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'Primeiro passo da fase final': queda do Muro de Berlim completa 35 anos

© Sputnik / Igor Zarembo / Acessar o banco de imagensFragmento do Muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria. Postdamer Platz, Berlim, Alemanha
Fragmento do Muro de Berlim, símbolo da Guerra Fria. Postdamer Platz, Berlim, Alemanha - Sputnik Brasil, 1920, 08.11.2024
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Marco simbólico do período da Guerra Fria, a queda do Muro de Berlim completa 35 anos neste mês de novembro. Analistas ouvidos pela Sputnik Brasil relembram o contexto geopolítico e repassam a reunificação da Alemanha ao longo do episódio.
"Eu diria que teria sido o primeiro passo da fase final [da Guerra Fria]", afirma Virgílio Arraes, professor de história contemporânea da Universidade de Brasília (UnB), sobre a queda do Muro de Berlim no dia 9 de novembro de 1889.
O especialista relembra que o chamado socialismo real, do lado oriental do muro, já dava sinais de esmorecimento político e insuficiência econômica, o que foi sacramentado com o fim da União Soviética, em 1991.

Cidade partida

Construído em 1961, o Muro de Berlim perdurou por 28 anos dividindo não só a capital alemã, mas tornando-se um marco na divisão da Europa e do mundo naquele período.
Anteriormente, a cidade já era dividida, dado o contexto geopolítico instaurado pela Guerra Fria, mas o território era fracionado por cercas e policiamento.
"Ele [o muro] foi construído em um momento de intensificação dos conflitos da Guerra Fria", recorda Sidnei Munhoz, professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e autor do livro "Guerra Fria: história e historiografia".
A parede de concreto, entretanto, precede uma série de acontecimentos. A partir de 1947 — ano que marca o início da Guerra Fria — em um contexto de divergências globais entre EUA, Grã-Bretanha e União Soviética, os dois primeiros mais a França unificaram a moeda do lado de Berlim sob controle ocidental.
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A ideia, entretanto, desagradou a União Soviética, que, conforme relembra Munhoz, pressionou os líderes ocidentais e chegou a estabelecer um bloqueio a Berlim Ocidental. Até então, "só era possível chegar a Berlim Ocidental passando pela área da Alemanha Oriental", explica.
Apesar dos esforços, a iniciativa não prosperou. "Estados Unidos e Grã-Bretanha fizeram uma ponte aérea, por intermédio da qual, entre o final de 1948 e quase o final de 1949, cerca de mil voos diários abasteciam absolutamente tudo em Berlim Ocidental".
Como os soviéticos não apostaram em uma ofensiva militar naquele momento, conforme explica o professor, após 11 meses o bloqueio foi levantado, uma vez que já não funcionava.
Entre as divergências entre as partes no território, o especialista recorda a procura do lado ocidental por atrair milhares de alemães, principalmente jovens e qualificados do lado oriental para o seu lado.

"Isso tudo gerava uma enorme perda para o lado oriental. Então essa tentativa de controlar o muro começa aí."

Outro fator de disparidade entre as potências era a disponibilidade de capitais para dar suporte à reconstrução das áreas sob seus respectivos controles.
"Enquanto a União Soviética havia sido dizimada, com milhares de cidades destruídas, toda a sua infraestrutura de estradas, ferrovias, telégrafos, telefonias, hospitais, escolas, cidades, estava completamente tudo arrasado", diz o especialista ao recordar as consequências da Segunda Guerra Mundial.

"Os Estados Unidos emergiram como uma potência que não teve o seu território atacado, que perdeu aí ao redor de 500 a 600 mil combatentes e lucrou muito com a guerra, porque os Estados Unidos deram suporte e financiaram a guerra de outros países e se tornaram os principais fornecedores de matéria-prima e, portanto, os principais credores. […] Durante a maior parte da Guerra Fria, o PIB dos Estados Unidos era cerca de três vezes o da União Soviética", acrescenta.

A vantagem financeira facilitou aos EUA fornecer apoio, sobretudo após a criação do Plano Marshall.
Na época foram US$ 13 milhões (cerca de R$ 75 milhões) injetados nos países europeus do lado ocidental.
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Apesar da diferença econômica, durante o período havia "uma obrigação moral de redes de solidariedade social", o que permitiu a recuperação de vários países com a intervenção das grandes potências, conta Arraes.

"Até os anos 60 houve uma competição em que os dois lados se desenvolveram de modo bastante razoável."

Para Arraes, o ponto determinante para a queda do Muro de Berlim esteve relacionado à liberdade. Segundo ele, apesar da tentativa de isolamento, as pessoas podiam sintonizar as ondas do rádio e saber o que acontecia do outro lado do muro, embora não pudessem estabelecer comparações físicas.

"A diferença era muito significativa do ponto de vista cultural, do ponto de vista também político", conta.

Por isso, para o especialista havia essa expectativa pela liberdade política, ainda que acontecesse sem o acompanhamento de um desenvolvimento econômico mais equitativo.

A Europa após a queda do muro

Embora houvesse o desejo da vivência de um ambiente político que englobasse um pouco dos dois formatos políticos, como afirma Arraes, a parte oriental não pôde experimentar algo próximo ao que seria uma social-democracia, diz ele.

"O que ocorreu foi uma transição muito acelerada para o que nós chamamos hoje de neoliberalismo. Então os euro-orientais, como se costumava dizer naquela época, não tiveram oportunidade de vivenciar a social-democracia", afirmou.

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A reunificação da Alemanha também trouxe efeitos não esperados no âmbito das políticas de segurança da Europa. Isso porque, conforme acordado no Pacto de Varsóvia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) deveria ser gradualmente desarticulada, uma vez que, de certa forma, havia ocorrido uma "contenção da União Soviética", diz Arraes.

"Dado que não havia nem mais a União Soviética nem o comunismo, a OTAN perderia sua razão de ser. Mas, por pressão dos Estados Unidos, a aliança militar se manteve e tem sido ampliada. Na guerra do Afeganistão, a OTAN operou de modo sistemático, pela primeira vez, fora do continente europeu", acrescenta.

Quanto ao cenário político e ao recrudescimento da extrema-direita na Europa, o analista olha para a Alemanha com uma postura diferente em relação a alguns vizinhos. Ou seja, Arraes vê esse espectro político com adeptos no país, "mas, até o momento, numa escala eleitoral menor do que em outros países".
"O espírito da instituição, da estrutura administrativa, da estrutura política da Alemanha Ocidental, depois da Segunda Guerra e depois de 1989, faz com que haja uma barreira até o momento muito eficiente para conter os extremismos, tanto a esquerda como principalmente a direita", ressalta.
Isso não exclui, no entanto, a necessidade de estar atento e vigilante sobre o crescimento da extrema-direita. "Não significa que tenha que baixar a guarda", conclui.
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