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'Faíscas não faltam': 3ª Guerra Mundial está a caminho?
'Faíscas não faltam': 3ª Guerra Mundial está a caminho?
Sputnik Brasil
Com muitas nações nucleares, qual a possibilidade de um dos muitos conflitos atuais resultar em uma guerra mundial? Ou já é possível dizer que já vivemos um... 27.11.2024, Sputnik Brasil
2024-11-27T17:54-0300
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Ao Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho, analistas debateram essas questões.Em entrevista ao programa, Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro "Imperialismo, Estado e relações internacionais", afirma que o cenário atual é fruto de uma "crise do imperialismo".O imperialismo, explica o pesquisador, é uma forma de estruturação da geopolítica criada no direito internacional, através dos desbalanços de poder, gerando uma hierarquia entre as nações.Modo de organização política do capitalismo, o imperialismo passa por uma crise devido à própria evolução do modo de produção capitalista, Osório explica."Percebemos pelo menos duas características que vão acirrando o clima hostil que vemos no mundo", afirma o professor. "O primeiro é uma questão da desterritorialização da acumulação."Juntos, esses dois aspectos levam a uma financeirização das economias nacionais e à consequente concentração de renda em determinadas camadas e determinados países. "Todo esse cenário vai levando a um acirramento dos ânimos, a uma crise, e a alternativa tem sido cada vez mais beligerante."Ao mesmo tempo, os complexos militares-industriais se tornam uma forma de os países realizarem uma política industrial, "gerando cada vez mais a necessidade de emprego dessas armas pelo mundo".As 'faíscas' do incêndio globalA história revela que guerras podem acontecer por variados motivos, inclusive os mais banais, lembra Osório. "Às vezes uma faísca já é suficiente para haver uma grande escalada. E faíscas não estão faltando por aí."Entre elas, o especialista em relações internacionais aponta para pelo menos quatro disputas, deflagradas ou não, que podem agir como catalisadores de uma nova guerra mundial.São eles o conflito ucraniano, a escalada israelense no Oriente Médio, o uso de Taiwan como um protetorado pelos Estados Unidos e a separação da Coreia.Sobre o último ponto, o professor sublinha que a guerra civil no país não terminou, apesar de ambos os lados estarem em um armistício há 71 anos, desde 1953. "E essas tensões vêm aumentando nos últimos anos.""O tempo vai passando, e nos parece que é normal haver duas Coreias, mas é uma situação de completa artificialidade. A Coreia tem uma história milenar e nunca foi dividida em duas a não ser de 1950 em diante."Já em relação a Taiwan, o professor declara que os Estados Unidos fomentam uma postura independentista da ilha como forma de provocar o governo da China, que tem uma postura inegociável quanto à sua soberania e quanto à sua política de Uma Só China. "É um dos três pontos focais dentro do debate geopolítico mundial."Os outros dois são os conflitos abertamente deflagrados: o ucraniano e o israelense.Dissuasão russa foi exitosaÀ primeira vista, o conflito ucraniano pode parecer o que apresenta maiores riscos de escalonamento rumo a um conflito mundial, uma vez que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) utiliza Kiev como ponta de lança para criar um "atoleiro" para os russos, descreve Osório.Exemplo disso foi a recente autorização do presidente norte-americano, Joe Biden, para que a Ucrânia use mísseis balísticos estadunidenses em ataques ao interior da Rússia. A iniciativa, dada no crepúsculo de sua presidência, "parece que é aquele final de festa em que o convidado insiste em não ir embora e quer causar tumulto", diz o especialista.No entanto, a Rússia não se acovardou, e sua resposta, com o lançamento do míssil hipersônico Oreshnik, "deixou todo mundo, principalmente a Europa Ocidental, muito apavorado".Oriente Médio e a influência de atores nuclearesAo Mundioka, a pesquisadora associada do Centro de Estudos Judaicos da Universidade de São Paulo (USP) Luciana Garcia ressalta ainda que, dentro das perspectivas estabelecidas pelo futuro presidente dos EUA, Donald Trump, os norte-americanos devem abandonar o conflito ucraniano. "Então a situação tende a se acalmar."Por outro lado, seja pelo lado da Casa Branca, seja pelo lado do Reichstag, sede do Parlamento alemão, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, parece ganhar carta-branca para continuar sua política beligerante e de expansão do conflito pelo resto do Oriente Médio."As políticas dos Estados Unidos vão nesse sentido de acirrar cada vez mais o conflito no Oriente Médio", diz a pesquisadora.E também o governo de Netanyahu, ao longo da história, fortaleceu o Hamas, movimento palestino religioso, em detrimento da Autoridade Palestina, representação mais secular do povo. "Então a gente tem duas autoridades bastante problemáticas, com pouca probabilidade de diálogo."Nesse sentido, cada lado, com sua política intransigente, é apoiado por atores nucleares, seja os Estados Unidos ou o próprio Irã, que a pesquisadora de estudos judaicos considera possuir armamentos nucleares, "apesar da retórica dos aiatolás"."Então", diz Garcia, "é muito preocupante o envolvimento de todos esses atores e a forma como o conflito vem se deflagrando com o passar do tempo".
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Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas
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Marcelo Castilho, analistas debateram essas questões.
Em entrevista ao programa, Luiz Felipe Osório, professor de relações internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e autor do livro "Imperialismo, Estado e relações internacionais", afirma que o cenário atual é fruto de uma "crise do imperialismo".
O imperialismo, explica o pesquisador, é uma forma de estruturação da geopolítica criada no direito internacional, através dos desbalanços de poder, gerando uma hierarquia entre as nações.
Modo de organização política do capitalismo, o
imperialismo passa por uma crise devido à própria evolução do modo de produção capitalista, Osório explica.
"Percebemos pelo menos duas características que vão acirrando o clima hostil que vemos no mundo", afirma o professor. "O primeiro é uma questão da desterritorialização da acumulação."
"E o segundo aspecto é que há uma ausência cada vez maior de instrumentos para o Estado intervir na economia. O Estado fica cada vez mais impotente para corrigir distorções econômicas."
Juntos, esses dois aspectos levam a uma financeirização das economias nacionais e à consequente concentração de renda em determinadas camadas e determinados países. "Todo esse cenário vai levando a um acirramento dos ânimos, a uma crise, e a alternativa tem sido cada vez mais beligerante."
Ao mesmo tempo, os complexos militares-industriais se tornam uma forma de os países realizarem uma política industrial, "gerando cada vez mais a necessidade de emprego dessas armas pelo mundo".
"Ainda não estamos na Terceira Guerra Mundial, mas temos um clima muito propício."
As 'faíscas' do incêndio global
A história revela que guerras podem acontecer por variados motivos, inclusive os mais banais, lembra Osório. "Às vezes uma faísca já é suficiente para haver uma grande escalada. E faíscas não estão faltando por aí."
Entre elas, o especialista em relações internacionais aponta para pelo menos quatro disputas, deflagradas ou não, que podem agir como catalisadores de uma nova guerra mundial.
São eles o conflito ucraniano, a escalada israelense no Oriente Médio, o uso de Taiwan como um protetorado pelos Estados Unidos e a separação da Coreia.
Sobre o último ponto, o professor sublinha que a guerra civil no país não terminou, apesar de ambos os lados estarem em um armistício há 71 anos, desde 1953. "E essas tensões vêm aumentando nos últimos anos."
"O tempo vai passando, e nos parece que é normal haver duas Coreias, mas é uma
situação de completa artificialidade. A Coreia tem uma história milenar e nunca foi dividida em duas a não ser de 1950 em diante."
Já em relação a Taiwan, o professor declara que os Estados Unidos fomentam uma postura independentista da ilha como forma de provocar o governo da China, que tem uma postura inegociável quanto à sua soberania e quanto à sua política de Uma Só China. "É um dos três pontos focais dentro do debate geopolítico mundial."
Os outros dois são os conflitos abertamente deflagrados: o ucraniano e o israelense.
Dissuasão russa foi exitosa
À primeira vista, o conflito ucraniano pode parecer o que apresenta maiores riscos de escalonamento rumo a um conflito mundial, uma vez que a
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) utiliza Kiev como ponta de lança para
criar um "atoleiro" para os russos, descreve Osório.
Exemplo disso foi a recente autorização do presidente norte-americano, Joe Biden, para que a Ucrânia use mísseis balísticos estadunidenses em ataques ao interior da Rússia. A iniciativa, dada no crepúsculo de sua presidência, "parece que é aquele final de festa em que o convidado insiste em não ir embora e quer causar tumulto", diz o especialista.
No entanto, a Rússia não se acovardou, e sua resposta, com o
lançamento do míssil hipersônico Oreshnik,
"deixou todo mundo, principalmente a Europa Ocidental, muito apavorado".
"O silêncio da grande mídia, dos grandes monopólios de mídia já assinalam como que essa reação da Rússia foi exitosa."
Oriente Médio e a influência de atores nucleares
Ao Mundioka, a pesquisadora associada do Centro de Estudos Judaicos da Universidade de São Paulo (USP) Luciana Garcia ressalta ainda que, dentro das perspectivas estabelecidas pelo futuro presidente dos EUA, Donald Trump, os norte-americanos devem abandonar o conflito ucraniano. "Então a situação tende a se acalmar."
Por outro lado, seja pelo lado da Casa Branca, seja pelo lado do Reichstag, sede do Parlamento alemão, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, parece ganhar carta-branca para continuar sua política beligerante e de expansão do conflito pelo resto do Oriente Médio.
"As políticas dos Estados Unidos vão nesse sentido de acirrar cada vez mais o conflito no Oriente Médio", diz a pesquisadora.
"Primeiro que o governo de Israel é um governo extremista, com uma retórica bélica, que nunca aceitou a existência de um Estado palestino na região."
E também o governo de Netanyahu, ao longo da história, fortaleceu o Hamas, movimento palestino religioso, em detrimento da Autoridade Palestina, representação mais secular do povo. "Então a gente tem duas autoridades bastante problemáticas, com pouca probabilidade de diálogo."
Nesse sentido, cada lado, com sua política intransigente, é apoiado por atores nucleares, seja os Estados Unidos ou o próprio Irã, que a pesquisadora de estudos judaicos considera possuir armamentos nucleares, "apesar da retórica dos aiatolás".
"Então", diz Garcia, "é muito preocupante o
envolvimento de todos esses atores e a forma como o conflito vem se deflagrando com o passar do tempo".
"Ainda não estamos vivendo a Terceira Guerra, mas ela pode romper a qualquer momento, porque temos muitos atores envolvidos que detêm armas nucleares."
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