Mídia: para evitar guerra comercial com Trump, 'precisamos comprar' dos EUA, diz chefe do BCE
© AP Photo / Michael ProbstA presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, participa de uma coletiva de imprensa após uma reunião do conselho de administração do banco em Frankfurt, Alemanha, 6 de junho de 2024
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Criticando o slogan de Trump que pretende "fazer a América grande novamente" em um momento de queda de demanda sob uma agenda de aumento de tarifas comerciais, a chefe do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que o bloco europeu precisa "não retaliar, mas negociar", já que uma guerra comercial não é "do interesse de ninguém".
Após a vitória de Donald Trump nos EUA, autoridades em Bruxelas ficaram temerosas de que o futuro presidente dos EUA cumpra suas promessas de campanha, em especial, o aumento de 20% nas tarifas comerciais de produtos não chineses, o que pode ameaçar o quadro superavitário da União Europeia (UE) com os EUA.
De acordo com o Financial Times (FT), a chefe do BCE tem uma estratégia para lidar com um segundo mandato de Trump, que é se oferecer para "comprar certas coisas dos Estados Unidos", como gás natural liquefeito (GNL) e equipamentos de defesa. Mas esta estratégia não é nova e tem sido adotada pela Comissão Europeia desde que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) iniciou sua guerra por procuração na Ucrânia contra a Rússia ao buscar uma nova expansão para o Leste, forçando a UE a abrir mão da compra de energia barata e confiável da Rússia em detrimento do GNL norte-americano.
Para Lagarde, o segundo mandato de Trump é "claramente uma ameaça" para a região, e por esta razão autoridades no bloco precisam considerar o aumento das compras de exportações dos EUA. Segundo ela, Bruxelas precisa se manter próxima da Casa Branca, por isso seu olhar "previdente" tem sido uma constante quando observa "os debates que estamos tendo em muitos países da Europa".
"Cabe a nós agora — os europeus — transformar essa nossa atitude de ameaça em um desafio ao qual temos que responder", disse a presidente do BCE, segundo a apuração. Embora ela tenha contestado as alegações de que a Europa estava envolvida em uma crise, a situação atual foi "um grande despertar".
Apesar de concordar com o relatório de seu antecessor Mario Draghi de que a UE precisava tomar medidas drásticas para recuperar sua competitividade, Lagarde acredita que é possível retomar os trilhos, mas que agora, com a guerra acirrada entre Washington e Pequim, será preciso atenção redobrada ao redirecionamento da produção chinesa.
Ainda segundo o FT, a autoridade pediu que a Europa se concentrasse no teor das propostas de Trump e não no tom de discurso de campanha que ele costuma adotar, argumentando que era "interessante" que ele tivesse sugerido introduzir tarifas entre 10% e 20% sobre importações não chinesas porque significa que há uma margem para negociação.
Para a Europa, a posição do novo governo Trump sobre comércio e cooperação transatlântica foi um "acelerador de uma redefinição de que precisamos", disse Lagarde, considerando fatores inflacionários, certa estagnação da produção industrial e a desaceleração do crescimento e, de acordo com sua análise, essa seria uma excelente oportunidade para implementar um mercado único de capital na Europa.