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Análise: com adesão à OPEP+, Brasil se coloca à disposição para cooperar e mantém margem de manobra

© Foto / Tauan Alencar / MMEO ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na sede da bolsa de valores brasileira B3, em São Paulo (SP), em maio de 2024
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na sede da bolsa de valores brasileira B3, em São Paulo (SP), em maio de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 18.02.2025
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O governo brasileiro anunciou, nesta terça-feira (18), sua adesão ao fórum da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+), que dialoga sobre questões relacionadas à produção e comercialização do petróleo no mundo.
Contudo, a decisão não implica um ingresso formal na organização, mas sim uma participação no espaço de discussões promovido, sem compromissos obrigatórios de cortes ou ajustes na produção do combustível.
O fórum da OPEP+ reúne países produtores de petróleo e tem como principal objetivo a troca de informações e o estabelecimento de parâmetros para o mercado global da commodity. No entanto o Brasil, que já figura como uma nação petroleira, optou por não se comprometer com a política de controle de produção imposta pelo grupo de países. Brasília tem se mostrado reticente a firmar alianças rígidas que possam prejudicar sua autonomia nas relações comerciais.
À Sputnik Brasil, Elton Gomes, doutor em ciência política e professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), destacou que essa adesão ao fórum não representa uma mudança na política externa brasileira, que historicamente busca manter sua margem de manobra e relações comerciais diversificadas.

"Não significa que o Brasil vai integrar a organização. Não é do histórico da política externa brasileira fazer comprometimentos muito severos, alianças que impliquem você ter um lado muito claro e reduzam sua margem de manobra em termos de política comercial", sublinhou.

Segundo ele, a adesão pode trazer benefícios como a estabilidade dos preços do petróleo e acesso a mercados internacionais, além de uma maior cooperação técnica com outros países produtores.

"Fazer parte do fórum é dizer que é amigo. Dizer que é amigo, se colocar à disposição para cooperar, participar de reuniões, se apresentar como membro observador, se oferecer bons ofícios diplomáticos… Isso, sim, é coerente com a política externa brasileira, que está presente em um sem número de organizações."

Diga-se de passagem, prossegue o especialista, o Brasil é sócio fundador e membro dos principais regimes de organizações internacionais em funcionamento do mundo. "A diferença é que são mecanismos multilaterais [mais] extensos."
Sede da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) em Viena, Áustria - Sputnik Brasil, 1920, 03.02.2025
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Dúvidas e críticas sobre promessas dúbias

Por outro lado, a adesão ao fórum da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados também levanta questões internas e externas sobre os rumos da política energética do Brasil. O governo federal, que recentemente tem demonstrado interesse em utilizar os recursos do petróleo para acelerar a transição energética global, enfrenta críticas e divergências internas sobre o impacto ambiental dessa estratégia.
"Existem divergências sobre a adesão do Brasil à OPEP+ que são significativas, que poderiam representar, de alguma maneira, uma queda de braço dentro do governo Lula. […] Aí é questão de ideologia do partido do governo, do Partido dos Trabalhadores. Uma parte importante do Partido dos Trabalhadores se coloca do ponto de vista do ambientalismo. Você tem a ministra Marina Silva, outros atores políticos importantes que poderiam perceber a adesão à OPEP+ como um contrassenso à agenda do governo", comentou.
Segundo Gomes, uma das plataformas que ajudaram o governo atual a voltar ao poder foi justamente mostrar as dificuldades, as falhas na gestão ambiental do governo anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Se você, enquanto governo, se associa com uma organização que está comprometida com a produção de combustível poluente, isso pode trazer um demérito", argumentou.

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"A adesão do Brasil a qualquer instância da OPEP é mais um sinal de retrocesso do governo. Continuar a abrir novas áreas de exploração de [combustíveis] fósseis em meio ao calorão que estamos sentindo, ao aumento de eventos extremos em toda parte do planeta, denota negacionismo e indica que escolhemos soluções do passado frente a um enorme desafio do presente e do futuro", disparou a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo.

Segundo ela, usar recursos de plataformas já em operação para financiar a transição energética "faz todo sentido. Intensificar […] o uso de fósseis para uma demanda que precisa urgentemente cair é como fazer uma guerra alegando buscar a paz".

A questão da transição energética no Brasil, que ainda enfrenta desafios tecnológicos e culturais, é vista com ceticismo por muitos, relembrou o analista.
A transição para fontes de energia mais sustentáveis, como solar e eólica, é um objetivo, ainda distante de ser uma realidade em grande escala no país, principalmente devido a questões econômicas e de infraestrutura, ponderou.
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