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Se Milei rachar Mercosul, dividirá América do Sul em 2 polos liderados por EUA e China, crê analista
Se Milei rachar Mercosul, dividirá América do Sul em 2 polos liderados por EUA e China, crê analista
Sputnik Brasil
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas afirmam que a prioridade dada a Milei a um acordo bilateral com os EUA, em detrimento do Mercosul, não é uma decisão... 28.01.2025, Sputnik Brasil
2025-01-28T15:36-0300
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O presidente da Argentina, Javier Milei, ameaçou recentemente retirar o seu país do Mercosul caso a permanência no bloco impossibilite a assinatura de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. A ameaça foi feita em entrevista concedida à margem do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos, na Suíça.Milei afirmou que sua ideia é avançar no acordo, sem deixar o Mercosul, mas caso isso não seja possível, a prioridade será dos EUA.Esta não é a primeira vez que um membro do Mercosul pressiona por permissão para um acordo à margem do bloco. Desde 2023, o Uruguai tem uma demanda similar para um acordo de livre comércio com a China.Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam os impactos econômicos e geopolíticos que uma eventual saída da Argentina do Mercosul poderia ter para a América do Sul.Corival Alves do Carmo, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe (UFS), avalia que, em princípio, a saída da Argentina do Mercosul é pouco provável, uma vez que o bloco é mais importante para as exportações do país que os EUA e porque prejudicaria o comércio com o Brasil, maior parceiro comercial da Argentina.Mas em um cenário em que a saída da Argentina seja concretizada, Carmo afirma que seria o fim do Mercosul, como pensado nos anos 1980 e concretizado no Tratado de Assunção."No entanto, desde que os demais membros permaneçam, pode ser um caminho para revitalizar o bloco em torno do Brasil e, mesmo, incluir novos membros", observa.O analista aponta que a permanência da Argentina no Mercosul, com autorização para fechar um acordo bilateral com os EUA, também seria danosa porque levaria outros países do bloco a seguirem o exemplo. Nesse contexto, avalia Carmo, o Mercosul teria que buscar outro propósito, porque não seria mais um bloco comercial com pretensão de ser uma união aduaneira."O Mercosul deixaria de ter relevância, porque só uma pequena parte do comércio dos membros seria regulada pelas normas do Mercosul."Ele afirma que, com a liberação, a Argentina provavelmente seguiria o caminho de Chile e Peru e assinaria um acordo de livre comércio com a China e os EUA. No entanto, a medida traz riscos para a economia argentina.No recorte do Brasil, Carmo afirma que o país seria "o grande perdedor", já que os principais produtos brasileiros exportados para a Argentina "são manufaturados e podem ser substituídos pela produção chinesa e norte-americana".Apesar da negociação com a Argentina, é esperado que os EUA, agora sob a gestão de Donald Trump, adotem uma postura mais fechada e protecionista. Questionado se essa nova postura pode resultar no aumento da influência chinesa em países sul-americanos, Carmo afirma que a China pode ter algum aumento de influência política junto aos governos, mas com pouca margem de manobra.Eduardo Galvão, professor de políticas públicas do Ibmec DF e diretor da consultoria global Burson Brasil, frisa que a saída da Argentina do Mercosul "seria um duro golpe" político e econômico. Ele frisa que o país é um dos fundadores do Mercosul, o segundo maior mercado do bloco, atrás do Brasil, e uma peça-chave no comércio regional."Se a Argentina sair, o Mercosul perderia boa parte de sua força como um bloco coeso e integrado. Do ponto de vista econômico, essa saída mexeria com o comércio intrarregional. Tarifas e barreiras comerciais poderiam voltar, complicando o fluxo de mercadorias e impactando diretamente setores que dependem do mercado integrado, como o automotivo e o de alimentos. No fim das contas, quem sentiria o peso disso seriam as empresas e os consumidores", explica.Ele afirma que o impacto político seria ainda maior, pois abriria um "precedente perigoso", com outros membros questionando "se vale a pena ficar" no bloco. O especialista aponta que o risco de debandada é real e pode resultar na fragmentação do Mercosul, com perda de relevância internacional e da capacidade do bloco de negociar como grupo em mesas globais. Isso porque os países, isolados, teriam menos capacidade de pressionar potências maiores."Além disso, uma Argentina fora do Mercosul fortaleceria a influência de potências como os EUA e a China na região. Os EUA ganhariam com um parceiro direto como a Argentina, enquanto a China poderia aproveitar a fragilidade do bloco para ampliar seus acordos com outros países da América do Sul. No fim das contas, o Mercosul estaria deixando um vácuo que as grandes potências disputariam rapidamente. Por mais que Milei esteja priorizando um acordo com os EUA, essa decisão não é só técnica; é política. Ele quer atender aos interesses imediatos da Argentina, mas isso pode trazer problemas de longo prazo, tanto para o país quanto para o Mercosul."Como evitar a fragmentação do Mercosul?Galvão afirma que a rigidez atual do Mercosul é uma das razões pelas quais alguns países buscam saídas individuais.Segundo ele, se a liberação para negociações bilaterais no Mercosul avançar, a América do Sul pode acabar dividida em dois blocos de influência: de um lado, países como a Argentina, buscando acordos com os EUA; de outro, nações como o Uruguai e até o Brasil aprofundando relações com a China."Essa disputa colocaria o Brasil, maior economia da região, em uma posição delicada, forçando-o a mediar interesses divergentes entre potências globais e os objetivos do próprio Mercosul."Segundo ele, o que o Mercosul precisa é encontrar equilíbrio entre integração regional e liberdade para acordos bilaterais, a fim de evitar se "tornar obsoleto em um mundo cada vez mais dinâmico".
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américas, javier milei, donald trump, argentina, china, brasil, mercosul, fórum econômico mundial (wef), ied, sputnik brasil, rússia, bloco, acordos bilaterais, integração regional, eua, economia, exclusiva
Se Milei rachar Mercosul, dividirá América do Sul em 2 polos liderados por EUA e China, crê analista
15:36 28.01.2025 (atualizado: 16:11 28.01.2025) Especiais
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas afirmam que a prioridade dada a Milei a um acordo bilateral com os EUA, em detrimento do Mercosul, não é uma decisão apenas técnica, mas política, e criaria um vácuo de poder a ser preenchido pelas grandes potências, afetando o comércio intrarregional.
O presidente da Argentina, Javier Milei, ameaçou recentemente
retirar o seu país do Mercosul caso a permanência no bloco impossibilite a assinatura de um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. A ameaça foi feita em entrevista concedida à margem do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), em Davos, na Suíça.
Milei afirmou que sua ideia é avançar no acordo, sem deixar o Mercosul, mas caso isso não seja possível, a prioridade será dos EUA.
"Se as condições extremas exigirem, sim [deixaremos o Mercosul]. Mas há mecanismos que podem ser usados dentro do Mercosul, então achamos que isso pode ser feito sem necessariamente ter que abandonar o Mercosul", declarou ele.
Esta não é a primeira vez que um membro do Mercosul pressiona por permissão para um acordo à margem do bloco. Desde 2023,
o Uruguai tem uma demanda similar para um
acordo de livre comércio com a China.
Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam os impactos econômicos e geopolíticos que uma eventual saída da Argentina do Mercosul poderia ter para a América do Sul.
Corival Alves do Carmo, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Sergipe (UFS), avalia que, em princípio, a saída da Argentina do Mercosul é pouco provável, uma vez que o bloco é mais importante para as exportações do país que os EUA e porque prejudicaria o comércio com o Brasil, maior parceiro comercial da Argentina.
"Entre os grupos econômicos que apoiam Milei, há setores, cujo comércio com Brasil e o Investimento Estrangeiro Direto [IED], provenientes do Brasil [que] são relevantes e seriam prejudicados com a saída do Mercosul."
Mas em um cenário em que a saída da Argentina seja concretizada, Carmo afirma que seria o fim do Mercosul, como pensado nos anos 1980 e concretizado no Tratado de Assunção.
"No entanto, desde que os demais membros permaneçam, pode ser um caminho para revitalizar o bloco em torno do Brasil e, mesmo, incluir novos membros", observa.
O analista aponta que a permanência da Argentina no Mercosul, com autorização para fechar um acordo bilateral com os EUA, também seria danosa porque levaria outros países do bloco a seguirem o exemplo. Nesse contexto, avalia Carmo, o Mercosul teria que buscar outro propósito, porque não seria mais um bloco comercial com pretensão de ser uma união aduaneira.
"O Mercosul deixaria de ter relevância, porque só uma pequena parte do comércio dos membros seria regulada pelas normas do Mercosul."
Ele afirma que, com a liberação, a Argentina provavelmente seguiria o caminho de Chile e Peru e assinaria um acordo de livre comércio com a China e os EUA. No entanto, a medida traz riscos para a economia argentina.
"Em 2023 e 2024, pela ordem, Brasil, EUA e China foram os principais destinos das exportações argentinas. E os maiores déficits foram com China, Brasil e EUA. Nesse sentido, um acordo de livre comércio aprofundaria os déficits com China e EUA, e considerando a estrutura produtiva de cada país, é pouco provável que no curto prazo a Argentina pudesse substituir importações provenientes da China por importações provenientes dos EUA."
No recorte do Brasil, Carmo afirma que o país seria "o grande perdedor", já que os principais produtos brasileiros exportados para a Argentina "são manufaturados e podem ser substituídos pela produção chinesa e norte-americana".
Apesar da negociação com a Argentina, é esperado que os EUA,
agora sob a gestão de Donald Trump, adotem uma postura mais fechada e protecionista. Questionado se essa nova postura pode resultar no aumento da influência chinesa em países sul-americanos, Carmo afirma que
a China pode ter algum aumento de influência política junto aos governos, mas com pouca margem de manobra.
"A margem de manobra, do ponto de vista político, é menor, porque o olhar dos grupos dominantes e das sociedades na América do Sul está voltado para os EUA, para Miami, Nova York, Disney, Hollywood. O agronegócio brasileiro adora fazer negócios com a China, mas com seus ganhos compram casas em Miami."
Eduardo Galvão, professor de políticas públicas do Ibmec DF e diretor da consultoria global Burson Brasil, frisa que a saída da Argentina do Mercosul "seria um duro golpe" político e econômico. Ele frisa que o país é um dos fundadores do Mercosul, o segundo maior mercado do bloco, atrás do Brasil, e uma peça-chave no comércio regional.
"Se a Argentina sair, o Mercosul perderia boa parte de sua força como um bloco coeso e integrado. Do ponto de vista econômico, essa saída mexeria com o comércio intrarregional. Tarifas e barreiras comerciais poderiam voltar, complicando o fluxo de mercadorias e impactando diretamente setores que dependem do mercado integrado, como o automotivo e o de alimentos. No fim das contas, quem sentiria o peso disso seriam as empresas e os consumidores", explica.
Ele afirma que o impacto político seria ainda maior, pois abriria um "precedente perigoso", com outros membros questionando "se vale a pena ficar" no bloco. O especialista aponta que o risco de debandada é real e pode resultar na fragmentação do Mercosul, com perda de relevância internacional e da capacidade do bloco de negociar como grupo em mesas globais. Isso porque os países, isolados, teriam menos capacidade de pressionar potências maiores.
"Além disso, uma Argentina fora do Mercosul fortaleceria a influência de potências como os EUA e a China na região. Os EUA ganhariam com um parceiro direto como a Argentina, enquanto a China poderia aproveitar a fragilidade do bloco para ampliar seus acordos com outros países da América do Sul. No fim das contas, o Mercosul estaria deixando um vácuo que as grandes potências disputariam rapidamente. Por mais que Milei esteja priorizando um acordo com os EUA, essa decisão não é só técnica; é política. Ele quer atender aos interesses imediatos da Argentina, mas isso pode trazer problemas de longo prazo, tanto para o país quanto para o Mercosul."
Como evitar a fragmentação do Mercosul?
Galvão afirma que a rigidez atual do Mercosul é uma das razões pelas quais alguns países buscam saídas individuais.
"É como um time de futebol, onde os jogadores querem brilhar sozinhos porque sentem que o coletivo não funciona. A solução pode estar em modernizar as regras do bloco, criando um equilíbrio entre flexibilidade e integração. Permitir negociações bilaterais controladas, enquanto mantêm os benefícios de um mercado regional integrado, pode ser a chave para preservar a relevância do Mercosul sem comprometer os interesses nacionais", afirma.
Segundo ele, se a liberação para negociações bilaterais no Mercosul avançar, a América do Sul pode acabar dividida em dois blocos de influência: de um lado, países como a Argentina, buscando acordos com os EUA; de outro, nações como o Uruguai e até o Brasil aprofundando relações com a China.
"Essa disputa colocaria o Brasil, maior economia da região, em uma posição delicada, forçando-o a mediar interesses divergentes entre potências globais e os objetivos do próprio Mercosul."
Segundo ele, o que o Mercosul precisa é encontrar equilíbrio entre integração regional e liberdade para acordos bilaterais, a fim de evitar se "tornar obsoleto em um mundo cada vez mais dinâmico".
"O ponto é que o Mercosul precisa repensar como funciona. Talvez a solução esteja em encontrar um meio-termo: permitir que seus membros negociem bilateralmente em certas situações, mas ainda garantindo os benefícios da integração regional. Um modelo mais flexível poderia ser uma forma de evitar crises e manter o Mercosul relevante. O que está em jogo aqui é muito mais do que acordos individuais. Trata-se de preservar a ideia de integração regional em um contexto global onde cooperação é cada vez mais importante. Se o Mercosul não se adaptar, pode acabar perdendo relevância e se fragmentando."
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