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Análise: mídias contra-hegemônicas são perseguidas por expor a hipocrisia da narrativa ocidental

© AP Photo / Patrick SemanskyDonald Trump em frente a microfones no gramado sul da Casa Branca, em Washington, D. C. EUA, 7 de fevereiro de 2020
Donald Trump em frente a microfones no gramado sul da Casa Branca, em Washington, D. C. EUA, 7 de fevereiro de 2020 - Sputnik Brasil, 1920, 30.09.2024
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Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que as mentiras do Ocidente não convencem mais boa parte do mundo graças à atuação de mídias contra-hegemônicas, sediadas sobretudo em países do Sul Global.
Em meados de setembro, os EUA impuseram novas sanções à Rússia, dessa vez mirando a Sputnik e sua empresa mãe: o grupo de comunicação Rossiya Segodnya.
Poucos meses antes, Israel enviou soldados para fechar o escritório da Al Jazeera em Tel Aviv, confiscando os equipamentos da emissora catari. Os veículos atingidos têm em comum o fato de atuarem na divulgação do outro lado dos conflitos nos quais esses dois países estão envolvidos.
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam se a censura se tornou a nova frente de batalha entre as potências hegemônicas e o Sul Global e como as ações de EUA e Israel afetam a imagem do Ocidente como suposto bastião da liberdade de expressão.
Bruno Lima Rocha, cientista político, jornalista profissional e professor de relações internacionais, destaca a presença da cobertura jornalística em temas que são espinhosos para o Ocidente, como o conflito ucraniano e a ofensiva israelense na Faixa de Gaza.
Ele chama atenção para o impacto gerado pela morte de mais de 100 jornalistas, incluindo profissionais da Al Jazeera, em Gaza.

"É muito impactante, porque o pessoal está cobrindo em Gaza não só de colete azul, mas escrito 'Press' [imprensa] em letras gigantes. Ainda assim, as chamadas armas inteligentes de Israel atingem os e as colegas", afirma.

Rocha diz que a censura à Al Jazeera se deu porque as imagens transmitidas das ações de Israel minavam o "discurso moralmente superior" de Tel Aviv e traça um paralelo com a perseguição aos judeus durante o nazismo.
"Você imagina os campos de concentração [nazistas], as câmaras de gás sendo transmitidas em tempo real. É a mesma coisa. Não há como manter hegemonia sem discurso moralmente superior ou de maneira hipócrita com moral superior, e creio que por isso o Ocidente está perdendo."
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Rocha afirma que a hegemonia cultural do Ocidente, por vezes, afeta as narrativas de profissionais da imprensa, e alerta que "quem não tem o mínimo de treinamento e está sob hegemonia cultural do Ocidente em todos os níveis confunde propaganda com informação e retórica com fato".

"A gente tem uma confusão enorme porque, em tese, quem faz mídia e mídia hegemônica nos países ocidentais reproduz o discurso do Departamento de Estado [dos EUA]. Mas tendo mídia contra-hegemônica […], a gente consegue confrontar com o fato do que é a propaganda de guerra."

EUA e países da OTAN promovem 'jornalismo de guerra'

Para João Cláudio Pitillo, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), "não só existe uma guerra de retórica em andamento, como os países da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] perceberam que seus veículos de imprensa não são mais os principais formadores de opinião no Sul Global".
"A calamidade que se tornou a guerra da Ucrânia e o massacre israelense em Gaza e, agora, no Líbano, tem feito com que a popularidade dos Estados Unidos, da França e da Inglaterra entre numa espiral de declínio. Porque esses países não se pronunciam contra a guerra, se tornaram fomentadores desse conflito e não conseguem oferecer uma solução nem política nem militar, já que a guerra à qual eles decidiram se somar não consegue vitórias no campo de batalha, muito menos entre as sociedades", afirma.
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Pitillo ressalta que países capitalistas ocidentais nunca defenderam verdadeiramente a liberdade de expressão e avalia que o que fizeram, na realidade, foi usar esse conceito como "uma retórica política, que servia muito mais para enquadrar, punir e perseguir países que se opunham à hegemonia desse capitalismo central".

"A política desses países, hoje liderada pela OTAN, é uma política de dupla moral. Aquilo que eles pregam para esses países que são vistos como inimigos não é seguido internamente. A perseguição aos veículos russos mostra que os EUA têm perdido a batalha pela verdade, estão vendo as suas mentiras não convencerem mais boa parte do mundo."

Na avaliação de Pitillo, o trabalho desenvolvido por veículos como Al Jazeera, Sputnik, HispanTV e a agência SANA há anos expõe a hipocrisia da retórica ocidental desde a invasão do Iraque. Segundo ele, com o avanço da Internet, isso ficou ainda mais nítido, e hoje elas conseguem massificar o contraponto às mentiras produzidas por EUA e OTAN.
"Os EUA perderam o controle. Por mais que os EUA e os países da OTAN tenham o algoritmo das principais redes sociais trabalhando a seu favor, eles não conseguem mais dominar o trânsito dessas informações que são contra-hegemônicas."
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Pitillo acrescenta que as tentativas dos EUA e aliados de "calar canais que hoje têm um trabalho contra-hegemônico mostra que esse trabalho está sendo muito importante, que ele está incomodando".

"Durante muitos anos, esses países tiveram um controle hegemônico da informação […] E as mídias contra-hegemônicas, que hoje estão situadas nos países do Sul Global, cumprem um papel importantíssimo para mobilizar a opinião da população contra esse uso da informação por parte dos Estados Unidos, que lidera essa corrida como arma. Isso se tornou o jornalismo de guerra", explica.

A falsa liberdade de imprensa dos EUA

Hugo Albuquerque, jurista e editor da Autonomia Literária, destaca que os EUA começaram "a usar as grandes redes de hard news como arma política nos anos 90, com a guerra do Golfo, a segunda guerra do Iraque".
"Eles usaram esse artifício sob os auspícios da sociedade de imprensa e da globalização para interferir no mundo. Então claro que os outros países que se desenvolveram na globalização passaram a criar também os seus canais de comunicação estratégica dando sua visão a respeito dos fatos globais. Isso se tornou uma ameaça porque é óbvio que uma coisa é você falar em globalização, e a CNN ou a Fox News ser a grande rede de TV global, que não é global coisa alguma; são redes americanas. Outra coisa é a Rússia, os árabes e os chineses começarem a ter os seus equivalentes da CNN dando sua perspectiva das coisas", afirma.
Ele sublinha que isso demonstra o quanto a "história de liberdade de imprensa e a globalização dos Estados Unidos é falsa".

"O que a gente está vendo agora em jogo, como eles não têm como disputar a narrativa, estão eliminando os canais que dariam uma visão alternativa do mundo. Por isso lançam sanções, cortam sinal. É um fato curioso no mundo, mas o que está em jogo é uma luta dos EUA para manter essa hegemonia unipolar. E eles, junto com seus aliados, estão jogando com todas as armas que têm. Uma delas é cortar canais, o sinal, sancionar grupos de mídia, contradizendo todo o discurso de liberdade imprensa", conclui.

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