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Bolsonaro está inelegível, e apoio de líderes estrangeiros não vai mudar isso, notam analistas

© AP Photo / Eraldo PeresJair Bolsonaro chega para um almoço com senadores de sua base de apoio, no prédio do Congresso, em Brasília (DF). Brasil, 18 de fevereiro de 2025
Jair Bolsonaro chega para um almoço com senadores de sua base de apoio, no prédio do Congresso, em Brasília (DF). Brasil, 18 de fevereiro de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 27.02.2025
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas analisam as tentativas de Jair Bolsonaro e aliados de buscar apoio de líderes da direita internacional para fortalecer suas chances de candidatura às eleições de 2026.
A denúncia contra Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado em 2022, apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), causou turbulência e racha na base da direita no Brasil.
Algumas lideranças defendem a busca por um nome alternativo para disputar as eleições de 2026. Outras saíram em defesa do ex-presidente, acusando a PGR e o Judiciário brasileiro de tentarem matar politicamente Bolsonaro, e insistem em manter o ex-presidente como nome da direita para 2026. Para estes, uma das principais estratégias é envolver líderes estrangeiros na defesa de Bolsonaro, ecoando a retórica de perseguição política. Para isso, apostam no apoio dos presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Argentina, Javier Milei.
O ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro fala à imprensa do lado de fora de sua casa, depois que agentes da Polícia Federal cumpriram um mandado de busca e apreensão em Brasília, em 3 de maio de 2023 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 20.02.2025
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Marcus Ianoni, professor de ciência política da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirma que "Bolsonaro está inelegível, e nada indica que isso vai mudar", e avalia que a sinalização de que o julgamento pode ocorrer ainda neste ano vai impactar no bolsonarismo, "desestimulando uma parte da massa de eleitores e estimulando os mais radicais".
"Qualquer candidato ligado ao bolsonarismo precisará, acima de tudo, convencer os eleitores. Políticos de outros países, como é o caso de Trump e de outros líderes da extrema-direita, podem, pelas redes sociais, tentar levantar o moral da extrema-direita brasileira, podem também financiar ONGs que divulgam ideias da extrema-direita. Não acho que qualquer candidato de direita ou de esquerda possa se fortalecer apenas pelo fato de um grande nome internacional apoiá-lo. A vitória eleitoral depende de um conjunto de variáveis."
Ianoni não considera que a estratégia bolsonarista de acusar o Judiciário brasileiro de censura será eficaz, uma vez que está em curso desde que Bolsonaro estava na presidência, sem obter resultado.

"Não acho que essas acusações podem ser bem-sucedidas. Elas vêm sendo feitas desde o mandato de Bolsonaro, e o processo contra ele está avançando."

Ele destaca que a direita radical atualmente é parte de um movimento internacional, com bases sobretudo nas Américas e na Europa, com organizações internacionais como o grupo O Movimento, liderado por Steve Bannon. Porém não considera que esse movimento tem poder suficiente para interferir na Justiça brasileira.
"A Justiça no Brasil tem autonomia e não tem se dobrado às redes sociais estrangeiras, nem se dobraria a líderes internacionais", afirma o analista.
Bruno Lima Rocha, jornalista, cientista político e professor de relações internacionais, avalia que a capacidade de ingerência real de um poder externo na Justiça brasileira não é grande.

"O que, sim, pode acontecer é que, com a manipulação de redes sociais, como o X já vem fazendo, mas também a disputa contra empresas de mídia dos EUA, como o Rumble ou a Trump Media, isso pode aumentar o clima de engajamento de uma parcela do bolsonarismo. Mas se não tem uma operação bem-feita de lawfare, como foi a Lava Jato, com presença do FBI, com espionagem, ou seja, se o chamado deep state [Estado profundo] dos EUA não entra de cabeça, dificilmente vai ter uma condição mais prejudicada. A PGR já fez a denúncia, acho que não tem volta atrás, não", afirma.

Ele enfatiza que há um conjunto probatório gigantesco na denúncia da PGR que torna a prisão dos denunciados, entre eles, Jair Bolsonaro, inevitável em algum momento.
"Se for neste ano [a prisão], já organiza a eleição do ano que vem. Qual seria um estado de comoção nacional? O julgamento ser em 2026, como o de Lula foi, em 2018: [Bolsonaro] ficar preso, aí vai para [a tentativa de obter] o habeas corpus e vai ter aquela confusão toda. Só que a diferença é que vai ser de mobilização de rua, não tem mais a pressão das Forças Armadas para dar um golpe de Estado, não tem a presença do FBI para dar um golpe de Estado, não tem tanta pressão externa para isso. Até a base evangélica está rachada."
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Em relação ao apoio de Javier Milei, que recentemente, sem apresentar provas, defendeu a tese de que Bolsonaro foi vítima de uma fraude eleitoral, Rocha destaca que o presidente argentino não tem apoio dos meios de comunicação de seu país para repercutir sua tese e está envolto no escândalo do Criptogate, no qual é acusado de promover uma criptomoeda cuja cotação despencou em poucas horas, causando perdas milionárias a milhares de pessoas.

"Ou seja, a possibilidade de o aparelho de comunicação [argentino], de o exército de trolls [como são chamados os ataques com bots nas redes] de Milei entrar em ação por Jair Bolsonaro, pelo menos neste primeiro semestre, é muito difícil. Não quer dizer que não possa entrar em outro semestre, com um novo rearranjo de poder na Argentina, mas no momento é muito complicado", explica.

Além de tentar se associar à direita dos EUA e da Argentina, a oposição também tenta estreitar laços com a direita alemã, celebrando o resultado alcançado pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) nas eleições para o parlamento do país. Logo após ser anunciado que a AfD havia ficado em segundo lugar no pleito, o melhor desempenho já obtido pelo partido, o deputado federal Eduardo Bolsonaro celebrou o resultado nas redes sociais.
Rocha, no entanto, descarta que possa haver alguma aproximação entre o AfD e o bolsonarismo, e frisa que "a principal motivação da extrema-direita europeia hoje é a islamofobia".
"Isso está longe de ser uma adesão trumpista [por parte da Alemanha], está longe de ser um apoio do premiê alemão a Bolsonaro. […] O premiê alemão declarou que Javier Milei é uma vergonha, é um golpista financeiro, que a Alemanha não tem nada a ver com isso. Ou seja, tem uma dimensão muito mais complexa do que aquilo que circula nas redes sociais."
O analista afirma que, no momento, a aposta mais eficiente para o bolsonarismo seria uma chapa tendo Michelle Bolsonaro como vice-presidente, embora seja cético quanto à possibilidade de a família Bolsonaro aceitar essa configuração.

"Não acredito que a família assim o permita, mas Michelle Bolsonaro é o grande trunfo político do bolsonarismo, e aí precisaria arriscar a reeleição de Tarcísio de Freitas [para governador] em São Paulo, que é dada como certa. E aí já prejudicaria o arranjo de poder, de ter poder em todos os lados, do PSD de Gilberto Kassab. Mas se Tarcísio se arrisca a concorrer à eleição e Michelle vai de vice, segundo turno vai dar, e aí tudo pode acontecer. Eu não acredito hoje que Tarcísio se arrisque, mas a política é muito dinâmica", conclui Rocha.

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