucros raramente chegam às classes mais baixas", afirmou Herrera.Além da questão climática, o Panamá enfrenta desafios como a crise migratória, com um grande número de cidadãos de outros países da América Latina buscando refúgio no país, e problemas com corrupção que minam o desenvolvimento social.Por outro lado, conforme Herrera, a presença crescente da China, especialmente no comércio, também traz novas dinâmicas ao cenário panamenho, enquanto o turismo se consolida como uma fonte importante de receitas, atraindo visitantes com suas belas praias e oportunidades de compras livres de impostos.Apesar dos desafios, o Panamá continua a ser um dos países mais desenvolvidos da América Central, com uma economia centrada nos serviços, especialmente os relacionados ao canal. "A pobreza está escondida sob a superfície brilhante da capital, com sua moderna infraestrutura e arranha-céus, enquanto problemas sociais persistem", diz a jornalista.
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Responsável por 3% a 5% do comércio mundial, o canal conecta o Oceano Atlântico ao Pacífico, facilitando o transporte de cargas entre continentes e reduzindo significativamente o tempo e os custos de frete. Cerca de 46% de todos os contêineres que saem do Nordeste da Ásia e se dirigem à Costa Leste dos Estados Unidos passam por essa rota.
Construído no início do século XX por interesse dos Estados Unidos, o canal foi inaugurado oficialmente em 15 de agosto de 1914, quando o primeiro navio passou por ele. Mas a história por trás de sua criação é repleta de ações desestabilizadoras e influência direta de Washington na América Latina.
O canal, considerado uma das maiores obras de engenharia do mundo, sempre esteve no centro de tensões políticas, econômicas e sociais que moldaram o país. Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Bete Herrera, jornalista e professora panamenha, compartilhou sua visão sobre as dificuldades enfrentadas na construção do canal, as motivações e as consequências do seu controle por parte dos EUA até o final do século XX.
Influência dos Estados Unidos
A história do Panamá é marcada por lutas pela soberania. Após se libertar da Espanha e se unir à Colômbia, o país se viu em meio a negociações complexas para a construção do canal, inicialmente lideradas por uma empresa francesa.
No entanto, foi com a
intervenção dos Estados Unidos, que viram no Panamá uma posição geográfica estratégica, que a construção finalmente avançou.
"Os Estados Unidos prometeram apoiar a independência do Panamá da Colômbia em troca do controle sobre o canal", explicou Herrera, destacando o Tratado Hay-Bunau-Varilla, que "deu para os Estados Unidos o direito à perpetuidade de estar no Panamá, em um território onde os panamenhos não tinham o direito de entrar."
"Eles construíram escolas, construíram igrejas, universidades. E os americanos que trabalhavam nessa área viviam uma vida de luxo. Tinham todo conforto. Tinha uma certa divisão de categorias, porque para a construção do canal chegaram ao nosso país pessoas da Jamaica, pessoas do Haiti, chegaram africanos, chegaram pessoas de todo o mundo para trabalhar no Canal do Panamá. Só que os americanos recebiam salário em ouro e as outras categorias recebiam em prata. Conta também a história que nós tínhamos certa situação de apartheid, porque os negros não podiam usar os mesmos ônibus que os brancos americanos."
Essa presença prolongada dos Estados Unidos no Panamá, que levou a uma dolarização da economia panamenha, também resultou em uma espécie de colonialismo moderno, segundo a jornalista.
"Eles colocaram bases militares no território e controlavam toda a situação da América Latina, que o Panamá é um ponto estratégico. Claro que algumas pessoas vão falar que, graças à presença americana, o Panamá tinha uma economia dolarizada e certo crescimento econômico", destaca. "Mas também tivemos um Estado, praticamente fomos uma colônia dos Estados Unidos".
Essa situação insustentável, de acordo com a especialista, acabou desencadeando uma luta para que o canal passasse para as mãos dos panamenhos, que resultaria na assinatura de um novo tratado, em 1979, determinando a saída dos norte-americanos no final de 1999. Apesar dessa mudança de controle, de acordo com Herrera, "existe, até hoje, uma intervenção, uma intervenção indireta nas decisões importantes do país".
"Pode ser que as consequências atuais sejam que, cada vez que chega um novo governo, ele fica à sombra dos Estados Unidos. O governo sempre tem que ficar apoiando as decisões americanas indiretamente, porque parece que dependemos econômica, cultural e emocionalmente dos americanos."
Hoje, segundo outro especialista ouvido pelo podcast Mundioka, o Canal do Panamá enfrenta desafios crescentes, especialmente devido à variabilidade climática.
Vitor Cabral, doutorando em relações internacionais e pesquisador do Boletim Geocorrente e do projeto Multilateralismo e a Direita Radical na América Latina (Mudral), alertou sobre os desafios enfrentados pelo canal devido às mudanças climáticas, especialmente as secas frequentes que afetam o abastecimento de água do lago Gatún, essencial para o funcionamento das eclusas.
"O canal depende do lago Gatún, que também abastece quase metade da população do país. A seca ameaça diretamente a operação do canal e, consequentemente, impacta a economia global", afirmou.
Em um contexto onde alternativas ao Canal do Panamá ganham relevância, Cabral menciona o Corredor Interoceânico do Istmo de Tehuantepec, no México, como um projeto promissor.
"É uma rota terrestre de 300 quilômetros que conecta dois portos importantes, oferecendo uma alternativa ao Panamá, embora com desafios logísticos", disse.
O internacionalista também comentou sobre outros projetos em desenvolvimento nas Américas, como uma ferrovia
na Colômbia e o Corredor Bioceânico Capricórnio, que atravessaria Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Chile.
"Essas iniciativas buscam criar alternativas ao Canal do Panamá, mas enfrentam desafios geográficos e econômicos consideráveis", destacou, lembrando também da possibilidade de surgimento de
novas rotas no Ártico devido ao derretimento de geleiras.
O pesquisador conclui ressaltando a necessidade de medidas concretas para mitigar esses impactos climáticos, mencionando a construção de novos reservatórios de água como uma das alternativas em discussão.
"Existe essa preocupação em ter ali uma alternativa viável", disse ele, enfatizando que o governo do Panamá está buscando soluções para minimizar os efeitos das secas e garantir a continuidade do comércio pelo canal.
O impacto ambiental da construção do canal também foi significativo. Comunidades indígenas foram deslocadas, e a construção de novas eclusas gerou divisões na população, preocupada com os efeitos ecológicos e a distribuição desigual dos benefícios econômicos.
"Embora o canal continue a ser ampliado para atender à demanda global, os lucros raramente chegam às classes mais baixas", afirmou Herrera.
Além da questão climática, o Panamá enfrenta desafios como a crise migratória, com um grande número de cidadãos de outros países da América Latina buscando refúgio no país, e problemas com corrupção que minam o desenvolvimento social.
Por outro lado, conforme Herrera, a presença crescente da China, especialmente no comércio, também traz novas dinâmicas ao cenário panamenho, enquanto o turismo se consolida como uma fonte importante de receitas, atraindo visitantes com suas belas praias e oportunidades de compras livres de impostos.
Apesar dos desafios, o Panamá continua a ser um dos países mais desenvolvidos da América Central, com uma economia centrada nos serviços, especialmente os relacionados ao canal. "A pobreza está escondida sob a superfície brilhante da capital, com sua moderna infraestrutura e arranha-céus, enquanto problemas sociais persistem", diz a jornalista.
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