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Quão pragmática será a Argentina de Milei na presidência do Mercosul?

© Foto / Ricardo Stuckert / PRReunião de coordenação entre presidentes dos Estados partes do Mercosul
Reunião de coordenação entre presidentes dos Estados partes do Mercosul - Sputnik Brasil, 1920, 10.12.2024
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Pelos próximos seis meses, a Argentina estará à frente da presidência rotativa do Mercosul. A transferência da Presidência Pro Tempore (PPT) ocorreu na última sexta-feira (6), na capital uruguaia, Montevidéu, quando o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, passou o martelo para o presidente argentino, Javier Milei.
O que esperar dessa gestão de Milei, um crítico do bloco, com posições divergentes das dos demais membros — Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai, Uruguai e Venezuela (suspensa)?
Analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, no programa de podcast Mundioka, avaliaram que, apesar dos discursos inflamados de Milei contra uma série de prerrogativas do Mercosul e do posicionamento "ultraliberal" do mandatário argentino, na prática, o atual líder do bloco agirá com pragmatismo.
Desavenças à parte, o próximo semestre não deve trazer grandes surpresas para o bloco sul-americano, segundo o mestre em relações internacionais e pesquisador do Núcleo de Estudos dos Países BRICS (NuBRICS) da Universidade Federal Fluminense (UFF) Lier Pires Ferreira, e o pesquisador do Núcleo de Estudos Latino-Americanos (NEL) da Universidade de Brasília (UnB) Robson Cardoch Valdez.

Mercosul e UE

A mudança de comando ocorreu em meio à assinatura do polêmico acordo entre o bloco e a União Europeia (UE), que tardou 25 anos para ocorrer. Segundo os especialistas entrevistados, o processo, que é demorado, envolverá ainda uma série de tensões e desafios para ser concretizado.
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"O Mercosul é uma união aduaneira imperfeita: não é uma zona ou área de livre comércio nem um mercado comum, como ele se propôs a ser, e muito menos uma união monetária, como acontece na Europa", comentou Ferreira.

Diferentemente da UE, com livre circulação de trabalhadores, moeda única gerida por um banco central comum e supranacional, logo, acima da ordem soberana dos Estados nacionais, no Mercosul cada um dos parlamentos dos membros do bloco terá que avalizar o acordo.
Ainda assim, a expectativa é de que não haja empecilhos por parte dos países do Mercosul.

"Porque o Milei está precisando dos recursos que poderão advir desse acordo. Eu ousaria dizer que ele até tenderá a acelerar esse acordo […]. Além disso, ele é muito afeito ao que nós chamamos aqui de Norte Global, principalmente às principais potências da Europa Ocidental e aos Estados Unidos", opinou Ferreira.

Para Valdez, o sucesso da assinatura do demorado acordo se deve a um contexto de fragmentação do comércio internacional, em que a UE busca resgatar parcerias e se fortalecer frente aos EUA, inclusive, por conta da vitória de Donald Trump na eleição presidencial norte-americana:

"Não se sabe como vai ser essa relação comercial entre os europeus e os Estados Unidos, mas, do ponto de vista dos europeus, isso [acordo com o Mercosul] gera vantagem para uma futura negociação, porque os europeus vão negociar com o Trump, com os Estados Unidos, numa posição um pouco menos fragilizada. […] sinaliza para a economia norte-americana que a União Europeia não estaria tão dependente de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, haja vista que vem buscando outras alternativas para reduzir a dependência."

Inimigos, inimigos, negócios à parte

Apesar das desavenças e dos embates ideológicos evidenciados entre Milei e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as tensões devem ocorrer mais do ponto de vista político, sem grandes efeitos nas negociações econômicas, ponderaram os especialistas.
Os entrevistados observaram que, com Milei na presidência do bloco, a racionalidade econômica deve sobrepor os compromissos políticos e ideológicos, como a integração latino-americana.

"Milei não acredita nisso, não compartilha desses valores e vai tentar partir para uma perspectiva de pragmatismo econômico, encontrando no Brasil uma reação bastante significativa, porque não é essa a pegada histórica do Itamaraty enquanto órgão de Estado e, também, evidentemente, não é essa a pegada do presidente Lula e dos seus principais aliados político-ideológicos dentro e fora do campo progressista brasileiro", disse Ferreira.

Valdez acrescentou que, nesse contexto, apesar das rivalidades, a realidade econômica se impõe na hora de avançar nas agendas comuns, como foi o caso do recente acordo do gás natural de Vaca Muerta entre os dois países.

"Acredito também que essa questão do Mercosul acaba sendo também pragmaticamente equacionada, até porque temos a eleição do presidente [Yamandú] Orsi no Uruguai, que, acredito, terá uma boa relação e uma boa articulação com o governo brasileiro no sentido de promover a implementação desse acordo", disse ele.

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