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Do caos à reconstrução: como o Timor-Leste garantiu a sua independência após intervenção?
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Nesta sexta-feira (30) são comemorados os 25 anos da primeira consulta popular pela independência do Timor-Leste, que deu força ao longo processo emancipatório... 30.08.2024, Sputnik Brasil
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Colonizado pelo Império Português, o então Timor Português conseguiu se emancipar de sua antiga metrópole em 1975. No entanto, no mesmo ano, foi ocupado pela vizinha Indonésia.Para entender melhor esse movimento, o podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, conversou com figuras que participaram de parte desse processo.O coronel Maurício de Araújo, veterano das missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), que atuou no país em duas ocasiões distintas — em 2002 a 2003 e novamente em 2011 a 2012 —, compartilhou a visão sobre a transformação do Timor-Leste desde o início da intervenção internacional até sua reconstrução e independência.País em ruínas"Um país em situação de conflito, como é o caso da grande maioria dos países em que a gente atua em missões de paz das Nações Unidas, eles são países cuja infraestrutura é praticamente inexistente ou muito deficiente", relatou o coronel Araújo. Ele descreveu a situação inicial do país logo após a transferência de administração das Nações Unidas para o governo local.A situação que o coronel encontrou era marcada pela escassez de recursos e pela ausência de estruturas básicas."Um país cuja infraestrutura estava sendo completamente renovada e com uma camada social, uma população que estava querendo começar a se renovar e se reconstruir após esse período todo", recordou. A reconstrução da infraestrutura era apenas o início de um longo processo de recuperação.Segundo ele, naquela época, a língua predominante era o bahasa indonésio, com apenas uma camada mais velha da população falando português."Havia falta de uma faixa populacional, principalmente de homens, entre os 15 e os 50 anos. […] A língua portuguesa ajudava muito porque a população passava a se sentir bem acolhida", explicou o coronel sobre a importância do idioma na interação com a população local.Impacto da ONU e desafiosSobre o impacto da ONU no Timor-Leste, o militar afirmou: "Foi extremamente importante, é considerado um caso de sucesso na ONU." Ele evidenciou a transformação do país desde a chegada das tropas das Nações Unidas até o fim da missão, em 2012."Nós conseguimos participar do encerramento da missão em 2012, que foi quando o país passou a andar realmente com as próprias pernas e sem a presença maciça de tropas e de todo o aparato das Nações Unidas naquele lugar", disse.O coronel destacou o papel crucial da ONU na reforma das instituições e na melhoria das condições de vida, mencionando que o Timor-Leste se tornou um país com "estrutura muito melhor" e uma economia em crescimento.Ao retornar ao Timor-Leste em 2011, o coronel notou significativas melhorias. Ele mencionou a infraestrutura aprimorada, o surgimento de um shopping e o desenvolvimento da polícia local.Sobre as relações do Timor-Leste com seus antigos colonizadores e invasores, o coronel observou que, apesar do passado difícil, "não há rancor". Ele ressaltou que a Indonésia e o Timor-Leste mantêm um "relacionamento bom, inclusive comercial", e que o país tem avançado com o apoio de potências asiáticas, como China e Singapura.HistóricoEm uma análise detalhada, o período de ocupação indonésia do Timor-Leste (1975–1999) se destaca por sua brutalidade, segundo uma especialista ouvida pela Sputnik Brasil."Foram processos muito diferentes, porque particularmente o período indonésio foi o mais violento, gerou mais de 100 mil mortos", afirma Silvia Garcia, jornalista, antropóloga e professora de relações internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).A violência sistemática durante esse período deixou marcas profundas, e o impacto persistiu mesmo após a desocupação, influenciando a formação de milícias e o trabalho da ONU na região até 2012, pontuou.Xanana Gusmão, figura central na história recente do Timor-Leste, é amplamente reconhecido por seu papel crucial tanto na resistência à ocupação indonésia quanto na construção do novo Estado timorense.Gusmão também participou ativamente de negociações geopolíticas, como a delimitação do mar de Timor, uma área estratégica devido às suas reservas de petróleo e gás.Desde a restauração de sua independência em 2002, o Timor-Leste tem avançado na construção de um Estado estável. No entanto, a estabilidade política interna ainda enfrenta desafios. "Há uma estabilidade política do ponto de vista da sua relação com outros países, mas, internamente, o país ainda lida com disputas por poder e por projetos de nação que são muito distintos atualmente", analisa a professora Garcia.O interesse pelo Timor-Leste não é meramente acadêmico, assuntou. A conexão pessoal de Garcia com a nação, nascida de uma experiência acadêmica e de relações pessoais, ressalta a complexidade das relações internacionais e a profundidade do envolvimento brasileiro com o país.A cooperação bilateral entre a UEPB e o Fundo de Desenvolvimento do Capital Humano do Timor-Leste exemplifica o engajamento contínuo do Brasil com a nação timorense.
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Do caos à reconstrução: como o Timor-Leste garantiu a sua independência após intervenção?
20:06 30.08.2024 (atualizado: 21:21 02.09.2024) Especiais
Nesta sexta-feira (30) são comemorados os 25 anos da primeira consulta popular pela independência do Timor-Leste, que deu força ao longo processo emancipatório do país — tendo a sua independência da Indonésia vingada em 2002.
Colonizado pelo Império Português, o então Timor Português conseguiu se emancipar de sua antiga metrópole em 1975. No entanto, no mesmo ano, foi ocupado pela vizinha Indonésia.
Para entender melhor esse movimento, o podcast Mundioka, da
Sputnik Brasil, conversou com figuras que participaram de parte desse processo.
O coronel Maurício de Araújo, veterano das missões de paz da Organização das Nações Unidas (ONU), que atuou no país em duas ocasiões distintas — em 2002 a 2003 e novamente em 2011 a 2012 —, compartilhou a visão sobre a
transformação do Timor-Leste desde o início da intervenção internacional até sua reconstrução e independência.
"Um país em situação de conflito, como é o caso da grande maioria dos países em que a gente atua em missões de paz das Nações Unidas, eles são países cuja infraestrutura é praticamente inexistente ou muito deficiente", relatou o coronel Araújo. Ele descreveu a situação inicial do país logo após a transferência de administração das Nações Unidas para o governo local.
"Basicamente, as estradas estavam sendo refeitas, principalmente na capital, que havia um investimento maior em termos de reconstrução, mas é um país completamente quebrado em vários aspectos. Falando um pouco do tecido social, você tinha a falta de uma faixa da população que foi para a guerra, foi para o conflito e ofereceu a resistência", detalhou, referindo-se à devastação pós-conflito e ao colapso das instituições.
A situação que o coronel encontrou era marcada pela escassez de recursos e pela ausência de estruturas básicas.
"Um país cuja infraestrutura estava sendo completamente renovada e com uma camada social, uma população que estava querendo começar a se renovar e se reconstruir após esse período todo", recordou. A reconstrução da infraestrutura era apenas o início de um longo processo de recuperação.
Segundo ele, naquela época, a língua predominante era o
bahasa indonésio, com apenas uma camada mais velha da população falando português.
"Havia falta de uma faixa populacional, principalmente de homens, entre os 15 e os 50 anos. […] A língua portuguesa ajudava muito porque a população passava a se sentir bem acolhida", explicou o coronel sobre a importância do idioma na interação com a população local.
Impacto da ONU e desafios
Sobre o impacto da ONU no Timor-Leste, o militar afirmou: "Foi extremamente importante, é considerado um caso de sucesso na ONU." Ele evidenciou a transformação do país desde a chegada das tropas das Nações Unidas até o fim da missão, em 2012.
"Nós conseguimos participar do encerramento da missão em 2012, que foi quando o país passou a andar realmente com as próprias pernas e sem a presença maciça de tropas e de todo o aparato das Nações Unidas naquele lugar", disse.
O coronel destacou o papel crucial da ONU na reforma das instituições e na melhoria das condições de vida, mencionando que o Timor-Leste se tornou um país com "estrutura muito melhor" e uma economia em crescimento.
Ao retornar ao Timor-Leste em 2011, o coronel notou significativas melhorias. Ele mencionou a infraestrutura aprimorada, o surgimento de um shopping e o desenvolvimento da polícia local.
"A evolução foi visual, de chegar no país e já perceber as mudanças. […] A polícia muito melhor preparada… A gente passou as funções da polícia da ONU para a polícia local", contou, destacando a capacidade da polícia local em cumprir suas funções de forma profissional.
Sobre as relações do Timor-Leste com seus antigos colonizadores e invasores, o coronel observou que, apesar do passado difícil,
"não há rancor". Ele ressaltou que a Indonésia e o Timor-Leste mantêm um "relacionamento bom, inclusive comercial", e que o país tem avançado com o apoio de potências asiáticas,
como China e Singapura.
Em uma análise detalhada, o período de ocupação indonésia do Timor-Leste (1975–1999) se destaca por sua brutalidade, segundo uma especialista ouvida pela Sputnik Brasil.
"Foram processos muito diferentes, porque particularmente o período indonésio foi o mais violento, gerou mais de 100 mil mortos", afirma Silvia Garcia, jornalista, antropóloga e professora de relações internacionais da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).
A violência sistemática durante esse período deixou marcas profundas, e o impacto persistiu mesmo após a desocupação, influenciando a formação de milícias e o trabalho da ONU na região até 2012, pontuou.
Xanana Gusmão, figura central na história recente do Timor-Leste, é amplamente reconhecido por seu papel crucial tanto na resistência à ocupação indonésia quanto na construção do novo Estado timorense.
"Ele é considerado um dos heróis da resistência e, depois, pelos cargos que ocupou, inclusive, hoje, o [de] primeiro-ministro do Timor-Leste", destaca Garcia.
Gusmão também participou ativamente de negociações geopolíticas, como a delimitação do mar de Timor, uma área estratégica devido às suas reservas de petróleo e gás.
21 de dezembro 2023, 23:29
Desde a restauração de sua independência em 2002, o Timor-Leste tem avançado na construção de um Estado estável. No entanto, a estabilidade política interna ainda enfrenta desafios. "Há uma estabilidade política do ponto de vista da sua relação com outros países, mas, internamente, o país ainda lida com disputas por poder e por projetos de nação que são muito distintos atualmente", analisa a professora Garcia.
O interesse pelo Timor-Leste não é meramente acadêmico, assuntou. A conexão pessoal de Garcia com a nação, nascida de uma experiência acadêmica e de relações pessoais, ressalta a complexidade das relações internacionais e a profundidade do envolvimento brasileiro com o país.
A cooperação bilateral entre a UEPB e o Fundo de Desenvolvimento do Capital Humano do Timor-Leste exemplifica o engajamento contínuo do Brasil com a nação timorense.
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