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Militares se sentem 'casta', desgosto com governo é histórico e vem antes de Lula, diz especialista
Militares se sentem 'casta', desgosto com governo é histórico e vem antes de Lula, diz especialista
Sputnik Brasil
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que a atual tensão de militares com o governo é uma constante na história do país, com exceção da gestão... 02.01.2025, Sputnik Brasil
2025-01-02T18:56-0300
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Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, seu mandato vem sendo marcado por uma crescente tensão com militares.No momento, o elemento que serve como ponto de tensão é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, apresentada pelo governo Lula, que, entre outras coisas, prevê a regulação e a centralização da atuação das forças de segurança nos estados. Embora seja apontada como necessária por analistas para aprimorar o combate ao crime organizado, a PEC é rechaçada por entidades militares, que em novembro se uniram a entidades de delegados de polícia em uma carta conjunta para rechaçar a proposta.Somados a isso, há a inclusão de militares nas medidas de corte do governo e o sinal dado pelo ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, de que pretende deixar o cargo, após dois anos de atuação, tendo sido escolhido justamente para promover a pacificação entre o governo federal e as Forças Armadas. A medida é anunciada em meio à crise envolvendo a prisão do general Walter Braga Netto por ligação com os planos de golpe de Estado investigados pela Polícia Federal (PF).Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam se o momento atual pode ser considerado o mais crítico da relação de Lula com os militares e como isso pode refletir nas eleições de 2026.Os atos do 8 de Janeiro, uma semana após a posse de Lula, expuseram a transição mal resolvida entre o governo de Jair Bolsonaro e o de Lula, explica Carolina Botelho, doutora em ciência política, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Neurociência Social e Afetiva (INCT/SANI) e associada do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública (Doxa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).Ela avalia que Lula, ao longo de todo o seu mandato, terá de "desarmar uma bomba", uma vez que toda sua gestão passa por uma situação de tensão com essas forças, que ainda têm em seus quadros muitos que ainda se recusam a aceitar o resultado das urnas."A própria imprensa e as investigações mostram que eles permanecem em diálogo de oposição ou pelo menos refletindo sobre ações contra o governo", destaca.Segundo Botelho, a questão dos benefícios concedidos a militares é um ponto de tensão por se tratar de uma categoria que se entende como diferente das demais.Segundo ela, benefícios como previdenciários, de pensão e de aposentadoria, aos militares representam um ponto totalmente fora da curva se comparados aos de outros grupos de trabalhadores, não apenas no Brasil, mas no mundo."O nosso militar, ele se aposenta muito cedo, com 53 anos. [Eles dizem] 'Ah, mas eu vou ficar lá [de reserva] para alguma guerra', mas nunca teve [guerra]. Nos últimos 100 anos, não teve. […] Sem contar que eles têm benefícios de toda ordem, [como] clubes militares, financiamento de apartamento…", destaca.Ela afirma que "a reforma de 2019 é um escracho para a sociedade civil", pois enquanto a população inteira sofreu cortes muito severos, militares ampliaram seus benefícios.Ela considera que o ponto-chave para essa questão é entender por que, embora o governo Lula tenha melhorado a economia e o país esteja vivendo o pleno emprego, ainda há uma parcela da população que rejeita a gestão do presidente enquanto mantém o apoio a militares."É tentar entender que valores morais e culturais são esses, para que as pessoas permaneçam aderentes a um tipo de liderança que distribui privilégios para grupos bem restritos e que beneficia só algumas pessoas da população."Insatisfação de militares com o governo é históricaSe você examina a história dos militares durante a República, sempre houve um estado de insatisfação nas Forças Armadas. É o que afirma João Roberto Martins Filho, professor titular sênior do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).Ele diz que essa insatisfação estava presente inclusive em 1964, durante o regime militar, quando havia pressão interna de oficiais por uma maior radicalização, que se agravou quando Ernesto Geisel (1974–1979) propôs a abertura política e culminou no atentado ao Riocentro, em 1981, na gestão de João Figueiredo, o último presidente do período da ditadura.Martins Filho enfatiza que essa insatisfação se manteve durante os dois primeiros mandatos de Lula, por conta da política de demarcações de terras indígenas, e no governo Dilma Rousseff, por conta da criação da Comissão Nacional da Verdade.Ele destaca dois fatores que considera mais importantes para entender a insatisfação dos militares com a terceira gestão de Lula, para além do corte de benefícios. O primeiro é o posicionamento da política externa do governo em relação a Israel, que militares consideram ideológico."Houve grande insatisfação entre os militares […] com a questão de Israel, que chegou próximo de o Brasil cancelar uma compra militar, o que para os militares é o cúmulo. E o segundo fator é a atuação da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal ao processar, prender, fazer buscas e apreensões contra generais, embora aí nós tenhamos que qualificar bem a coisa, [pois] generais como o Braga Netto e oficiais como o tenente-coronel [Mauro] Cid já eram dados como causa perdida, porque eles atacaram de forma extremamente desonesta os atuais comandantes e o chefe do Estado-Maior do Exército."Ele descarta que uma eventual saída de Mucio possa agravar a tensão, afirmando que o ministro "já fez a tarefa dele", e diz acreditar que Lula, na segunda parte de seu mandato e se aproximando das eleições, não vai mudar a política de conciliação com as Forças Armadas.
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Militares se sentem 'casta', desgosto com governo é histórico e vem antes de Lula, diz especialista
18:56 02.01.2025 (atualizado: 21:08 02.01.2025) Especiais
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que a atual tensão de militares com o governo é uma constante na história do país, com exceção da gestão Bolsonaro, quando houve a ampliação de benefícios da categoria.
Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, seu mandato vem sendo marcado por uma crescente tensão com militares.
No momento, o elemento que serve como ponto de tensão é a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, apresentada pelo governo Lula, que, entre outras coisas,
prevê a regulação e a centralização da atuação das forças de segurança nos estados. Embora seja apontada como necessária por analistas para aprimorar o combate ao crime organizado, a
PEC é rechaçada por entidades militares, que em novembro se uniram a entidades de delegados de polícia em uma carta conjunta para rechaçar a proposta.
Somados a isso, há a
inclusão de militares nas medidas de corte do governo e o sinal dado pelo ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, de que pretende deixar o cargo, após dois anos de atuação, tendo sido escolhido justamente para promover a pacificação entre o governo federal e as Forças Armadas.
A medida é anunciada em meio à crise envolvendo a prisão do general Walter Braga Netto por ligação com os planos de golpe de Estado investigados pela Polícia Federal (PF).
Em entrevista à
Sputnik Brasil, especialistas analisam se o momento atual pode ser considerado o mais crítico da
relação de Lula com os militares e como isso pode refletir nas eleições de 2026.
Os atos do 8 de Janeiro, uma semana após a posse de Lula, expuseram a transição mal resolvida entre o governo de Jair Bolsonaro e o de Lula, explica Carolina Botelho, doutora em ciência política, pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Neurociência Social e Afetiva (INCT/SANI) e associada do Laboratório de Estudos Eleitorais, de Comunicação Política e Opinião Pública (Doxa), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
"Porque é um ex-governo que se recusa a passar a institucionalidade ao outro que foi eleito democraticamente. E aí você tem que construir um cenário institucional dentro das regras do Estado de Direito e lidando com forças institucionais do próprio Estado que estariam conspirando e conspiraram contra eles. A gente viu, a história está mostrando, que muitos militares participaram da tentativa de golpe e não pararam depois."
27 de novembro 2024, 13:36
Ela avalia que Lula, ao longo de todo o seu mandato, terá de "desarmar uma bomba", uma vez que toda sua gestão passa por uma situação de tensão com essas forças, que ainda têm em seus quadros muitos que ainda se recusam a aceitar o resultado das urnas.
"A própria imprensa e as investigações mostram que eles permanecem em diálogo de oposição ou pelo menos refletindo sobre ações contra o governo", destaca.
Segundo Botelho, a questão dos benefícios concedidos a militares é um ponto de tensão por se tratar de uma categoria que se entende como diferente das demais.
"E não são [diferentes], são uma instituição de Estado, têm que responder ao Estado e têm que ser vistos como todos os outros brasileiros, civis ou não. Porque o Estado brasileiro, o orçamento dele, tem que ser distribuído de forma a atender aqueles que mais precisam, não aqueles que menos precisam."
Segundo ela, benefícios como previdenciários, de pensão e de aposentadoria, aos militares representam um ponto totalmente fora da curva se comparados aos de outros grupos de trabalhadores, não apenas no Brasil, mas no mundo.
"O nosso militar, ele se aposenta muito cedo, com 53 anos. [Eles dizem] 'Ah, mas eu vou ficar lá [de reserva] para alguma guerra', mas nunca teve [guerra]. Nos últimos 100 anos, não teve. […] Sem contar que eles têm benefícios de toda ordem, [como] clubes militares, financiamento de apartamento…", destaca.
Ela afirma que "a reforma de 2019 é um escracho para a sociedade civil", pois enquanto a população inteira sofreu cortes muito severos, militares ampliaram seus benefícios.
"Em vez de perder aquilo que já era um quadro bastante privilegiado, comparado ao de outros brasileiros, eles ainda ganharam mais. Então esses benefícios têm que ser enfrentados mesmo, porque eles não são uma casta à parte, não existe sistema de castas no Brasil."
30 de novembro 2024, 17:59
Ela considera que o ponto-chave para essa questão é entender por que, embora o governo Lula tenha melhorado a economia e o país esteja vivendo o pleno emprego, ainda há uma parcela da população que rejeita a gestão do presidente enquanto mantém o apoio a militares.
"É tentar entender que valores morais e culturais são esses, para que as pessoas permaneçam aderentes a um tipo de liderança que distribui privilégios para grupos bem restritos e que beneficia só algumas pessoas da população."
Insatisfação de militares com o governo é histórica
Se você examina a história dos militares durante a República, sempre houve um estado de insatisfação nas Forças Armadas. É o que afirma João Roberto Martins Filho, professor titular sênior do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
Ele diz que essa insatisfação estava presente inclusive em 1964, durante o regime militar, quando havia pressão interna de oficiais por uma maior radicalização, que se agravou quando Ernesto Geisel (1974–1979) propôs a abertura política e culminou no atentado ao Riocentro, em 1981, na gestão de João Figueiredo, o último presidente do período da ditadura.
"No governo [Fernando] Collor, os militares ficaram insatisfeitos porque ele extinguiu o SNI [Serviço Nacional de Informações] e porque ele fez uma política de contenção de gastos. Há uma transição no governo Itamar Franco, mas no governo Fernando Henrique há uma grande insatisfação militar porque ele, por exemplo, concedeu a pensão à viúva do [desertor e guerrilheiro Carlos] Lamarca, criou a Comissão de Mortos e Desaparecidos e conteve gastos."
26 de dezembro 2024, 17:00
Martins Filho enfatiza que essa insatisfação se manteve durante os dois primeiros mandatos de Lula, por conta da política de demarcações de terras indígenas, e no governo Dilma Rousseff, por conta da criação da Comissão Nacional da Verdade.
"Nenhum desses governos de centro-esquerda, Lula e Dilma, fizeram nada contra as Forças Armadas. Até pelo contrário, eles deram dinheiro para as Forças Armadas, mas havia insatisfação. Com a crise que vem a seguir, que resulta no impeachment, no golpe contra a Dilma, aí então chegou o apogeu, porque as Forças Armadas passaram a atuar também como uma caixa de ressonância da grande insatisfação da classe média com o que eles chamavam de a maior corrupção que o Brasil já teve. Então o único governo que eu conheço na República em que não houve insatisfação militar é o governo Bolsonaro."
Ele destaca dois fatores que considera mais importantes para entender a insatisfação dos militares com a terceira gestão de Lula, para além do corte de benefícios. O primeiro é o posicionamento da política externa do governo em relação a Israel, que militares consideram ideológico.
"Houve grande insatisfação entre os militares […] com a questão de Israel, que chegou próximo de o Brasil cancelar uma compra militar, o que para os militares é o cúmulo. E o segundo fator é a atuação da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal ao processar, prender, fazer buscas e apreensões contra generais, embora aí nós tenhamos que qualificar bem a coisa, [pois] generais como o Braga Netto e oficiais como o tenente-coronel [Mauro] Cid já eram dados como causa perdida, porque eles atacaram de forma extremamente desonesta os atuais comandantes e o chefe do Estado-Maior do Exército."
Ele descarta que uma eventual saída de Mucio possa agravar a tensão, afirmando que o ministro "já fez a tarefa dele", e diz acreditar que Lula, na segunda parte de seu mandato e se aproximando das eleições, não vai mudar a política de conciliação com as Forças Armadas.
"O impacto dessa tensão para a política de 2025 e de 2026 é controlado, porque Lula não vai querer adicionar a um momento já crítico, em que ele está preocupado principalmente com a economia, tensões com os militares, o que não resolve o problema, porque os militares foram muito próximos do governo Bolsonaro — alguns dizem até que eles eram o próprio governo Bolsonaro —, mas também porque não existe forma de acabar com a insatisfação dos militares brasileiros, isso é uma coisa que é histórica."
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