- Sputnik Brasil, 1920
Panorama internacional
Notícias sobre eventos de todo o mundo. Siga informado sobre tudo o que se passa em diferentes regiões do planeta.

Não são apenas os cartéis: os EUA vendem armas para o México 'como se fossem doces'

© AP Photo / Matt RourkeArmas de origem duvidosa são exibidas pelas autoridades dos EUA em Norristown, Pensilvânia, em 22 de fevereiro de 2023
Armas de origem duvidosa são exibidas pelas autoridades dos EUA em Norristown, Pensilvânia, em 22 de fevereiro de 2023 - Sputnik Brasil, 1920, 19.02.2025
Nos siga no
O Departamento de Estado dos EUA classificou nesta quarta-feira (19) o cartel de Sinaloa, o cartel Jalisco Nova Geração e outros grupos criminosos como "organizações terroristas estrangeiras".
De acordo com o texto, esses grupos "representam um risco para a segurança nacional, a política externa e os interesses econômicos dos Estados Unidos". Com isso, a medida abre margem para que o México amplie a ação judicial contra os fabricantes e vendedores de armas em território estadunidense.
O Escritório de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos (ATF, em inglês) admitiu recentemente que 74% das armas recuperadas em território mexicano vieram dos estados do Texas, Arizona e Califórnia.
"Como ficam as fabricantes e distribuidoras diante do decreto?", questionou a presidente do México, Claudia Sheinbaum, em 14 de fevereiro, ao destacar que as empresas de fabricação e distribuição de armas dos EUA poderiam ser consideradas até mesmo "cúmplices" do crime organizado mexicano.
Dados fornecidos por uma pesquisa da universidade norte-americana George Washington revelou que, apenas em quatro estados dos EUA — Arizona, Califórnia, Texas e Novo México, todos eles fronteiriços com o México — há mais de 9 mil estabelecimentos que vendem armas, sendo que grande parte delas são de alto poder de fogo.
O documento Avaliação Nacional sobre o Comércio e Tráfico de Armas de Fogo (NFCTA) mostra que quase a totalidade do armamento traficado dos Estados Unidos para o México acaba em territórios onde os cartéis mexicanos, como o de Sinaloa ou o Jalisco Nova Geração, têm forte presença.
"As lojas de armas têm um lucro bastante alto", destacou o analista mexicano e consultor em segurança José Alberto Guerrero Baena, em entrevista à Sputnik. Ele ressaltou que, com base nos dados oficiais fornecidos pelos EUA, as lojas de armas desempenham papel fundamental no mecanismo do crime organizado no México.
Outro aspecto destacado pelo especialista é que nos EUA se permite um comércio livre de armas, que acabam nas mãos do crime organizado, sem a necessidade de intermediários.
A regulamentação flexível tem gerado enorme fluxo de armas dos EUA para o México, alertou a especialista independente Montserrat Martínez Téllez, integrante do Forum On The Arms Trade, em entrevista à Sputnik.

"Não é o mesmo querer comprar uma arma em Nova York do que no Arizona, isso é importante destacar. É verdade que não há controle: uma vez que uma arma é comprada, não se sabe ao certo onde vai parar, não há investigações prévias nem como rastreá-la", concluiu.

A presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, em coletiva de imprensa - Sputnik Brasil, 1920, 13.02.2025
Panorama internacional
México exige que EUA combatam tráfico de drogas e armas: 'Lá também há crime organizado'
Um estudo da organização não governamental (ONG) Stop US Arms To Mexico, publicado em 2024, afirma que a violência armada no México aumentou devido ao fim da proibição federal de armas de assalto nos Estados Unidos em 2004 e a declaração da guerra contra as drogas no México em 2007.
Segundo o relatório, realizado entre 2010 e 2012, estimava-se que 253 mil armas de fogo sejam traficadas dos Estados Unidos para o México anualmente. No entanto, a ONG ressalta que, em 2022, a produção e importação de armas de fogo nos Estados Unidos duplicou, o que sugere que o número atual pode ser muito maior.
O analista Guerrero Baena afirma que, embora também exista um mercado negro de armas no México, no país latino-americano há muitas mais restrições para obter armamento de alto impacto.
"A Sedena [Secretaría de la Defensa Nacional] não vai te vender armas em grande quantidade, enquanto as lojas de armas dos Estados Unidos te enviam armas como se fossem doces. Além disso, as lojas de armas têm lucros bastante altos com isso", observou.
De acordo com dados de um relatório da Associação Comercial da Indústria de Armas de Fogo dos EUA, a indústria gerou mais de US$ 90 bilhões (cerca de R$ 515 bilhões) em atividade econômica apenas em 2023.
Desde o governo de López Obrador, o México interpôs uma ação judicial contra lojas de armas estadunidenses com o objetivo de frear armas ilegais provenientes dos EUA. A primeira ação foi rejeitada, mas a segunda ainda está em andamento.
"As armas que os réus traficam para o México incluem rifles de atirador de elite calibre 50, rifles que podem derrubar helicópteros e penetrar veículos blindados leves e vidros à prova de balas; rifles de assalto AK-47 e AR-15", afirma a ação do governo mexicano.
Para Baena, essa ação tem caráter mais político e serve para chamar a atenção internacional para o problema e pressionar os EUA a adotar medidas mais rigorosas no controle de armas. No entanto, o especialista ressalta que o processo é complexo e enfrenta resistência significativa de políticos envolvidos na indústria de armas nos Estados Unidos.

"Tem sido um processo jurídico bastante longo, além disso, nos EUA, na época em que a ação foi interposta, havia um governo democrata. E embora os partidos políticos nos Estados Unidos não se diferenciem muito em sua ideologia em relação ao tema das armas, porque no final das contas têm que proteger os interesses estadunidenses, o fato é que muitos dos empresários do setor armamentista financiaram até mesmo a campanha de Donald Trump", disse o especialista.

Sobre o assunto, a analista Montserrat Martínez Téllez ponderou que a segunda ação judicial interposta pelo governo do México contra as lojas de armas é útil para estabelecer um precedente.

"Poderia ser o primeiro passo para que haja uma regulamentação sobre o tema", destacou. "Eu acho que ninguém imaginou que esse assunto avançaria tanto e chegaria a essa esfera."

Em outubro de 2024, a Corte Suprema dos Estados Unidos aceitou os argumentos do fabricante de armas Smith & Wesson e do atacadista de armas Interstate Arms, que buscam rejeitar a ação do México, que os acusa de facilitar o tráfico ilegal de armas de fogo, as quais acabam nas mãos dos cartéis de drogas mexicanos, como argumenta o país latino-americano. Os juízes aceitaram um recurso das duas empresas contra a decisão de um tribunal inferior que se recusou a descartar a demanda do México.
Logo da emissora Sputnik - Sputnik Brasil
Acompanhe as notícias que a grande mídia não mostra!

Siga a Sputnik Brasil e tenha acesso a conteúdos exclusivos no nosso canal no Telegram.

Já que a Sputnik está bloqueada em alguns países, por aqui você consegue baixar o nosso aplicativo para celular (somente para Android).

Feed de notícias
0
Para participar da discussão
inicie sessão ou cadastre-se
loader
Bate-papos
Заголовок открываемого материала