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'Pelo grito e pela vontade': como será a política de Trump para o Oriente Médio?

© AP Photo / Evan VucciO rei saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, presenteia o presidente dos EUA, Donald Trump, com a mais alta honraria civil, o colar de Abdulaziz Al Saud, no Palácio da Corte Real, em Riad, Arábia Saudita, em 20 de maio de 2017
O rei saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, presenteia o presidente dos EUA, Donald Trump, com a mais alta honraria civil, o colar de Abdulaziz Al Saud, no Palácio da Corte Real, em Riad, Arábia Saudita, em 20 de maio de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 10.02.2025
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Retornando à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump se depara com um desafio um tanto quanto novo para seu governo: o Oriente Médio. A região, no foco da política externa norte-americana há décadas, está em um contexto completamente diferente daquele deixado por Trump há quatro anos.
Antes mesmo de assumir, Trump demonstrou que colocaria o Oriente Médio como um dos principais pontos de interesse de seu governo. O líder norte-americano tomou para sua gestão os créditos pelo estabelecimento de um cessar-fogo entre Israel e o movimento palestino Hamas, atuante na Faixa de Gaza.
A prioridade para a região também ficou aparente nos primeiros diálogos de Trump com líderes de governos estrangeiros. Sua primeira ligação foi para Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, enquanto Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, foi o primeiro governante a ser recebido na Casa Branca.
A preocupação de Trump com o tema, e com angariar vitórias na região, não é de agora. Em seu mandato anterior, a primeira visita internacional feita pelo presidente estadunidense foi justamente a Riad.
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Como foi a relação de Trump com o Oriente Médio?

Durante seu primeiro mandato (2017–2021), Trump reformulou a política norte-americana no Oriente Médio. Desde George W. Bush, os Estados Unidos ficaram conhecidos por suas intervenções militares na região, que se intensificaram durante o governo de Barack Obama.
"Trump iniciou o processo de retirada do Afeganistão e se posicionou contra as intervenções na Líbia, na Síria, no Iraque… Enfim, ele era contra as guerras do Obama, que continuaram a doutrina Bush da guerra ao terror", explica à Sputnik Brasil o professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Bruno Huberman.
No lugar das ações militares, Trump "utilizou outras estratégias", diz Huberman, como acordos diplomáticos e comerciais — entre eles os Acordos de Abraão, que normalizaram as relações diplomáticas de Israel com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein — e a aprovação da venda de armas para a Arábia Saudita.
Ao mesmo tempo, o então presidente norte-americano agiu duramente contra o Irã — considerado o principal rival dos EUA na região —, com o endurecimento de sanções e até o assassinato do major-general Qassem Soleimani, líder da Força Quds, unidade de elite do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês).

"Ou seja, Trump fortaleceu essa mudança de poder na geopolítica do Oriente Médio."

Um outro Oriente Médio

A política de Trump foi continuada pelo ex-presidente Joe Biden, inclusive com tentativas de aproximação diplomática entre a Arábia Saudita e Israel. No entanto, o reino da Casa de Saud mantém como condição fundamental para a normalização das relações o reconhecimento de um Estado palestino.
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A necessidade foi reiterada recentemente por Mohammad bin Salman, que também é governador interino da nação saudita, ao rechaçar a proposta de Trump de criar uma riviera no território da Faixa da Gaza, expulsando os palestinos da região.
O Oriente Médio que Trump deixou quatro anos atrás é muito diferente do que ele encontra hoje. E muito em parte devido ao ataque palestino de 7 de outubro, destaca Huberman.
"Traz uma limitação para essa ampliação das relações políticas e comerciais israelenses no Oriente Médio. As mobilizações populares em prol dos palestinos limitam as ações dos governantes, incluindo Egito, Jordânia e Arábia Saudita."

"Então o Oriente Médio que o Trump encara hoje é outro Oriente Médio. Um Oriente Médio mais hostil aos Estados Unidos e a Israel."

Esta, contudo, não é a única diferença que Trump encontra. Se por um lado o conflito interno na Síria se resolveu, abrindo caminho para uma liderança mais alinhada aos interesses norte-americanos, por outro, a região viu a consolidação do Ansar Allah, movimento também conhecido como Houthi, no governo do Iêmen.
Mas a grande surpresa na região foi a normalização das relações entre a Arábia Saudita e o Irã, através da mediação da China. Esse fato, por si só, já é de grande relevância para a região, mas ele revela ainda outros fatores novos no arranjo geopolítico do Oriente Médio: o aumento da presença chinesa e russa, o que dá mais liberdade para os atores se posicionarem de maneira independente.
É o caso da própria Arábia Saudita, segunda principal aliada dos Estados Unidos no Oriente Médio, diz Huberman:

"É uma Arábia Saudita mais autônoma, que tem uma relação muito próxima com China, com a Rússia, faz parte dos BRICS e assim por diante."

Como Trump vai agir?

Pouco tempo se passou desde que Trump retornou à presidência norte-americana, no entanto, o líder da Casa Branca já fala em remover os palestinos da Faixa de Gaza e promover a construção de uma riviera no lugar, aproveitando a região costeira para gerar renda turística.
"Esse plano não é novo. Faz parte do processo de colonização proposto pelo Estado israelense nesse momento", diz Lucas Leite, professor doutor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT/INEU), à Sputnik Brasil.
"O governo e até empreiteiras israelenses já propunham justamente ocupar muitas dessas faixas de território com novos programas de habitação e empreendimentos imobiliários", lembra. "Então não há tanta diferença entre o que um e outro fala."
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"A diferença foi justamente o jogo de palavras, a forma como Donald Trump colocou, que praticamente assumiu de forma pública que o que Israel faz com conivência dos Estados Unidos é uma limpeza étnica."
A fala de Trump foi extremamente mal recebida pelos líderes da região, desde países que não reconhecem a soberania israelense, como Arábia Saudita, à Jordânia, que normalizou os laços com Tel Aviv em 1994.
Diante de velhos desafios em uma região completamente diferente, resta saber o que Trump fará para conquistar novas vitórias no Oriente Médio. Um modelo do novo modus operandi de Washington pode ser visto nas relações com outros países.
Desde que assumiu, Trump tem ameaçado vários países com tarifas alfandegárias, desde aliados como a União Europeia, rivais geopolíticos como a China, seus vizinhos Canadá e México.
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Neste último caso, as tarifas foram suspensas por um mês após negociações dos corpos diplomáticos. "Na verdade, já havia negociações anteriormente que foram retomadas e resolvidas sem problema nenhum", ressalta Leite.
Para o especialista em política externa norte-americana, essa tática de negociação faz parte da bravata de Trump, que "sai vitorioso sem que nada mudasse efetivamente".

"Ele sai como alguém que é bom negociador, que mostra que os EUA conseguem tudo que querem pelo grito e pela vontade."

No caso do Oriente Médio, no entanto, há um grande fator limitante para esse tipo de articulação do "latido e da gritaria", afirma o analista: a capacidade empírica.
"O limite dessa tática é a capacidade de ação, cuja dos Estados Unidos é cada vez mais questionável frente ao mundo em que nós vivemos", diz Leite.
Acostumados a um mundo unipolar do começo do século, em que eles mandavam e desmandavam, hoje os norte-americanos devem aprender a navegar uma nova realidade, com novos atores capazes de influenciar o tabuleiro global.

"Os Estados Unidos são uma superpotência, mas não estão sozinhos."

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