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Brasil quer expansão ordenada e institucionalização do BRICS, diz analista

© AP Photo / Maxim ShemetovO presidente russo Vladimir Putin, à esquerda, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, participam da cerimônia de boas-vindas antes de um jantar informal à margem da Cúpula do BRICS em Kazan
O presidente russo Vladimir Putin, à esquerda, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, participam da cerimônia de boas-vindas antes de um jantar informal à margem da Cúpula do BRICS em Kazan - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2025
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Presidência brasileira do BRICS é inaugurada com a entrada da Indonésia como membro pleno do grupo. Para analistas ouvidos pela Sputnik Brasil, Itamaraty terá agenda cheia para decantar as recentes ondas de expansão e definir regras internas do BRICS para 2025.
Nesta quinta-feira (9), o Ministério das Relações Exteriores da Rússia comemorou a entrada da Indonésia no BRICS na categoria de membro pleno. De acordo com a chancelaria, durante a presidência russa do BRICS, a Indonésia apresentou seu pedido formal de associação, atendendo aos critérios e padrões do bloco.

"A Indonésia compartilha os valores do BRICS, favorece a promoção da cooperação multilateral com base nos princípios de respeito mútuo, abertura, pragmatismo, solidariedade e consenso", declarou a diplomacia russa. "A adesão da Indonésia ao BRICS contribuirá para fortalecer ainda mais a autoridade da associação, a unidade consistente do Sul e do Leste Global para formar uma ordem mundial multipolar mais justa e equilibrada."

Anteriormente, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, na qualidade de presidente do BRICS para 2025, já havia anunciado a adesão da Indonésia ao grupo como membro pleno.
© Sputnik / Kirill ZykovO ministro das Relações Exteriores da Indonésia Sugiono chega à Cúpula do BRICS em Kazan, Rússia, 24 de outubro de 2024 (Kirill Zykov/Photo host brics-russia2024.ru via AP)
O ministro das Relações Exteriores da Indonésia Sugiono chega à Cúpula do BRICS em Kazan, Rússia, 24 de outubro de 2024 (Kirill Zykov/Photo host brics-russia2024.ru via AP) - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2025
O ministro das Relações Exteriores da Indonésia Sugiono chega à Cúpula do BRICS em Kazan, Rússia, 24 de outubro de 2024 (Kirill Zykov/Photo host brics-russia2024.ru via AP)
"O governo brasileiro saúda o governo indonésio por seu ingresso no BRICS. [...] A Indonésia partilha com os demais membros do grupo o apoio à reforma das instituições de governança global e contribui positivamente para o aprofundamento da cooperação do Sul Global, temas prioritários para a presidência brasileira do BRICS", versou o Itamaraty.
Ao contrário dos demais países que aderiram ao BRICS neste ano como membros associados, a Indonésia foi aceita no grupo como membro pleno. Portanto, Jacarta terá direito a voto e atuará em pé de igualdade com demais membros do bloco – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã.

"A Indonésia teve sua candidatura de ingresso aprovada em 2023, durante a Cúpula de Joanesburgo, mas recusou a entrada por motivos domésticos", disse à Sputnik Brasil o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Augusto Rinaldi. "Após mudança no governo do país em 2024, o novo presidente decidiu prosseguir com a adesão. Por isso, apesar da adesão tardia, a Indonésia foi aceita como membro pleno."

O ex-presidente da Indonésia, Joko Widodo, absteve-se de ingressar no BRICS em 2023, citando a necessidade de mais tempo para avaliar a decisão. Já o presidente eleito em 2024, Prabowo Subianto, adotou postura mais incisiva e aderiu seu país ao bloco.
© AP Photo / Achmad IbrahimO então presidente eleito da Indonésia, Prabowo Subianto, saúda os jornalistas em Jacarta, Indonésia, em abril de 2024 (foto de arquivo)
O então presidente eleito da Indonésia, Prabowo Subianto, saúda os jornalistas em Jacarta, Indonésia, em abril de 2024 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2025
O então presidente eleito da Indonésia, Prabowo Subianto, saúda os jornalistas em Jacarta, Indonésia, em abril de 2024 (foto de arquivo)
De acordo com a professora da PUC-Rio e pesquisadora do BRICS Policy Center Maria Elena Rodriguez, Subianto adota uma política externa com caráter universalista, com o intuito de expandir as alianças internacionais de Jacarta.

"Subianto enfatiza uma política externa ativa e livre para o seu país, trazendo elementos como a erradicação da pobreza para o debate", disse Rodriguez à Sputnik Brasil. "Ele diz claramente que a entrada do BRICS não significa a adesão da Indonésia a determinado campo, mas sim sua participação ativa em todos os foros internacionais, apoiando o multilateralismo."

De fato, o presidente Subiano aposta no multilateralismo para exercer sua política externa multivetorial. Além do BRICS, a Indonésia se candidatou para participar do bloco econômico Parceria Transatlântica, liderado pelo Japão, e almeja entrar na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
© Sputnik / Stanislav Krasilnikov Chefe do Escritório da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista e Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi (centro), cumprimenta o Ministro das Relações Exteriores da Indonésia Sugiono durante a 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, Rússia, 23 de outubro de 2024
Chefe do Escritório da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista e Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi (centro), cumprimenta o Ministro das Relações Exteriores da Indonésia Sugiono durante a 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, Rússia, 23 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2025
Chefe do Escritório da Comissão de Relações Exteriores do Comitê Central do Partido Comunista e Ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi (centro), cumprimenta o Ministro das Relações Exteriores da Indonésia Sugiono durante a 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, Rússia, 23 de outubro de 2024
"Reiteramos que o BRICS é uma plataforma importante para a Indonésia fortalecer a cooperação Sul-Sul e garantir que as vozes e aspirações dos países do Sul Global sejam bem representadas nos processos globais de tomada de decisão", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Indonésia, Rolliansyah Soemirat.
O presidente da China, Xi Jinping, cumprimenta o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia oficial de recepção do líder brasileiro em Pequim, em 14 de abril de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 06.01.2025
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A chancelaria indonésia também reiterou seu compromisso com agendas do BRICS relativas à resiliência econômica, colaboração tecnológica e saúde pública, informou a publicação chinesa Global Times.

Importância da Indonésia

A entrada da Indonésia no BRICS foi bem avaliada pelos analistas ouvidos pela Sputnik Brasil. O professor Rinaldi notou que a Indonésia é a maior economia do Sudeste Asiático e “alvo preferencial de investimentos por parte dos EUA, Japão e União Europeia”. Com população numerosa e jovem, a Indonésia ostenta crescimento de cerca de 5% ao ano na última década.

"A entrada da Indonésia no BRICS me parece ser relevante tanto para Jacarta – já que a coloca ao lado de atores centrais das relações internacionais atuais, como China, Rússia e Índia – quanto para o arranjo, pois expande seu alcance geográfico, traz mais um país com economia relevante e disposto a engrossar os desejos de reforma e atualização da ordem internacional atual", declarou Rinaldi.

O bom relacionamento da Indonésia tanto com potências ocidentais quanto com Rússia e China faz afastar a percepção do grupo como um divisor do sistema internacional em blocos, acredita a pesquisadora do BRICS Policy Center Rodriguez.
© AP Photo / Achmad IbrahimJovem indonésia visita o Museu do Tsunami, em Banda Aceh, Indonésia, sábado, 14 de dezembro de 2024
Jovem indonésia visita o Museu do Tsunami, em Banda Aceh, Indonésia, sábado, 14 de dezembro de 2024  - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2025
Jovem indonésia visita o Museu do Tsunami, em Banda Aceh, Indonésia, sábado, 14 de dezembro de 2024
"Além disso, a Indonésia tem um papel simbólico, por ter sido uma das líderes históricas do movimento anticolonial, patrocinando a realização da Conferência de Bandung em 1955", lembrou Rodriguez. "Esse elemento é muito relevante para o BRICS, um agrupamento que defende maior participação do Sul Global na governança global."

Expansão do BRICS

Além da entrada da Indonésia como membro pleno, o BRICS também recebe em suas fileiras mais oito países associados em 2025. Caberá à presidência brasileira integrar Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia e Uzbequistão às atividades do grupo e incluí-los em seus projetos internacionais.

"Penso que o BRICS precisa, antes de mais nada, decantar as duas rodadas de expansão do arranjo", acredita Rinaldi. "Será necessário debater a agenda do bloco [isto é, os temas que o BRICS abordará nos seus encontros], suas propostas [em termos de ações concretas] e tonalidade [se adotarão uma postura mais antiocidental ou reformista da ordem internacional]."

O ano de 2025 também será fundamental para identificar os parâmetros de participação dos países associados, definindo se poderão participar de todos os grupos de trabalho e se terão direito a voto, notou Rinaldi.
© Sputnik / Anatoly Medved Sherpa da Rússia nos BRICS, Sergei Rybakov, entrega enxada que simboliza a presidência do bloco ao sherpa do Brasil, embaixador Eduardo Sabóia, durante reunião em Ekaterinburgo, Rússia, 28 de novembro de 2024
Sherpa da Rússia nos BRICS, Sergei Rybakov, entrega enxada que simboliza a presidência do bloco ao sherpa do Brasil, embaixador Eduardo Sabóia, durante reunião em Ekaterinburgo, Rússia, 28 de novembro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2025
Sherpa da Rússia nos BRICS, Sergei Rybakov, entrega enxada que simboliza a presidência do bloco ao sherpa do Brasil, embaixador Eduardo Sabóia, durante reunião em Ekaterinburgo, Rússia, 28 de novembro de 2024
"Esse é um momento de muito trabalho interno para o BRICS. O Brasil não é contra a expansão do bloco, mas gostaria que o processo fosse mais consistente, previsível e transparente. Por isso o Brasil incluiu dentre os pontos de destaque da sua agenda para esse ano no BRICS a questão da institucionalização do bloco", explicou Rodriguez.
#525 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 06.01.2025
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Segundo ela, o processo de institucionalização terá como meta adotar mecanismos de monitoramento da implementação das metas do BRICS, além de colocar em debate questões fundamentais sobre a identidade e rumo do bloco.
© Stanislav Krasilnikov / Photohost agency brics-russia2024.ruMinistro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira (ao centro), durante a reunião estendida da cúpula de chefes de Estado do BRICS em Kazan. Rússia, 23 de outubro de 2024
Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira (ao centro), durante a reunião estendida da cúpula de chefes de Estado do BRICS em Kazan. Rússia, 23 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2025
Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira (ao centro), durante a reunião estendida da cúpula de chefes de Estado do BRICS em Kazan. Rússia, 23 de outubro de 2024
Apesar da agenda robusta prevista para 2025, o Brasil terá que dividir os seus esforços no BRICS com a realização de outros eventos internacionais, como a COP-30, a ser realizada em Belém do Pará no segundo semestre de 2025. Por isso, o Itamaraty apontou que concentrará as atividades do BRICS nos primeiros meses do ano.
"O Brasil está cheio de compromissos internacionais e talvez o BRICS fique em uma agenda intermediária", concedeu Rodriguez. "Mesmo assim, acho que o BRICS é muito importante, por ter uma agenda com a qual o Brasil se identifica e que é muito cara ao presidente Lula."
© Foto / Agência GovMarca foi desenvolvida para representar a presidência brasileira do Brics em 2025
Marca foi desenvolvida para representar a presidência brasileira do Brics em 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 10.01.2025
Marca foi desenvolvida para representar a presidência brasileira do Brics em 2025
Nesse contexto, a estratégia de Brasília será de incluir temas da COP-30, como sustentabilidade e mudanças climáticas, na agenda do BRICS. Para Rinaldi, é possível "trabalhar com as duas iniciativas em paralelo", já que "muitos líderes que estarão no Brasil no primeiro semestre para o encontro do BRICS também participarão da COP-30 em Belém do Pará".

"Acredito que a diplomacia brasileira vá dar à presidência rotativa do BRICS a mesma atenção que deu ao G20. O arranjo tem se consolidado como uma força geopolítica importante nas relações internacionais atuais e atuação é cada vez mais incontornável", concluiu Rinaldi.

A presidência brasileira do BRICS iniciou em janeiro e deve se estender oficialmente até o fim de 2025. Com o lema "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável", os temas centrais da liderança brasileira do grupo serão governança digital, inteligência artificial, reforma tributária internacional, entre outros. A Cúpula de Chefes de Estado do BRICS está prevista para ocorrer no mês de junho, na cidade do Rio de Janeiro.
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