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África do Sul marcou posição como força diplomática do Sul Global em 2024, notam analistas

© AP Photo / Themba HadebeO presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, fala durante uma conferência de mídia conjunta com o chanceler alemão, Olaf Scholz, no Union Building em Pretória. África do Sul, 24 de maio de 2022
O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, fala durante uma conferência de mídia conjunta com o chanceler alemão, Olaf Scholz, no Union Building em Pretória. África do Sul, 24 de maio de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 29.11.2024
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Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas apontam que a África do Sul, por meio do BRICS, elevou o protagonismo no cenário externo em 2024, em uma estratégia similar à do Brasil, e destacam o que esperar da presidência sul-africana no G20 em 2025.
A África do Sul consolidou seu papel como voz ativa do Sul Global em 2024, protagonizando momentos importantes na política internacional, como a denúncia de genocídio perpetrado por Israel na Faixa de Gaza, protocolada na Corte Internacional de Justiça (CIJ), e o apoio à proposta de paz sino-brasileira para o conflito ucraniano.
O país também assumiu a presidência do G20, transferida pelo Brasil, e no ano que vem sediará a cúpula do evento.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, especialistas analisam o papel da África do Sul como principal força diplomática africana e o que esperar da política externa do país em 2025.
Há muito a África do Sul vem empenhada em promover uma nova ordem global multipolar, conforme explica Marcos Paulo Amorim, professor substituto de história da África da Universidade Estadual Paulista (Unesp), bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e doutor em história social da África pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ele frisa que foi durante a presidência da África do Sul no BRICS, em 2013, que foi fundado o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), popularmente chamado de Banco do BRICS, um mecanismo de enfrentamento ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Foi também sob a presidência sul-africana que foi consolidada a expansão do BRICS, em 2023, na cúpula de Joanesburgo.

"Então, toda a África do Sul, nesse sentido, a meu ver, era bastante coerente com a sua política internacional, e nas suas gestões do BRICS ela sempre se manteve coerente com isso [a multipolaridade]", afirma Amorim.

Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado dos primeiros-ministros da Índia, Narendra Modi, e da África do Sul, Cyril Ramaphosa, durante a cúpula do G20. Rio de Janeiro, 19 de novembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 19.11.2024
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Ele destaca ainda que, em 2024, o país assinou um acordo de livre comércio com todo o continente africano, rompendo barreiras alfandegárias do Norte ao Sul da África, e fechou um acordo de livre comércio com a União Europeia (UE), que tem como foco tecnologias para a agroindústria, para o setor automobilístico e para a produção de energia renovável.
"Procurou nas suas parcerias com o golfo [Pérsico], com a China, com a Coreia, a expansão do comércio e da tecnologia digital para o uso da mineração, [fechou] acordos de geração de energia renovável com a Índia, acordos de livre comércio com a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral… Realmente, [2024] foi um ano muito positivo para a África do Sul nos acordos internacionais."
Amorim afirma que, somado a isso, está a defesa enfática que a África do Sul passou a fazer pela descolonização da região da Palestina, pelos povos do Saara Ocidental e as tentativas de estabelecimento de missões de paz na Ucrânia e na Rússia.
Ele lembra que o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, sempre afirmou que a África do Sul, justamente por sua experiência em violência e conflitos vivenciados ao longo da história, tem capacidade de operar como árbitro nas relações internacionais.

"A África do Sul se coloca e sempre se colocou nesses espaços de justiça e da promoção dos direitos humanos e, sobretudo, como a própria política externa e internacional da África do Sul afirma, da descolonização do mundo. Então, sem dúvida, isso garantiu 'musculatura' [nesse tema], e a África do Sul reconhece, do ponto de vista internacional também, a sua autoridade para definir ou não o que é apartheid", afirma o especialista.

O presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, dirige-se aos apoiadores do Congresso Nacional Africano no comício de Siyanqoba, no estádio FNB. Joanesburgo, 25 de maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 27.09.2024
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Para a presidência do G20 no ano que vem, Amorim afirma que é esperado que a África do Sul promova maior representatividade de países africanos no cenário internacional, continuando o esforço feito ao trazer a União Africana para o grupo na cúpula deste ano.
"Acho que a gente pode esperar também um foco muito maior nas questões de redução de pobreza e desigualdade social. Também algo que a África do Sul pensa muito ativamente, que é o desenvolvimento sustentável, um olhar mais apurado para essa questão das mudanças climáticas. A África do Sul não exige apenas a redução de carbono dos países em desenvolvimento. Ela força e já falou várias vezes em criar mecanismos mais ativos de punir os países desenvolvidos pela emissão de carbono."

África do Sul é a maior concorrente do Brasil na liderança do Sul Global?

Amorim afirma que a África do Sul e o Brasil são os países que mais se destacam no Sul Global atualmente, mas por motivos diferentes. Segundo ele, enquanto a África do Sul foca na busca por soluções tecnológicas e questões climáticas, o Brasil mira a reforma da governança global, com foco especial nas agências reguladoras e no sistema financeiro.
"Também [há] o embate forte, que já vem desde o primeiro governo Lula, sobre as reformas no Conselho de Segurança [da ONU]", afirma.
O presidente russo, Vladimir Putin, na reunião com o líder da África do Sul, Cyril Ramaphosa, em São Petersburgo, Rússia, 29 de julho de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 28.10.2024
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Pablo Braga, professor de relações internacionais do Ibmec, avalia a África do Sul mais como um ator que coopera com o Brasil na construção de uma agenda do Sul Global do que como um concorrente.

"Essa competição surge muito esporadicamente em alguns assuntos, mas, do ponto de vista mais estratégico, são dois países que têm inserções internacionais não necessariamente competitivas, principalmente porque o Brasil tem uma perspectiva mais da América do Sul, e a África do Sul como um ator protagonista na diplomacia do continente africano", observa.

Ele acrescenta que a denúncia feita à CIJ sobre o genocídio em Gaza complementa a agenda do Brasil, que também é crítico das ações de Israel no enclave.
"Então a postura da África do Sul ganha um protagonismo porque é um país que procura muito relacionar essa denúncia à própria história sul-africana de uma forte ligação com a resistência palestina, desde a época do apartheid […] mas isso eu não vejo como algo que contraria os interesses brasileiros. Pelo contrário, acho que dá um lastro de juridicidade a essa posição do Brasil que, apesar de não ter feito a denúncia, certamente apoia diplomaticamente ela."
Braga destaca ainda que a África do Sul tem como estratégia usar o BRICS como plataforma para projetar sua influência como liderança do Sul Global, "estratégia que, inclusive, se assemelha muito à do Brasil".
"A África do Sul aparece muito como um país que acaba meio que capitaneando as demandas do continente africano, ou tenta se colocar como um representante legítimo das aspirações desse continente no mundo."
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