- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Pacífico à vista: maior porto da América Latina, no Peru, impulsionará indústria naval brasileira?

© AP Photo / Guadalupe PardoVista geral do porto de Chancay, que após a inauguração se tornará o maior da América Latina. Peru, 29 de outubro de 2024
Vista geral do porto de Chancay, que após a inauguração se tornará o maior da América Latina. Peru, 29 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 08.11.2024
Nos siga no
Especiais
Em meio ao projeto do governo brasileiro de expandir as rotas de escoamento da produção nacional para o Pacífico, o Peru está prestes a inaugurar o porto de Chancay, que será a maior estrutura do tipo na América Latina, ultrapassando o porto de Santos. Terminal pode encurtar em um terço o tempo médio de chegada de produtos brasileiros ao Oriente.
Primeiro porto construído na América Latina com maioria de capital chinês, o terminal de Chancay, a 60 quilômetros de Lima, promete se tornar o principal centro de conexão da região com a Ásia. Ao todo, o custo foi de US$ 3,6 bilhões (R$ 20,6 bilhões). A inauguração da primeira etapa das obras acontece também em meio ao lançamento pelo governo federal de cinco rotas de Integração e Desenvolvimento Sul-Americano, para justamente encurtar a distância do país até o Oriente. Entre as propostas está a rota Amazônica, que integra Peru e Colômbia.
Para além da questão logística, o novo porto pode estimular o crescimento da indústria naval brasileira, que viveu um de seus tempos de ouro entre 2007 e 2011. Para o professor de economia dos transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de Brasília (UnB) Francisco Gildemir Ferreira da Silva, o impacto pode ser sentido em toda a cadeia naval do país. Porém ele ressalta à Sputnik Brasil a necessidade de investimentos e financiamento do setor.

"Do ponto de vista de produção de artefatos marítimos, sejam navios ou outros equipamentos, pode gerar um aquecimento, porque o Brasil tem proximidade com o Peru. Porém a nossa indústria naval é bem restrita, há poucos produtores no Brasil. Então o impacto imediato não será tão grande, mas pode levar a uma política de investimento e financiamento da cadeia. Se assim ocorrer e houver ainda acordos entre Brasil e Peru, podemos ter um desenvolvimento considerável da indústria naval do país", detalha.

Xi Jinping recebe Lula no Grande Palácio do Povo, em Pequim, em um encontro no qual assinaram uma série de acordos comerciais e de parceria. China, 14 de abril de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 06.11.2024
Panorama internacional
Nova Rota da Seda: Brasil poderia barganhar apoio a iniciativas de reindustrialização, diz analista

Qual foi o primeiro estaleiro do Brasil?

Era final do século XVI quando a Coroa Portuguesa iniciou a construção do primeiro estaleiro do Brasil, o Ribeira das Naus, em Salvador, na Bahia. Desde então, a cadeia industrial naval do país passou por altos e baixos: na década de 1970, era o segundo maior fabricante de embarcações navais, e viu um novo auge nos anos 2010, até entrar em uma crise profunda. Atualmente, o setor dá sinais de retomada e chegou a registrar aumento de 20% nas vagas de emprego nos últimos cinco anos.
Apesar da alta, o especialista critica a falta de políticas de longo prazo para o setor, o que também ajudaria a absorver os benefícios trazidos pelo novo porto.
"Em agosto foi assinada a medida provisória de incentivo à indústria naval, porém ainda tem um longo período de maturação e aceitação do Legislativo para que possa ajudar na continuidade dessa indústria. E a medida tem um período definido, e por conta disso não há certeza de longevidade."

Impactos do novo porto para a região Norte do Brasil

De olho na demanda que pode ser gerada pelo novo porto na região, a mesma empresa chinesa responsável pela estrutura anunciou a criação de uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE) em Senador Guiomard, no Acre. O espaço será um centro de logística e distribuição para cargas com origem ou destino à Ásia. Em agosto, o estado chegou a receber pela primeira vez uma carga experimental vinda do porto de Chancay. Ao todo, o percurso ultrapassou 2,7 mil quilômetros.
O professor da UFC destaca que a unidade pode trazer impactos para o produto interno bruto (PIB) de toda a região Norte, mas para gerar desenvolvimento, é necessária a implementação de políticas públicas.
"Deve gerar um crescimento econômico bem acentuado, mas para haver desenvolvimento é necessário políticas de realocação e definição de indústrias adjacentes que trabalhem na região. O Ceará teve a primeira ZPE do Brasil e só catalisou o desenvolvimento aliado ao crescimento econômico depois de implantar políticas de capacitação e educação [para atrair novas empresas]", resume.
Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, participa da cerimônia de apresentação das Rotas de Integração Sul-Americana, ao lado do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, e do ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes em Cárceres (MT), em 21 de junho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 21.06.2024
Notícias do Brasil
Em 4 anos Brasil terá acesso ao Pacífico em projeto de integração sul-americana, diz Tebet

Qual o estado brasileiro mais próximo do oceano Pacífico?

O Acre é também o estado brasileiro que fica mais próximo do oceano Pacífico, por onde ocorre o escoamento de cargas para a Ásia. E os investimentos em novas rotas nessa região, que também inclui as áreas fronteiriças em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Roraima, são cada vez mais cruciais para aumentar o intercâmbio econômico do país com o continente. É o que apontou à Sputnik Brasil o doutor em economia política internacional e professor na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) Luciano Wexell Severo.

"Temos que ver a inauguração do porto de Chancay como uma oportunidade para que se consolidem caminhos bioceânicos e para que o Brasil continue avançando rumo ao Oeste e ao Pacífico. Ele servirá como um ímã e um estimulador para que o país amplie o seu olhar também para os seus vizinhos na região. Nos últimos 25 anos, a economia e a dinâmica do mundo têm caminhado para a Ásia-Pacífico. A China, por exemplo, representava nessa época 2% dos destinos das exportações, índice que atualmente é de mais de 30%. Ao mesmo tempo, a economia brasileira também avança para o Oeste. Estados como os citados acima eram responsáveis por apenas 1% das exportações, e hoje já concentram mais de 12%", explica o especialista.

Além disso, o especialista citou a importância da América do Sul para a indústria brasileira, incluindo a naval.
"O Brasil tem 2,5 milhões de empresas e apenas 1% exporta. Desse total, mais de dois terços enviam os seus produtos apenas para a região [sul-americana]. Nesse sentido, de tudo o que o Brasil vende à China, apenas 2% têm intensidade tecnológica média ou alta, enquanto para a América do Sul esse índice é de 85%. O continente é um espaço de realização da faceta mais dinâmica da economia brasileira, que é a indústria. O país pode seguir vendendo commodities, mas é importante estimular e promover o setor industrial", argumenta.
Palácio Rio Branco, antiga sede do governo do Acre, na capital do estado (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 17.11.2023
Notícias do Brasil
Há 120 anos, Brasil incorporava Acre ao país: conheça o acordo diplomático que deu origem ao estado

Dos Andes à Amazônia, os obstáculos naturais da integração regional

Para chegar ao maior porto da América Latina, o professor da Unila enfatiza que a cordilheira dos Andes e a Floresta Amazônica são dois grandes obstáculos naturais que exigem a consolidação de ferrovias ou hidrovias, essas últimas possíveis justamente na Amazônia. É nessa questão que também entraria a indústria naval, sugere Severo.

"Em Manaus, nós temos o segundo maior polo naval do Brasil, com a possibilidade de produção de embarcações interessantes que poderiam ser escoadas para o Peru, a Colômbia ou o Equador através dos rios Içá, Solimões, Maranhão e Ucayali. E também temos outro ponto na fronteira de Rondônia com a Bolívia, onde está prevista a construção de uma nova ponte. Poderíamos também abastecer o país vizinho com embarcações da Zona Franca de Manaus, que desceriam o rio Madeira desde Manaus até Porto Velho e depois chegariam a Guajará-Mirim [onde terá a estrutura] para entrar em território boliviano", finaliza.

Logo da emissora Sputnik - Sputnik Brasil
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!

Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.

Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала