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'A distância entre nós diminuiu': Argentina ganha fôlego na disputa com o Brasil por investidores

© Foto / Twitter / ReproduçãoLula e Milei - montagem
Lula e Milei - montagem - Sputnik Brasil, 1920, 05.02.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, analistas apontam que a ação do governo Javier Milei de cortar impostos do setor automobilístico dá um sinal positivo ao mercado, em um momento que a economia brasileira está estagnada, o que reduz a vantagem do Brasil na competitividade com o país vizinho.
No final de janeiro, a Argentina anunciou a redução de impostos para o setor automobilístico, em uma tentativa de estimular a economia do país.
O anúncio foi feito pelo ministro da Economia argentino, Luis Caputo, que informou que carros de luxo e elétricos terão impostos reduzidos ou eliminados, a depender do valor. Veículos que custarem entre US$ 39 mil (cerca de R$ 225 mil) e US$ 71 mil (cerca de R$ 409 mil) terão impostos zerados. Já aqueles com valores superiores a isso terão os impostos cortados pela metade, caindo de 39% para 18%. Com a mudança o valor da venda dos veículos cairá entre 15% e 20%.
As medidas começaram a valer em fevereiro e a expectativa é que aumentem a procura dos consumidores, aquecendo a economia argentina. A notícia foi celebrada por montadoras como a Ford, que anunciou a redução dos preços para o consumidor final.
Em paralelo, no Brasil, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva empregou esforços para atrair montadoras e para a retomada de fábricas, tendo, inclusive, inaugurado uma fábrica da montadora chinesa GWM International, em Iracemápolis, São Paulo, com um investimento de R$ 10 bilhões e a previsão de criação de mais de 700 empregos diretos.
A Sputnik Brasil conversou com analistas que explicam como a medida tomada pelo governo argentino pode impactar a economia brasileira e os planos do governo Lula para estimular o setor automobilístico.
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Para Roberto Uebel, economista e professor de relações internacionais da ESPM, a medida é uma tentativa do governo do presidente argentino, Javier Milei, de implementar uma política de reindustrialização da Argentina, da mesma forma que Lula busca fazer no Brasil.

"Assim como o Brasil, a Argentina tem sofrido muito com o processo de desindustrialização, que causou perda de empregos, transferências de plantéis industriais para outros países da região, inclusive, como o próprio Uruguai, o Paraguai, o Chile, México. Então tem essa questão da tentativa de reindustrialização de um país que hoje sofre com essas consequências de uma desindustrialização", afirma Uebel.

Ele aponta que somado à desindustrialização ainda há o custo Argentina, que impede investimentos externos diretos em um quantitativo que possibilitaria a retomada total da política industrial do país, que ele afirma estar no horizonte de Milei.
"Então a gente tem que olhar muito esse cenário das expectativas que conflituam com o cenário macroeconômico real argentino e também o cenário competitivo da região da América Latina", explica o especialista.
Segundo Uebel, as montadoras vão celebrar porque entendem que a Argentina é um país barato de se produzir, apesar do custo Argentina envolvido. No entanto, ele não considera haver risco de uma migração das montadoras do Brasil para a Argentina, principalmente aquelas que se consolidaram no país nos últimos anos, inclusive as chinesas.
"Porque isso envolve um custo elevado, um custo operacional, um custo de contratação e treinamento de novos funcionários, de adequação às normas do país, que são normas diferentes. Então isso acarretaria um custo que não seria respondido, não encontraria uma resposta no benefício. Então acho que esse risco não corre."
Uebel afirma que o risco atual é a Argentina se tornar competitiva em relação ao Brasil na atração de novos investimentos e novas montadoras. Segundo ele, a medida do governo Milei não anula os esforços de Lula para a retomada do setor automobilístico, mas é algo que o presidente brasileiro deve ficar atento, até mesmo porque isso traz questões também ao Mercosul.
"Se existisse uma aproximação política entre Brasil e Argentina, uma sintonia de agendas, isso possibilitaria, por exemplo, que parte da produção fosse realizada no lado argentino e outra parte no lado brasileiro, como acontece em vários países, como acontecia na América do Norte durante o NAFTA [Tratado Norte-Americano de Livre Comércio], como acontece na União Europeia, em outros setores, como acontece na própria região da ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático]. No Mercosul hoje isso encontra entraves em virtude desse distanciamento político e ideológico entre os dois governos. Então é importante que o governo brasileiro esteja com essa questão no radar, para, enfim, realizar ações a fim de continuar mantendo o país atrativo e competitivo."
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Juliana Inhasz, professora e coordenadora do curso de graduação em economia do Insper, afirma que a redução de impostos acarretará a redução dos preços, e que os automóveis zero quilômetro já iniciaram fevereiro mais baratos. Segundo ela, embora isso desestimule a compra de carros brasileiros na Argentina, o Brasil "nunca vendeu muita coisa para eles nesse sentido".
"Ainda existe, claro, um custo elevado de importação, então a primeira tentação que a gente tem é de dizer 'Ah, o custo lá está menor, as pessoas vão comprar carros argentinos a partir de agora'. Isso não é necessariamente verdade, porque os impostos de importação continuam elevados, então ainda que o produto lá esteja mais barato, até 20% mais barato, como há alguns analistas dizendo que esse vai ser o resultado, o fato é que continua caro importar o produto", explica a especialista.
Entretanto, ela frisa que ainda que a medida não cause um grande impacto na venda de carros do Brasil, ela "abre uma porta importante" para a Argentina, em um momento que a economia brasileira "anda de lado".
"Tem efeitos que são indiretos, que é o fato de que essas medidas visam aumentar a atratividade econômica da economia argentina, fazer a economia crescer, fazer a economia voltar a ter dinamismo, então isso tudo deve impulsionar a economia argentina no momento em que a economia brasileira continua bem parada, andando de lado, sem grandes progressos, inclusive em pautas que são importantíssimas para a gente, como é o caso da reforma tributária, de uma reforma administrativa."
Outro efeito, aponta Inhasz, é o fato de que a economia argentina deve começar a crescer, e crescer forte, frente a um país como o Brasil, que hoje está estagnado.
"Isso faz com que a moeda argentina, que já tem conseguido acumular valor nos últimos períodos, ganhe mais valor ainda. Isso vai fazer com que o real fique menos valorizado proporcionalmente, e todo o pacote de consequências que vem junto com isso", afirma.
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Ela descarta que possa haver um movimento em massa de montadoras deixando o Brasil, apesar de aparentemente estar mais rentável produzir lá do que aqui.
"A questão é que para as montadoras migrarem, elas têm que fazer a seguinte conta, ainda mais se elas pretenderem continuar vendendo para o mercado brasileiro, que é o quanto custa produzir fora, frente a quanto custa mandar depois o produto para cá. Porque a gente está falando aí, querendo ou não, de uma movimentação de produtos finalizados em um país que serão comercializados em outro. As tarifas para importação, elas continuam elevadas aqui no Brasil. Então, me parece que talvez não faça tanto sentido um movimento tão em massa. Mas que isso vai gerar pressões e aí, em cenários específicos, pode fazer, sim, com que algumas montadoras mudem, eu não tenho dúvida disso."
Segundo Inhasz, a economia brasileira se encontra "meio que parada", com crescimento obtido através de gastos públicos, o que ela aponta ser "um tipo de medida que tem prazo de validade". Em contraponto, a economia argentina "conseguiu sair de um belo de um buraco, e agora começa a caminhar a passos um pouco mais largos em direção a um crescimento econômico mais sólido".
"Então, frente a eles, a gente está perdendo nessa história, relativamente a gente está perdendo. Eles ainda não são uma economia estável, então eles ainda estão longe da gente, mas é relativamente mais perto do que no começo do ano passado. A distância entre nós e eles diminuiu"
Nesse contexto, ela aponta que a Argentina sinaliza ao mercado um dinamismo econômico maior que o do Brasil, o que faz com que investidores olhem para o país de uma forma diferente.
"Certamente vários investidores estão olhando para a Argentina e entendendo que apesar dos pesares pode ser um bom lugar para investir. Acho que esse ponto é um ponto importante para entender que não é que os esforços se anulam, mas esse cenário atual na economia argentina, aliado a um cenário de crescimento econômico, pode, sim, dificultar um aproveitamento melhor do Brasil dentro desse setor", conclui a especialista.
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