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Análise: volta de Trump à presidência dos EUA pode garantir 'vitória à Rússia' no conflito ucraniano

© AP Photo / Rick ScuteriPresidente eleito dos EUA, Donald Trump discursa durante o evento AmericaFest, em Phoenix, EUA, em 22 de dezembro de 2024
Presidente eleito dos EUA, Donald Trump discursa durante o evento AmericaFest, em Phoenix, EUA, em 22 de dezembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 02.01.2025
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Eleito presidente dos Estados Unidos da América este ano, Donald Trump trará alguns desafios ao mundo contemporâneo em sua volta à Casa Branca.
Ouvidos pelo podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas avaliam impactos da volta do magnata ao poder.
Para o professor Rafael Pons Reis, do bacharelado em relações internacionais do Centro Universitário Internacional Uninter, o retorno de Trump ao poder pode trazer de volta sua abordagem isolacionista e pragmática na política externa.
Isso poderia significar o enfraquecimento das organizações multilaterais e a revisão de acordos globais, como o Acordo de Paris, do qual Trump já havia retirado os Estados Unidos no primeiro mandato.

"O slogan 'America First' deve continuar a guiar a atuação dos EUA, com um foco ainda maior na proteção dos interesses domésticos e um afastamento das instituições internacionais", avaliou.

Layla Dawood, professora do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da mesma universidade, destacou, no que diz respeito às relações internacionais, que a principal dúvida gira em torno da mudança ou não da "grande estratégia" dos Estados Unidos, ou seja, como será o futuro da presença dos EUA em várias áreas, especialmente a militar.
"A presença militar dos Estados Unidos e sua interferência nos conflitos globais, como os que estamos vendo atualmente, será um ponto crucial", afirmou. Ela também se referiu ao espectro da política externa americana, que vai de uma postura mais contida, chamada "restraint", até uma mais intervencionista, a "primazia".
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Sul Global

Quanto ao Sul Global, que depende fortemente de acordos multilaterais e da cooperação internacional, para o professor sentiria o golpe da volta de Trump.

"A retração dos EUA das plataformas internacionais, como ocorreu com a Organização Mundial da Saúde durante a pandemia de COVID-19, tende a dificultar as negociações globais, impactando negativamente os países do Sul Global", afirmou.

No entanto, ele também indicou que esse vácuo deixado pelos Estados Unidos poderia criar oportunidades para outras potências, como China e Brasil, especialmente dentro do contexto do BRICS.
"Esse vácuo de poder pode ser preenchido por blocos como o BRICS, especialmente com a liderança do Novo Banco de Desenvolvimento, […] assumido por Dilma Rousseff, e com a estratégia da Iniciativa Cinturão e Rota, da China", embasou.

OTAN e conflito

Um ponto crucial levantado pelo professor foram as relações dos EUA com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
"Trump já havia criticado a aliança no seu primeiro mandato, pressionando os países europeus a aumentarem seus gastos com defesa", lembrou Pons Reis. Ele prevê que, em 2025, Trump continuará a adotar essa postura e pressionará a Europa a assumir maior responsabilidade por sua própria segurança, enfraquecendo a OTAN. "Eu acredito que ele vai continuar nessa linha de deixar a Europa para resolver seus próprios problemas, e a OTAN pode acabar sendo marginalizada", disse.
Essa estratégia pode ter implicações para o conflito na Ucrânia.
"Se Trump seguir essa linha, ele pode reduzir o apoio dos EUA ao conflito, favorecendo um acordo que beneficie a Rússia", disse o professor, apontando que Trump poderia pressionar Vladimir Zelensky a aceitar condições que, do ponto de vista estratégico, seriam mais vantajosas para a Rússia.

"Se esse cenário se materializar, podemos ver [Vladimir] Putin como um vencedor, com a Ucrânia cedendo algumas regiões para a Rússia, o que é um objetivo estratégico do Kremlin", afirmou.

Dawood explicou que, se Trump se mantiver em sua postura de "restraint", pode-se esperar uma "autocontenção" dos Estados Unidos, como já sinalizado por ele em relação ao conflito na Síria, onde ele afirmou que os EUA não interviriam.
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Por outro lado, em relação à situação na Ucrânia, a professora mencionou que Trump prometeu "terminar a guerra em um dia", o que poderia resultar em uma redução da ajuda militar e financeira dos EUA à Ucrânia.

"Essa diminuição da ajuda ocidental poderia ser vista como uma forma de apaziguamento, o que colocaria a Ucrânia em uma situação de fraqueza frente à Rússia", afirmou, acrescentando que, ao enfraquecer a Ucrânia, a Rússia poderia avançar em sua estratégia de reintegrar mais territórios, o que tornaria muito difícil uma negociação de paz.

Oriente Médio

Em relação ao Oriente Médio, o apoio de Trump a Israel e seu estreito relacionamento com Benjamin Netanyahu foram destacados pelo professor.
"Trump sempre foi pró-Israel, e acredito que ele continuará a apoiar Netanyahu, mesmo que isso dificulte a criação de um Estado palestino, que considero uma utopia", comentou.
Sobre o conflito em Gaza, o professor acredita que Trump pode tentar pressionar por um cessar-fogo, mas reconhece que um acordo duradouro será difícil de alcançar. "A pressão por um cessar-fogo será intensa, mas as condições ainda são muito difíceis para uma paz verdadeira e sustentável. A fragilidade da Palestina e a situação do Hamas tornam esse cenário desafiador", explicou.
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