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MST mantém parceria histórica com Venezuela independente de crise entre Lula e Maduro, diz Stédile

© Foto / Rafael Stédile Líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile (foto de arquivo)
Líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 20.09.2024
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Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lança nova parceria com a Venezuela, independente da crise entre os governos Lula e Maduro. Para o dirigente do movimento, João Pedro Stédile, Itamaraty não respeita a vontade popular ao adotar postura controversa em relação às eleições na Venezuela.
Apesar da atual crise diplomática entre os governos Lula e Maduro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) firma nova parceria com a Venezuela. De acordo com o dirigente do MST, João Pedro Stédile, "nossa aliança com a Venezuela é histórica e permanente, independe de períodos eleitorais ou governos de plantão".
Em cerimônia que contou com a presença do líder venezuelano Nicolás Maduro, o MST inaugurou um projeto para a produção de alimentos em terreno de mais de 10 mil hectares no estado de Bolívar, reportou o movimento social.
"O MST tem uma experiência maravilhosa. Respeitam a terra, produzem na terra, praticam a solidariedade, os valores humanos. Bem-vindo, MST!", disse o presidente da Venezuela ao anunciar a parceria durante o programa "Com Maduro".
De acordo com o membro da coordenação nacional do MST, João Pedro Stédile, o projeto no estado de Bolívar é mais um capítulo de uma longa parceria com a Venezuela, que remonta ao governo Hugo Chaves.

"A nossa pauta nos acordos foi de ajudar a Venezuela a organizar uma escola de agroecologia chamada IALA [Instituto Agroecológico Latino-Americano] e desenvolver a produção de sementes de hortaliças antes compradas no exterior, inclusive de Israel", disse Sédile à Sputnik Brasil. "Do lado venezuelano, eles sempre nos ajudaram com vagas de estudantes de medicina na ELAM [Escola Latino-Americana de Medicina]. E nós sempre oferecemos vagas em nossas escolas políticas e técnicas do Brasil."

O dirigente do MST ainda nota a convergência política entre as partes, identificando uma "identidade ideológica com o governo chavista, por sua postura anti-imperialista e de construção de um projeto de libertação nacional".
© Foto / Rafael Stédile João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)  - Sputnik Brasil, 1920, 20.09.2024
João Pedro Stédile, líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
A crise instalada após o processo eleitoral venezuelano entre os governos Lula e Maduro não deve impedir a execução dos projetos do MST, asseverou Stédile. O Brasil ainda não reconheceu a vitória de Maduro nas últimas eleições presidenciais, por solicitar acesso a todas as atas eleitorais do país, ao invés de acatar a decisão do seu Tribunal Superior Eleitoral.
Segundo Stédile, a atual postura do Itamaraty "não cumpre com a nossa Constituição, segundo a qual o governo brasileiro deve sempre respeitar a autodeterminação dos povos e a soberania dos outros governos".
"Temos uma visão crítica do Itamaraty, que historicamente se comporta pautado pelos interesses medíocres de seus diplomatas, sem respeitar a vontade política do povo brasileiro", declarou Stédile. "A postura adotada esteve muito mais interessada em agradar a europeus e americanos [...] como se o povo brasileiro tivesse elegido o Lula por nada."
Apesar da proximidade do MST com o presidente Lula, Stédile não antecipa que o movimento atue como mediador entre os países vizinhos. De acordo com Stédile, "não cabe ao MST ser ponte para nada. Temos autonomia em relação aos governos, aos partidos e aos Estados. E achamos que a história vai nos ajudar a que as relações voltem à amizade natural. Ela já existe e está mantida entre os povos, suas organizações e partidos. Só faltam os dois governos".

Itamaraty não é consenso

O descompasso entre a atual política externa e a posição de movimentos sociais de esquerda, como o MST, demonstram que a posição do Itamaraty em relação à eleição de Nicolás Maduro não é consensual. Para a professora e doutoranda em Direito pela Universidade de São Paulo (USP) Júlia Almeida da Silva, o Brasil interfere em assuntos internos da Venezuela ao não reconhecer a decisão do Tribunal Superior Eleitoral do país.
"Essa é uma mudança muito significativa do governo Lula, que constrói uma perspectiva de questionar processos internos, coisa que a diplomacia brasileira não tem histórico de fazer", disse Silva à Sputnik Brasil. "A partir do momento em que a Justiça venezuelana referenda a posição de Maduro, e Lula ainda assim a questiona, solicitando a divulgação das atas, ele está interferindo e questionando um processo interno."
Segundo ela, a insistência na publicação das atas não só tem afastado o Brasil de seus parceiros regionais de mediação, como Colômbia e México, mas também "valida, de forma não razoável, posições como a de Argentina e EUA nesse processo".
© AP Photo / Cristian HernandezLíder do partido governista, Diosdado Cabello, participa de um comício em defesa da reeleição do presidente Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela, em 3 de agosto de 2024
Líder do partido governista, Diosdado Cabello, participa de um comício em defesa da reeleição do presidente Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela, em 3 de agosto de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 20.09.2024
Líder do partido governista, Diosdado Cabello, participa de um comício em defesa da reeleição do presidente Nicolás Maduro em Caracas, Venezuela, em 3 de agosto de 2024
Silva nota que o governo Lula sofre pressão por parte da extrema direita, que associa a Venezuela a todos os supostos males das ideologias de esquerda. Em resposta, o Itamaraty de Lula tem antagonizado não só Caracas, mas também outros governos de esquerda taxados de autoritários, como a Nicarágua.
"O governo brasileiro tenta dizer que não referenda nenhum tipo de autoritarismo, [...] tentando se contrapor às ameaças democráticas que a extrema direita tem representado ao mundo", considerou Silva. "De certa maneira, [o governo brasileiro] reproduz o antagonismo que o Partido Democrata dos EUA tem feito entre democracia e autoritarismo."
Este novo paradigma, no entanto, tem gerado crises diplomáticas e modificado a postura historicamente universalista da política externa brasileira. Ao seguir este caminho, o Brasil "tem aberto mão de alianças importantes e do combate ao imperialismo".
© Foto / Marcelo Camargo / Agência BrasilLula e Mauro Vieira durante a abertura do 6º Brasil Investment Forum (BIF 2023), no Palácio Itamaraty. Brasília (DF), 7 de novmebro de 2023
Lula e Mauro Vieira durante a abertura do 6º Brasil Investment Forum (BIF 2023), no Palácio Itamaraty. Brasília (DF), 7 de novmebro de 2023  - Sputnik Brasil, 1920, 20.09.2024
Lula e Mauro Vieira durante a abertura do 6º Brasil Investment Forum (BIF 2023), no Palácio Itamaraty. Brasília (DF), 7 de novmebro de 2023
Em contraste, o governo brasileiro tem reduzido o tom de suas críticas a Israel, e pouco teve a dizer sobre a recusa do presidente francês Emmanuel Macron em reconhecer o resultado das eleições no seu próprio país. Para Silva, testemunhamos "um realinhamento brasileiro com as grandes potências capitalistas".
"Nesse sentido, acho que a diplomacia brasileira tem menos altivez e autonomia do que já teve em períodos passados nessa capacidade de construção de um bloco que realmente consiga se opor ao imperialismo norte-americano", concluiu a especialista.
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